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Perfil Popular | Juliana: a educação em todas as lutas

Nova coordenadora geral do Sismuc forjou-se nas lutas da educação, sindicais, antirracistas e de juventude

Curitiba (PR) |
A pedagoga e professora de educação infantil Juliana Mildemberg é a nova coordenadora geral do Sismuc - Foto: Giorgia Prates

Juliana Mildemberg, 32, pedagoga e professora de educação infantil do Cmei Santa Rita, no bairro Tatuquara, hoje é a nova coordenadora geral do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Curitiba, o Sismuc.

Conhecido pelo envolvimento em lutas pela qualidade do setor público, em especial na Saúde e Educação, o sindicato é o segundo maior de funcionários municipais do Brasil.

O envolvimento de Juliana com o front sindical iniciou-se quase dez anos atrás, como ela recorda, ao final da greve de dois dias de novembro de 2013, das então trabalhadoras dos Cmeis, em busca de valorização, de um Plano de Carreira e até de uma identidade própria, uma vez que o segmento era depreciado no senso comum como “cuidadoras” e não como parte de um projeto de ensino.

Durante a greve, o grupo de Juliana esteve ativo na luta e passou a se aproximar do sindicato. “A greve foi finalizada de uma maneira que não nos agradou, faltou muita coisa, então fomos conversar na sede do sindicato, nos dividimos e formamos um grupo técnico que nos ajudou depois”, lembra.

A construção do Plano de Carreira

Em março de 2014, nova greve de cinco dias, massiva e marcante, das mesmas educadoras balançou a gestão de Gustavo Fruet (PDT) e permitiu o início da conquista do Plano de Carreira e de vários itens para quatro mil professoras de educação infantil, que passaram a ser reconhecidas por esta nomenclatura.

A gestão municipal foi obrigada a incorporar o grupo técnico nas negociações do Plano, o que foi uma verdadeira aula para toda a geração de Juliana. Afinal, nada veio sem combates. A própria formação de Juliana e outras servidoras foi resultado de parceria da Prefeitura com instituições de ensino em EaD.

A chamada “onda amarela”, em referência à camiseta adotada pelas servidoras, configurou-se como um movimento importante dentro da categoria. Mais tarde, impactado pelas políticas nacionais de teto dos gastos e cortes nas aposentadorias iniciadas no governo de Michel Temer (2016), o movimento entrou em crise.

“Sentimos o golpe de 2016, um refluxo na própria categoria. Em 2016, Fruet não finaliza o enquadramento completo do Plano de Carreiras, houve um congelamento, aliado ao refluxo político nacional”, pondera, o que acabou tirando força e trazendo divisões para dentro do movimento, avalia.

Greca e o fechamento de canais de negociação

Logo depois, a gestão de Rafael Greca (DEM), em 2017 fecharia portas e canais com o sindicato, abriria a violência e o gás lacrimogêneo no lugar da negociação. E gora a nova gestão sindical tem um desafio para conseguir novas conquistas.

“São três anos sem conquistas. E agora temos que trazer o plano nacional de educação para a educação infantil e revogar as mudanças na previdência”, elenca Juliana.

Experiência sindical e luta antirracista

Enquanto mulher negra, para a qual o Sismuc em específico tem o histórico de uma diretoria com representatividade, Juliana defende que envolver a juventude e as mulheres negras ainda é uma grave lacuna no sindicalismo de forma geral.

“Há dificuldade de representação enquanto juventude e enquanto mulher negra, mas dada a nossa experiência de luta, a categoria queria algo novo, devido à nossa construção. Isso sem deixar de valorizar as fundadoras do sindicato, que deram sua vida para o Sismuc”, afirma Juliana, reforçando também o seu caráter de coordenadora geral, cujas decisões são coletivas.

O sindicalismo gerou politização e experiências para Mildemberg, caso do curso feito em Turim, na Itália, em encontro da juventude sindical, por meio da Central Única dos Trabalhadores (CUT), na Organização Internacional do Trabalho (OIT), onde conheceu jovens dirigentes de países como Chile, Colômbia e Bolívia.

“Ter ido à Cuba também me trouxe uma mudança de pensamento, de que há um embargo econômico e que o povo resiste com suas próprias possibilidades, que é possível investir em educação”, complementa.

Edição: Lia Bianchini