Paraná

DEBATE DE IDEIAS

Artigo | Qual a minha ideia de sociedade socialista?

"Todos receberiam um mecanismo de troca por alimentos simplesmente por existir. Ninguém passaria fome"

Curitiba (PR) |
"Não existiria mais judiciário e legislativo constituídos, mas um grupo de representantes que seguiriam aquilo que o povo constitui como guia" - Giorgia Prates

Existe uma grande confusão com termos e definições quando falamos de comunismo, anarquismo, socialismo com boa parte das pessoas.

E quando pessoas não definem bem o que querem dizer com determinado termo, é difícil que algum resultado seja alcançado em uma interação. O que pretendo fazer aqui é colocar para reflexão alguns dos pontos que considero constituintes de uma sociedade socialista. Sabendo dos pontos, você terá mais facilidade para concordar ou discordar do que penso.

A minha ideia de socialismo não se abriga na linha marxista de que o socialismo seria um estado de transição. Para mim, o socialismo, ao contrário, é um fim em si mesmo.

Na minha constituição socialista nós não teríamos partidos políticos. Não porque eles seriam proibidos, mas porque eles não seriam necessários para representar o povo, se o povo mesmo se representasse. A representação própria seria muito difícil em um planeta tão populoso sem a ajuda da tecnologia, porém com novos aparelhos poderíamos fazer funcionar.

Se cada um representasse a si mesmo, a governança poderia ser drasticamente diminuída em sua autoridade e teríamos representantes designados por períodos curtos e sem direito a reentrada no cargo. De tal forma que o poder sempre seria do povo e não de uma figura. Você poderia lutar para convencer pessoas sobre o seu jeito de ver uma determinada situação política, mas não receberia poderes para além daquela situação e não votaria coisas que não fossem relacionadas àquela demanda. Isso resolveria o problema do homem da bancada do boi votando sobre o desmatamento e a educação, por exemplo.

Todos teriam como direito inalienável à educação, a vida, a água, a alimentação, dentre outros. Todos receberiam um mecanismo de troca por alimentos simplesmente por existir. Ninguém passaria fome. O prêmio por produzir na sociedade seria o de poder participar da política, e determinadas funções que não tivessem trabalhadores o suficiente seriam compensadas acima da média. O valor de uma pessoa não seria medido pelo quanto ela é capaz de produzir, mas pelo fato de ela ser humana, de ela existir. O capital importante aqui seria o social, a sociabilidade. Não seria mais o preço do que se tem que trariam o principal valor de alguém, mas a forma que ela melhora e participa da sociedade.

Não existiria mais judiciário e legislativo constituídos, mas um grupo de representantes que seguiriam aquilo que o povo constitui como guia. Nos casos de violação dos preceitos sociais, esses representantes se reuniriam para avaliar o caso concreto e definir uma solução. Para as situações desviantes em que a força fosse necessária, um corpo de agentes temporários seria eleito e ficaria responsável pelas ações. Todas as especialidades seriam divididas em órgãos de discussão e seriam chamados a enviar representantes ou um parecer quando fosse preciso.

Os preços de produtos e alimentos seriam definidos coletivamente como forma de controlar a relação oferta e demanda. Também seriam definidos quais produtos seriam produzidos e quantos.

Ninguém seria dono de uma empresa. Todos seriam sócios da sociedade e teriam parte do poder de definir as formas de agir em seu local de trabalho. Se considerassem necessário, poderiam ter líderes, chefes, controladores de produção, mas o poder nunca poderia ser usurpado do indivíduo e seu valor estaria no social e não conectado ao quanto ele é capaz de produzir.

O estudo nunca seria pago. Os ramos de estudo abririam vagas e cada indivíduo poderia trilhar caminhos até que conseguisse o domínio de um campo.

Não haveria fronteiras. Cada um poderia ir e vir conforme quisesse. Se um local tivesse grande atração e outro pouca atração, a sociedade definiria coletivamente como deixar o local mais atrativo.

Não se poderia comprar terras ou imóveis. Todos teriam direito a moradia que seria disponibilizada a cada cidadão quando esse atingisse certa idade. Ele escolheria as áreas em que desejaria entrar na fila e receberia sua residência assim que ela estivesse vaga. Caso não goste do que recebeu, pode devolver e seguir no sorteio. Caso queira construir, também poderia solicitar e teria esse direito pelo simples fato de existir.

É por essa linha que se desenvolve a minha ideia de sociedade socialista.

*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Pedro Carrano