Paraná

Especial Fake News

Situação de famílias piora nas periferias por conta da crise econômica e de notícias falsas

Fake news prometem benefícios em grupos de moradores de bairros empobrecidos de Curitiba

Curitiba (PR) |
Famílias têm dificuldade para morar e pagar alimentação na atual crise - Foto: Giorgia Prates

Inflação acumulada no ano em mais de 10%, reajustes diários no valor do combustível e gás de cozinha, desemprego, volta da fome. Essas são algumas das imensas dificuldades que os brasileiros estão enfrentando na crise sanitária e econômica, com o aprofundamento da pandemia em 2021.

Na dificuldade, quem precisa sustentar a família agarra-se a qualquer esperança. E nos bairros mais empobrecidos de Curitiba circulam diversas notícias falsas com supostos programas do governo federal, como "auxílio gás", "aumento do auxílio emergencial", promessas de acesso a cesta básica e valores irreais de um novo Bolsa Família. Essas são algumas das fake news que têm pipocado em grupos de WhatsApp.

Juliana Santos Moro, moradora da Vila Formosa, Novo Mundo, conta que a situação econômica das famílias na comunidade piorou muito neste ano e muitos acabam caindo em notícias falsas de auxílio ou ajuda governamental. "Têm aparecido propostas como vale gás, auxílio novo, Bolsa Família com valor maior", conta.

Juliana é catadora de recicláveis e voluntária da associação de moradores da região e diz que tenta alertar os moradores para que não acreditem nas mensagens. “Aqui na região tem muito mais de 300 pessoas no cadastro das associações, aí alguém vê na internet e compartilha. Quando vemos que não procede, já avisamos. Mas é bem complicado, porque tem gente que tá na esperança de conseguir gás, verdura, cesta básica, ou pegar algum auxílio do governo”, diz.

No próprio site do governo federal há alguns alertas para notícias falsas, como a de “ajuda mensal de R$ 200 para trabalhadores autônomos e pessoas de baixa renda para combater a pandemia do novo coronavírus”, ou programas como “a criação de um auxílio gás, por intermédio do Ministério da Cidadania”, visando auxiliar as famílias em meio à pandemia. Obviamente, essas notícias são falsas.

O único projeto nesse sentido é dos deputados federais Bohn Gass e Paulo Teixeira, do PT. O PL 1922/2020, que dispõe sobre auxílio emergencial para compra de gás durante a pandemia, proposto no ano passado, atualmente está parado na mesa diretora da Câmara dos Deputados, sem previsão de ser votado.

Gente que perdeu a casa

Com o fim do auxílio emergencial de 600 reais, a situação de diversas famílias brasileiras ficou dramática. Juliana Santos conta que, na Vila Formosa, tudo piorou com o fim do auxílio e o aumento da inflação. "Aumentou bastante o número de pessoas desempregadas, com dívidas. Teve gente que perdeu a casa de aluguel, tem famílias que tiveram de ir catar recicláveis, e até família que foi morar dentro do carro. É muito triste", revela.

Diante da difícil situação, um ano antes do processo eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou, nas últimas semanas, a alteração do Bolsa Família para o novo "Auxílio Brasil", que aumentaria o benefício para 400 reais mensais, por um ano. A medida, de acordo com analistas, furaria o teto de gastos, o que causou demissão em massa no gabinete do Ministro da Economia, Paulo Guedes.

Perguntada se o valor ajudaria as famílias da Vila Formosa, Juliana foi taxativa: "Sabemos que não, né, se viesse os 400 e os preços estivessem mais baixos, amenizaria ao menos entre uma coisa e outra."

Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini