Paraná

Eleições municipais

Vanhoni elogia candidatura de Ducci e não descarta Dartora e Freitas como nomes do PT para prefeitura em 2024

Em entrevista, o vereador e presidente do PT de Curitiba analisou o cenário eleitoral para as esquerdas em 2024

Curitiba (PR) |
Para Vanhoni, as possibilidades estão em aberto, e o partido tem que alargar o campo democrático - Foto: Carlos Costa/CMC

Ex-candidato a prefeitura de Curitiba por três eleições (1996, 2000 e 2004), o atual vereador e presidente municipal do PT em Curitiba, Angelo Vanhoni, conversou com a reportagem do Brasil de Fato Paraná e analisou o cenário político pré-eleitoral, diante dos nomes que vêm se apresentando para a sucessão de Rafael Greca (PSD).

Mesmo a um ano da campanha, o cenário vem se aquecendo na capital paranaense, envolvendo todas as matizes políticas e ideológicas interessadas na disputa. Com o fim da gestão de Greca na prefeitura de Curitiba, abre-se espaço para uma corrida mais pulverizada.

Enquanto na direita nomes como os dos deputados federais Ney Leprevost (União) e Paulo Martins (PL), e do vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD) vêm sendo levantados, no campo progressista existe uma grande indefinição de quem será o nome para 2024. Luciano Ducci (PSB) já manifestou o interesse de ser o nome de uma grande frente de partidos com o apoio do PT e de Lula. O deputado estadual Goura (PDT) também busca se consolidar para ser o nome desta frente. Internamente, o PT debate em um grupo de trabalho com a participação de parlamentares qual será a tática que a direção do partido irá apresentar para suas bases e para os movimentos sociais. Para Vanhoni, as possibilidades estão em aberto, e o partido tem que alargar o campo democrático.

Confira a entrevista:

Brasil de Fato: Falta quase um ano para a abertura das eleições municipais, mas as forças políticas já estão se movimentando para a sucessão de Rafael Greca. Como tem sido os debates internos dentro do Partido dos Trabalhadores sobre as opções de alianças e candidaturas?

Sim, acredito que todas as forças políticas da cidade de Curitiba e das outras cidades no Brasil já começaram a discutir as eleições do ano que vem, em que teremos eleições para prefeito e para vereadores. Para nós, elas acontecem em um momento importante para o país, uma vez que estamos em um período de reafirmar os conceitos da Democracia e da vida democrática na nação. Aqui em Curitiba, não será diferente.

É certo que nós somos oposição à administração do Rafael Greca, somos oposição também no Governo do Estado, em um cenário que acreditamos que, tanto o Ratinho [Junior, governador], quanto o Rafael deverão ter uma candidatura para disputar a Prefeitura de Curitiba.

Em nosso campo, Esquerda e Centro-Esquerda, nós ainda estamos construindo: o PT abriu essa discussão, oficialmente, no interior do partido no último dia 14 [de agosto], fizemos uma reunião da Executiva Municipal, com a presença de diversos parlamentares (Tadeu Veneri, Arilson Chiorato, Requião Filho, Renato Freitas, Ana Júlia e representantes dos mandatos das vereadoras Giorgia Prates, Professora Josete e da deputada federal Carol Dartora). Foi uma boa conversa!

Nesta reunião, discutimos as duas possibilidades: a possibilidade de que o PT articule um campo político com os outros partidos que compõem a Federação, na criação de uma ampla aliança, e também a possibilidade de uma candidatura em que o PT seja cabeça de chapa, apresentando um nome para todos os outros partidos, que tenha viabilidade eleitoral e que possa também representar essa grande Frente.

Entretanto, na Reunião da Executiva, encaminhamos a construção de um Grupo de Trabalho Eleitoral, em que uma coletiva deve acompanhar e sistematizar os diálogos sobre a construção dessa disputa. Receber as pessoas do PT que apresentaram interesse em ser candidatos à Prefeitura, bem como aqueles e aquelas que têm interesse em propor uma aliança.

Nós achamos que vamos construir uma unidade muito forte dentro do PT, em torno desta orientação e não vejo clima dentro do partido para muita disputa ou brigas. Acredito que, se tivermos um pouco de paciência, construiremos uma perspectiva que possa unir todas as correntes de dentro do nosso partido.

Estamos trabalhando com este quadro e devemos prosseguir em discussão até o final do mês de setembro e começo de outubro, para então tirar uma definição. Sem dúvidas, do ponto de vista da estratégia eleitoral, queremos ter essa definição do âmbito partidário o quanto antes.

Existe um movimento de frente ampla de centro esquerda em torno da candidatura de Luciano Ducci, ex-prefeito, que deseja agora ter o apoio do presidente Lula. Ducci é um político que integrou o campo da direita tradicional no passado. Como você avalia essa possível articulação de apoio a Ducci? Existe espaço para o PT apoiar outro candidato à prefeitura?

Essa é a possibilidade que está colocada para governar o nossa cidade. Agora, se nós vamos apoiar a candidatura do Luciano Ducci no 1º turno ou vamos ter um candidato ou uma candidata, esta é uma definição e uma discussão que o conjunto do PT está amadurecendo.

Eu, particularmente, vejo a candidatura do Luciano Ducci como uma boa candidatura, que se descola do grupo político do Rafael Greca e do Ratinho Jr., e que, em sua medida, se acolhe no nosso campo, dentro do que nós chamamos de Frente Ampla, democrática, para enfrentar o bolsonarismo. Eu não vejo problemas nisso.

Assim como há o deputado Goura e a vereadora Maria Letícia, grandes nomes do campo democrático, que se colocaram como pré-candidatos à Prefeitura de Curitiba. Também são nomes a se considerar e que trazem consigo um projeto popular para a cidade.

O PT tem uma militância muito aguerrida, tem um momento histórico aqui na cidade de Curitiba, de grande afirmação do nosso partido. Ampliamos nossa bancada na Câmara Municipal e elegemos uma boa bancada de deputados estaduais e deputados federais.

Estamos muito animados, cientes de que a possibilidade de apresentarmos um nome para a cidade de Curitiba também está colocada. Então, o PT poderá decidir e esta será uma discussão muito rica dentro do Partido, pois além da definição de um nome, esse debate também gera a construção do projeto político que queremos executar para construir uma cidade mais humana. 

Nomes como o da deputada federal Carol Dartora e do deputado estadual Renato Freitas têm sido levantados para a disputa como nome do PT. Você visualiza que exista a possibilidade do PT lançar um ou outro para prefeitura?

Com certeza, possibilidade sempre há!

A Carol é o novo, inusitado na política, não? A Carol, no último período, se elegeu vereadora e deputada federal com uma votação expressiva em nossa cidade, assumindo as suas bandeiras de luta: ela é uma mulher negra, feminista, defensora dos direitos humanos, dos direitos das pessoas que mais sofrem e traz consigo a marca do Partido dos Trabalhadores. Vem exercendo um mandato muito brilhante e tem acompanhado a política a nível nacional, sem abandonar as lutas que ocorrem no dia a dia da cidade de Curitiba.

Também temos o Renato Freitas, que é um fenômeno, do ponto de vista da luta política, da perspectiva da gente vencer essa sociedade da violência e do desrespeito. O amor às pessoas que mais precisam, a dedicação do Renato em amparar a juventude, a população periférica, população mais vulnerável, população negra… O Renato carrega consigo, em cada fala, cada palavra, o programa de emancipação que o PT sempre defendeu, desde o início de sua história. Apresenta para nós uma forma diferente e legítima de se fazer política com e para o povo.

Então, eu não vejo nenhum óbice, ambos são grandes nomes dentro do PT e na política da cidade, não há nenhum problema em o PT escolher um desses candidatos para representar nosso programa para a cidade de Curitiba.

Estamos cientes de que Curitiba não tem “só” o racismo para enfrentar, Curitiba tem diversos problemas. A falta de políticas públicas para a população em situação de rua, falta de moradia, a questão do transporte coletivo - que é uma problemática na vida da nossa cidade, uma vez que proíbe as pessoas de acessarem a cidade como um patrimônio seu, em razão do alto custo da passagem.

Então, veja bem, a pauta de uma candidatura nossa, como a do Renato ou da Dartora, transcende e se relaciona, ao mesmo tempo, com as questões ligadas à luta contra o racismo estrutural. Logo, se qualquer um dos dois for nosso representante, com certeza, essa será a marca da nossa campanha.

Esta será uma eleição em que Rafael Greca — que tem ampla aprovação, de acordo com as pesquisas — poderá fazer um sucessor. Nomes como Eduardo Pimentel e até Ney Leprevost são levantados para ser o candidato governista. Na sua visão, qual seria o melhor caminho para o campo popular progressista tentar quebrar o ciclo da direita na Prefeitura de Curitiba?

Eu acredito que a candidatura do PT, ou a candidatura que o PT estiver junto, deve ter como centralidade o alargamento da Democracia e dos valores democráticos. Veja, quando eu digo valores democráticos, falo em razão da questão que está colocada no Brasil: nosso partido e os partidos de esquerda e centro-esquerda têm que ter como centralidade o combate ao que significou as visões políticas e de sociedade que culminaram no bolsonarismo, no pessoal da Lava-Jato e que possui centralidade na cidade de Curitiba.

Precisamos ir e estar nas periferias, defender os interesses da maioria do nosso povo, que vive em situação de vulnerabilidade. Construir um programa de governo que também coloque a periferia no centro do debate político. Precisamos fazer uma boa discussão sobre qual o papel da Prefeitura nesse processo… Bom, fazer essa disputa de uma maneira forte, firme, com potência e sem medo de dizer as coisas que nós acreditamos.

Nós só vamos nos consolidar como alternativa democrática se afirmarmos com radicalidade o que é ser democrático na vida moderna.

Greca tem levado a cabo um modelo de cidade que na propaganda respeita o meio ambiente, a cultura e a moradia popular. Mas o cenário da cidade é de gargalos sérios nos serviços públicos e déficit habitacional. Com o seu tempo agora na Câmara de Vereadores, quais pautas importantes devem ser levantadas pelo campo popular e pelo PT sobre a gestão Greca em Curitiba?

O Greca está certo em falar sobre cultura, veja bem… o Greca tem todo o direito de pensar desta maneira, uma vez que a Prefeitura tem ações nesse sentido, na questão ambiental, na questão de moradia e também na cultura. Todavia, nossa visão não é a mesma do Greca. É isso que precisamos afirmar ao abrir o debate com o conjunto da população.

Há muito o que ser feito, do ponto de vista ambiental: o cuidado, respeito, restauro do meio-ambiente é um processo de educação ambiental permanente. Curitiba já abriu mão há muito tempo de querer ter um rio completamente limpo, por exemplo. Abriu mão de ter a cidade de Curitiba como um exemplo de ação humana para reverter um dano que nós causamos à natureza, seja por resíduos industriais ou por resíduos domésticos. Então, nós temos muito o que fazer do ponto de vista ambiental, sobretudo para construir uma cidade que realmente respeite a natureza e tenha uma vida sustentável.

No que trata de cultura, eu acho que a Prefeitura de Curitiba conseguiu conservar, se nós repararmos em relação a outras cidades do Brasil, alguns equipamentos culturais. E recentemente teve a inauguração de um Teatro na Vila Nossa Senhora da Luz, no CIC [bairro Cidade Industrial de Curitiba], que é um equipamento que está disponível para nossa população da região Sul da cidade. Mas cá entre nós, não há uma política cultural vigente na cidade de Curitiba, há uma política de eventos, onde os espaços estão tomados por datas comemorativas, seja no âmbito municipal, estadual ou nacional, não existe uma política cultural.

O PT tem uma visão de política cultural diferente do que é praticado hoje. Nós temos uma visão centrada na política cultural de que a própria comunidade possa se expressar. Então, nossas ações na política cultural vão muito mais em direção à formação, do ponto de vista musical, da dança, das artes plásticas, da poesia, cinema, das técnicas digitais (as pessoas, hoje, possuem o desafio de se expressar artisticamente, através dos meios digitais, de seus celulares). Temos ideia de construir, a partir da Prefeitura, Núcleos Digitais periféricos, onde a juventude possa inovar na utilização consciente das tecnologias, câmeras, edição, produção de texto, tudo que possuem na palma de suas mãos, por meio de seus celulares. Nós temos um potencial criativo, que a maioria da população não tem acesso, não conhece, acaba ficando apenas nas mãos de grandes especialistas.

Eu recebo, com muita satisfação, tudo que a Prefeitura de Curitiba fez até o momento, mas nós queremos ir adiante. Nós temos uma estrada muito longa pela frente, para garantir que, em Curitiba, as pessoas da 3ª idade e todas as idades, pessoas com deficiência, se sintam felizes, tenham acesso e saibam que pertencem ao bairro, à comunidade, à cidade.

Para concluir, nossa vida é para ser uma vida em comunidade, daí a noção de família. A noção de família se alarga para a comunidade, no espaço ao seu redor. Muitas vezes, hoje, nós estamos em um movimento contrário: ninguém quer falar com o seu vizinho, não tem vida comunitária, estão procurando refúgio da vida comunitária onde? Apenas nas igrejas, na religiosidade. Mas a cidade, do ponto de vista cívico, público, também precisa exercer esse papel de comunidade. Por isso defendemos o acesso à cidade, cultura, lazer, saúde, bem-estar, como política pública para todas as pessoas.

Neste sentido, a grande crítica à administração do Rafael Greca e de todos os antecessores é de que não há uma política que tenha como centralidade a vida do ser humano em comunidade, tendo como vetor a garantia da dignidade e o bem-viver da população.

Edição: Lia Bianchini