A edição 235 do Brasil de Fato Paraná é um especial sobre os perigos que as notícias falsas (fake news) representam para a vida dos brasileiros. A reportagem acompanhou grupos antivacina abertos aplicativo de mensagens instantâneas Telegram por algumas semanas. Abaixo confira o teor dessas conversas, relatos de pessoas que morreram sem vacina ou usaram o “tratamento precoce” e o que dizem especialistas.
Dr. Zelenko e a cloroquina
Num dos grupos acompanhados pelo BdF-PR, é citado vídeo de entrevista em inglês de um tal de Dr. Zelenko, que recomendaria uso de Zinco, Cloroquina e Ivermectina.
Segundo o projeto Comprova, publicado na Folha de S.Paulo, “O estudo feito por Zelenko não tem comprovação científica, não foi publicado em nenhum periódico médico e a única evidência de sua existência são as declarações do próprio autor da suposta pesquisa.”
Dizem que vacinas causaram mortes
Segundo a plataforma Boatos.org, muitas mensagens em grupos antivacina, como as mostradas abaixo, dizem que a Anvisa tem alertado para milhares de mortes por conta da imunização.
Segundo o site, são usados dados errados de uma plataforma que existe para relatar reações adversas, não mortes. E conclui: “Anvisa não alertou que vacinas contra Covid-19 têm mais de mil mortes e também divulgou dados sobre os efeitos adversos das vacinas. A mensagem não passa de mais um boato da coletânea dos grupos antivacinas.”
Magnetização e tentáculos
Outras mensagens nos grupos antivacina atribuem aos imunizantes efeitos danosos como “magnetizar a pessoa” ou mesmo que nas vacinas são achados corpos estranhos como tentáculos.
Segundo o imunologista Renato Kfouri, da Sociedade Brasileira de Imunizações, “não há qualquer componente magnético na composição das vacinas, e que não é fisicamente possível criar um campo magnético no corpo ao ser imunizado... Todas as vacinas disponíveis no mundo, e as quatro disponíveis aqui no Brasil, têm em comum a alta segurança. São vacinas extremamente seguras, não relacionadas a efeitos colaterais graves”, afirmou ao site Poder360.
Como combater a desinformação
A professora do Departamento de Comunicação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Michele Massuchin, coordena projeto que estuda desinformação e diz que são vários os fatores que impactaram negativamente.
“Hoje existe uma enorme quantidade de informações controversas sobre a pandemia, medicamentos, vacinas etc. O que dificultou ainda mais para que as pessoas tomassem suas decisões, por exemplo, quanto à prevenção. Consequentemente as dúvidas ou mesmo a crença em notícias falsas prejudicou, por exemplo, a adesão destas pessoas às campanhas de prevenção,” explicou.
Ao receber uma notícia, diz Michele, a maioria das pessoas não discrimina se é falsa ou não. “Esses conteúdos geralmente circulam num formato muito similar às notícias, levando às pessoas darem inicialmente credibilidade. Além disso, trazem o que chamamos a 'força da experiência', com relatos de pessoas que teriam vivenciado aquilo, aumentando a confiança”, analisou a professora.
Questionada sobre como se combate a epidemia da desinformação, Michele defende que, principalmente, haja uma cobrança de um posicionamento das plataformas como Facebook, Youtube e Instagram. “É importante que haja posicionamento claro para impedir a circulação desse tipo de conteúdo, que é falso, e, outro ponto, é a retomada do diálogo das instituições como universidades, por exemplo, com o cidadão no intuito de fazê-lo entender como se dá o fluxo de informações”, disse.
Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini