Paraná

Cartas na mesa

Candidatos de oposição já se movimentam pela prefeitura de Curitiba

Faltando mais de um ano para eleições, bastidores já estão quentes

Curitiba |
Candidatos de oposição se movimentam nos bastidores por Prefeitura de Curitiba - Design: Vanda Moraes

Em 2024, acabará o reinado de oito anos de Rafael Greca à frente da Prefeitura de Curitiba. E há grande movimentação na oposição ao atual prefeito. Nomes como a deputada federal Carol Dartora (PT) e o deputado estadual Goura Nataraj (PDT) já anunciaram a intenção de disputar. O ex-prefeito de Curitiba e deputado federal Luciano Ducci também deseja ser candidato com o apoio de Lula. Já a principal corrente do PSOL no estado deseja prévias para que partidos e organizações de esquerda defendam um nome unitário.
Para entender melhor esse cenário, o Brasil de Fato Paraná conversou com alguns dos pré-candidatos e forças políticas progressistas de oposição a Greca. Em uma pesquisa divulgada nesta semana pelo instituto de pesquisa IRG, juntos, Carol Dartora (PT), Luciano Ducci (PSB) e Goura Nataraj (PDT) somam cerca de 27%, em um cenário sem Deltan Dallagnol e com pulverização dos nomes da direita.

Ducci quer apoio de Lula
Ex-prefeito da cidade e atual deputado federal, Luciano Ducci (PSB) expressou seu interesse em concorrer ao cargo nas próximas eleições municipais. Se no passado Ducci era aliado da direita tradicional em Curitiba, sendo vice de Beto Richa (PSDB), agora na base do governo federal, o ex-prefeito busca apoio do presidente Lula e do Palácio do Planalto, numa aliança que envolveria os partidos da Federação, PT, PCdoB, PV, e o PDT. A aliança possui chancela de setores do PT e do PCdoB, de acordo com informações levantadas pelo BdF-PR. Por telefone, Ducci afirmou que busca aproximar setores da base do governo Lula em Curitiba e pretende contar com o apoio do governo federal. “Estou no PSB, que é um partido que está colaborando muito com o governo federal, tendo o vice Alckmin, o ministro Dino e outros ministérios. Desejo conversar com as forças políticas para apresentarmos uma proposta que melhore Curitiba, mesmo entendendo certa rejeição que Lula tem em Curitiba, quero contar com o apoio do presidente”, afirmou.
Apesar do interesse em contar com o apoio da centro-esquerda curitibana, e agora aparecer em segundo nas pesquisas a 472 dias das eleições do ano que vem, o pessebista evitou críticas frontais à gestão Greca. “Acredito muito em pesquisas eleitorais e respeito a boa popularidade que o Rafael Greca tem em Curitiba. Contudo, tivemos problemas nas últimas gestões na saúde, e o fechamento das escolas nos fins de semana, por exemplo, que era nosso projeto Comunidade Escola”, afirma.
Apesar do passado de aliança com tucanos, o nome de Ducci tem sido bem avaliado por dirigentes petistas e da Federação (PT, PCdoB e PV). O desafio, no entanto, será lidar com as críticas e rejeição ao seu nome por partidos como o PSOL, que poderiam evitar entrar na aliança em torno do ex-prefeito. Ducci rebateu as críticas, por conta de sua antiga aliança com o PSDB de Richa. “Peço que vejam minha história, fui militante do PT nos anos 80 ao lado do Ângelo Vanhoni e outros companheiros. Sempre fui um parlamentar e um gestor que prezou por políticas sociais e políticas públicas para melhorar os serviços e a vida das pessoas que mais precisam”, disse.

Carol Dartora lida com resistência interna 
Pelo PT, desde que foi eleita com expressiva votação para a Câmara Federal, a deputada Carol Dartora, primeira negra eleita para o Congresso da história do Paraná, vem defendendo seu nome no partido e nas forças de esquerda da cidade. Em entrevista ao Brasil de Fato PR, em seu gabinete em Curitiba, Dartora avaliou que a sua disposição em se candidatar pelo PT surgiu de um movimento espontâneo do seu eleitorado. Carol foi eleita com mais de 130 mil votos para Câmara Federal, após cumprir um mandato como vereadora em Curitiba. “Não foi uma ideia que eu lancei pela cidade por conta, foi apresentada pelos eleitores. Foram eles que começaram a levantar essa hipótese, até pelos expressivos resultados eleitorais que eu tive em Curitiba”, afirmou. 
Apesar de ser a deputada mais votada em Curitiba, perdendo apenas para Deltan Dallagnol, Dartora sofre resistência interna dentro do PT. Fontes ouvidas pelo BDF-PR afirmam que a candidatura poderia enfraquecer o próprio nome, ao invés de fortalecê-lo, e fecharia a possibilidade do partido em ter outras táticas eleitorais. No final de semana passado, em seu Twitter, Dartora desabafou afirmando estar sofrendo com certa violência política desde que colocou seu nome à disposição. Questionada a respeito, afirmou que sofre com a mentalidade conservadora que permeia o ambiente político no Paraná. “Sofro boicote de um pensamento conservador que está na mentalidade política em todos os lugares, que não consegue ver mulheres negras como lideranças e, para mim, aparece desde que surgi como liderança”, denuncia.
Internamente, o PT ainda debate sobre o quais serão suas táticas eleitorais para o ano que vem, com a possibilidade de uma aliança com Luciano Ducci (PSB) ou prévias com nomes como o do presidente do PT-PR, Arilson Chiorato, que ainda não confirmou a intenção de disputar, mas se articula nos bastidores. E o deputado federal Zeca Dirceu, confirma que pré-candidato à prefeitura de Curitiba.
Sobre táticas partidárias e viabilidade eleitoral, Dartora critica quem afirma que seu nome não teria musculatura para a disputa e defende uma candidatura que toque nas feridas dos problemas da cidade. “Quero dialogar com todos os setores da cidade, mas debatendo os problemas que a periferia sofre, como transporte, moradia e saúde. O PT, no passado, já lançou uma candidatura de uma pessoa que não era conhecida na cidade, qual seria então o problema com meu nome, que tive uma votação expressiva?”, questiona.

Frente amplíssima anti-Greca
Pré-candidato à prefeitura de Curitiba em 2020, o deputado estadual Goura Nataraj (PDT) defende diálogo amplo para além das forças de esquerda e progressistas da cidade. Presidente do PDT do Paraná, Goura chegou a se encontrar com o deputado estadual Ney Leprevost (União Brasil), além de manter diálogo com o PT e o PSB de Luciano Ducci.
Ao Brasil de Fato Paraná, Goura defende sua pré-candidatura, e que haja um debate programático envolvendo todas as forças de oposição ao atual prefeito e ao vice Pimentel. “Fizemos a campanha de 2020 com uma série de dificuldades e terminamos com boa votação. Tenho um histórico de conexão com as pautas que envolvem a cidade, como meio ambiente e mobilidade urbana, mas entendo que não podemos nos pautar por um projeto egoísta, mas um que se contraponha ao modelo instaurado pelo Greca, que vem retirando direitos dos servidores, precarizando serviços, maquiando os problemas ambientais, e mantendo os contratos transporte coletivo”, disse.
Diferentemente da tática eleitoral de 2022, em que o PDT priorizou lançar um nome próprio para governo do Estado, desta vez o partido deverá apostar em uma frente para Curitiba. Goura reflete que o momento político é outro, mas alerta que o partido trabalhará em torno de uma proposta que coloque o debate político focado nos problemas da capital. “Ano passado tínhamos a questão da campanha da Presidência, e o partido hierarquizou a discussão em torno do Ciro. Para 2024, entendo que o debate é centrado nas demandas da cidade, por isso defenderemos um projeto que aglutine forças e que paute as questões que envolvam a cidade”, disse.

PSOL defende prévias gerais
Se por um lado boa parte do campo progressista vem buscando pensar em nomes para dar o rosto a uma frente ampla, para a dirigente do PSOL no Paraná Professora Ângela Machado, o debate para as eleições não deve ficar apenas nas cúpulas partidárias e nos gabinetes. Participante da corrente Movimento Esquerda Socialista (MES), que tem maioria na direção partidária no Paraná, Ângela defende que prévias gerais na esquerda para debater programa e escolher um nome. “Achamos que esse debate não pode ficar apenas dentro dos partidos, mas que seja ampliado para os agentes políticos, a base dos partidos de esquerda e os movimentos sociais, por isso estamos defendendo que haja prévias em Curitiba com toda a esquerda, num modelo que já existe, por exemplo, no Uruguai”. O PSOL ainda não tem uma posição oficial a respeito das eleições, pois está em período congressual.
Apesar do caráter amplo da prévia, para a dirigente, na frente não caberiam nomes de centro ou além da esquerda. “Acho muito difícil o PSOL topar uma aliança com Luciano Ducci. Queremos ‘desbolsonarizar’ Curitiba, levantando os problemas da cidade, ao mesmo tempo denunciar os problemas da gestão de Rafael Greca, como a máfia do lixo e a máfia dos transportes”, afirma.
De acordo com a professora, o PSOL ainda não tem nome próprio para as eleições, mas sua corrente (MES) pretende apresentar um de fora do partido caso a proposta das prévias se viabilize. Seria o deputado estadual Renato Freitas. “Obviamente está cedo, e estamos em processo congressual, mas vemos o nome do Renato como alguém que poderia ser um ponto de unidade na esquerda para defender um programa no qual defendemos para cidade.” Ângela ainda revelou que, apesar de conversas iniciais sobre o tema, não há qualquer contato com o PT para tratar da proposta. 
Procurado pela reportagem do Brasil de Fato, o deputado petista defendeu a ideia das prévias, mas afirmou ser muito cedo para falar em candidatura. “A ideia das prévias é algo que defendo, com certeza, mas qualquer movimentação para se falar em candidatura é algo muito cedo ainda”.

Pesquisa IRG 
Pesquisa feita pelo Instituto IRG e divulgada pelo “Blog Politicamente” atiçou mais ainda o debate para a corrida do ano que vem. O levantamento feito na metade deste mês mostra, em um cenário sem Deltan Dallagnol, em que pré-candidatos do campo de oposição (Goura, Dartora e Luciano Ducci) somam, ao todo, 27%.
Na pesquisa estimulada, Ney Leprevost lidera com 18%, Luciano Ducci com 15%, Eduardo Pimentel com 14% e Paulo Martins com 13%. Logo atrás, Beto Richa tem 10%, Goura e Carol Dartora, com 6%. Não sabe ou não respondeu são 5%, e 11% disseram que não votariam em nenhuma das opções.

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Edição: Frédi Vasconcelos