Paraná

DEBATE DE IDEIAS

Direito de resposta. Telma Mello responde a Anísio G. Homem sobre caso Renato Freitas

"Todas as pessoas que acompanharam o caso sabem que foram feitas tentativas de construção de um grande ato em defesa"

Curitiba (PR) |
Polêmicas têm sido colocadas no debate da esquerda a partir da nova tentativa de cassação de Renato, na Câmara de Vereadores de Curitiba - Giorgia Prates

A carta do Sr. Homem, branco, é, pra mim, completamente equivocada!

Anísio Garcez Homem, em sua “Carta a dirigentes de organizações populares por um ato em defesa de Renato Freitas”, diz que acompanhou nos últimos dias com “preocupação e desgosto” as “polêmicas fratricidas”, referindo-se ao episódio em que eu me manifestei na Câmara Municipal de Curitiba - e as consequências disto -, ocasião em que uma mulher branca tomou posse no lugar de um vereador negro, cassado por racismo.

Ele também classifica meu repúdio ao ato racista do partido como "exacerbação de posição". Meu ato não foi de exacerbação e, sim, defesa da vida, defesa do direito de equidade, de democracia, de ativismo antirracista!

Há mais de 350 anos acontecem assassinatos fratricidas - se é que ele considera gente preta como irmãs e irmãos dele - e só “nos últimos dias” ele sentiu “desgosto e preocupação”? E veja, ele se refere à posse da Ana Júlia. Então, não é sobre nós, Negros.

Não sou filiada ao partido (PT) em questão, mas soube que a proposta - da Mandata das Pretas assumir a vaga de Renato - não foi debatida. Portanto, cai o argumento de que “sempre se pode legitimamente discutir no movimento dos trabalhadores pontos de vistas diferentes sobre fatos A ou B, desde que as críticas sejam para avançar”. O tema racismo dilacera a necessária convivência talvez, por isso, não tenha sido debatido.

E ele afirma: “a perseguição ao mandato do Renato, segunda a própria lógica desses vereadores da bancada de Greca, faz parte da afirmação de sua dominação opressora de classe”.

O que na visão do Sr. Homem branco é “luta de classe”, nós, Negros, chamamos de racismo. Pois, quando somos violentados pela cor da nossa pele, nosso cabelo, nossas características étnicas, o nome disso é racismo. Mas o Sr. Homem, branco, não se permite ver e sentir essa realidade. Parece que está a negar o racismo que sofremos e desracializar o debate.

Tenta nos convencer que gente pobre branca é assassinada a cada 23 minutos ou que gente branca pobre é encarcerada, em maioria, e sem julgamento? Ou seja, nega a opressão, a violência, o racismo que nós, Negros, vivenciamos: o genocídio do povo preto!

Todas as pessoas que acompanharam o caso, sabem que foram feitas tentativas de construção de um grande ato em defesa e apoio ao vereador Renato Freitas. Esse tal grande ato nunca foi organizado pelo partido que deveria tê-lo defendido.

Nós sabemos que Renato Freitas será cassado, ou não? Eu continuo com essa certeza. Tento acreditar que, talvez, ele recupere os direitos políticos, recorrendo incansavelmente, como deve ser numa democracia. Amanhã ou depois, assume o segundo suplente, novamente um branco, com o discurso que será representante do povo preto, pobre e periférico.

Achei hipocrisia do Sr. Homem branco, citar meu nome e me fazer essa proposta. De me sentar na mesa com racistas e fazer pacto. Pois, não faço pacto com a branquitude!

Que o Sr. Homem proponha ao partido dele, a renúncia da primeira e da segunda suplência, em benefício da representação do povo preto pobre e periférico, através da legitimidade de substituição de um mandato CASSADO POR RACISMO ser representado pela Mandata das Pretas.

Por favor, quem puder, diga ao Sr. Homem que, caso ele reveja sua falta de desgosto e preocupação com o fatricídio dos irmãos e irmãs negras; e que deseje propor ao partido a realização de atos antirracistas, irei com grande alegria e satisfação. Que também comece a ter práticas e atos antirracistas. E que não me venha propor pacto com interesses políticos partidários. Não construo nada com racistas!!!

*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

 

Edição: Pedro Carrano