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Perfil Popular | Esta mulher é um país

Vida de Ilma Lucia é marcada pela participação comunitária e cuidado com as crianças

Curitiba (PR) |
Vida de Ilma Lucia é marcada pela participação comunitária e cuidado com as crianças - Pedro Carrano

Ilma Lucia juntou-se à ocupação hoje conhecida como Canaã, no bairro Novo Mundo, em Curitiba, logo no começo de tudo, nos idos de 1991, para sair da casa dos pais do falecido marido com os quais viviam de favor, na vila São Jorge.

Uma história comum a tantos trabalhadores da época. Eram tempos de ocupação no local conhecido hoje pelo nome de bolsão Formosa, graças ao rio de mesmo nome que atravessa a região, e onde foram brotando as comunidades Formosa, Leão, Ferrovila, ao lado das já existentes vilas Maria e Uberlândia.

A Canaã, em especial, exigiu muito pulso dos moradores no início, uma vez que o local era, literalmente, um banhado, que foi sendo urbanizado pelos próprios moradores, com drenagem, asfalto e postes de luz. “Esta rua foi aberta na base da enxada”, conta. Prefeitura e Cohab se apresentariam no local apenas anos mais tarde.

Este foi o contexto onde Ilma refinou sua participação na organização popular. “Sempre gostei de reunião, da escola, da creche, em que participo”, conta, ressaltando que nunca fez parte da diretoria da associação de moradores, embora sempre foi daquelas integrantes da “base” que ajuda em todos os eventos, sobretudo quando é necessário o seu trabalho de cozinheira.

Operária

Hoje trabalhando em casa, cozinhando, cuidando dos quatro netos e de outras crianças de vizinhos, Ilma foi operária por três anos da fábrica de botões Diamantina Fossanese, então maior produtora de botões da América Latina, “Uma das melhoras da região para trabalhar”, recorda.

A empresa nacional, porém, a exemplo de várias plantas na região, virou massa falida no começo dos anos 2000, e foi transformada em cooperativa pelos trabalhadores. Anos mais tarde, eles chegaram a ser despejados com violência pela patronal, em 2006, quando Ilma já não trabalhava na fábrica. Mas, anteriormente, mesmo as festas de final de semana da empresa contavam com a presença e organização dela.

Cuidado com as crianças no país da fome

Sorriso sempre largo, junto com o apoio à associação de moradores, Ilma e a filha, Fabíola, uma entre três filhos, tem um histórico de trabalho de atenção às crianças da região, por meio da Pastoral da Criança.

Em um país hoje marcado pela fome e desemprego, elas ajudam no acompanhamento do peso e alimentação das crianças, muitas vezes tirando dinheiro do próprio bolso para o apoio na compra de alimentos. No país, onde 9,1 milhões de crianças, de 0 a 14 anos, estão em situação domiciliar de extrema pobreza de acordo com a Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e onde cerca de 20 milhões no atual período passam fome.

“Não podemos deixar faltar para os outros, é mais forte do que nós”, confessa Ilma, recordando também das inúmeras vezes em que a rua sem saída onde vivem foi fechada para as ações comunitárias, caso dos enfeites de Natal e outras datas.

Essa trabalhadora comemora a reabertura da associação depois do período mais grave da pandemia de covid-19, e já participou de eventos culturais, dia das crianças, e pastelada. “Queremos fazer acontecer, gerar benfeitoria para a comunidade, desde os tempos que nós construímos um poço pra comunidade acessar a água”, recorda.

Edição: Lia Bianchini