Paraná

Segurança pública

A polícia militar entre a legalidade e o golpismo

Crescimento do "bolsonarismo" mais radical chega a quase 30% dentro das PM

Curitiba (PR) |
Teses mais sectárias do presidente da República encontram cada vez mais apoiadores entre oficiais e praças - Foto: Giorgia Prates

Ameaças de quartelada, vídeos incitando quebra da hierarquia nas polícias militares e ameaça de golpe de Estado. As últimas semanas foram de alta temperatura política no país, desde que foi anunciado pelo presidente Jair Bolsonaro que iria utilizar as comemorações do 7 de Setembro para manifestações de rua contra membros do Supremo Tribunal Federal, em especial o ministro Alexandre de Moraes, responsável pelo inquérito que investiga ataques virtuais contra a honra de membros da corte.

As ameaças de uma ruptura institucional do presidente e seus aliados tiveram ressonância num preocupante apoio de membros das polícias militares de diversos estados. Antes das mobilizações da última semana, membros da reserva chegaram a ameaçar governadores, caso do deputado estadual do Espírito Santo Capitão Assunção (Patriota). Em vídeo com a bandeira do Brasil ao fundo, e o hino da independência, o militar da reserva ameaçou: "nós somos forças auxiliares e reservas do exército, em caso de ruptura institucional, é claro que estaremos com as forças armadas, que têm como seu chefe o presidente Jair Bolsonaro."

Apesar das ameaças e bravatas, com até mesmo o afastamento, pelo governador João Dória, de um comandante da PM-SP que incitou nas redes sociais membros da tropa a participarem dos atos, as manifestações tiveram discreta ou quase nenhuma participação dos policiais militares. Para policiais ouvidos pelo Brasil de Fato Paraná, apesar da grande adesão de PMs ao bolsonarismo, muito dificilmente o Brasil viverá uma quartelada. 

De acordo com dados do Fórum de Segurança Pública, a adesão ao ''bolsonarismo radical'' cresceu quase 30% quando comparado a 2020. O levantamento aponta que as teses mais sectárias do presidente da República encontram cada vez mais apoiadores entre oficiais e praças, pelo menos até os atos de 7 de Setembro.

Para Martel Del Colle, do movimento Policiais Antifascistas, os policiais acabam sendo bombardeados com propaganda e fake news criadas pelo bolsonarismo, mas isso está em um processo de enfraquecimento. "O bolsonarismo existe na polícia, mas está em enfraquecimento, ainda mais depois do dia 7 de Setembro. O presidente vive de imagens e tenta passar como 'macho alfa', mas após o resultado dos atos, ele acabou tendo a imagem manchada, já que nada que era prometido - como fechamento das instituições e prisão de ministros - ocorreu", reflete.

Entrevistado antes das mobilizações, o sargento da reserva da Polícia Militar de Santa Catarina Amauri Soares, uma das principais lideranças da Associação de Praças do Estado de Santa Catarina (Aprasc), analisou que certamente aumenta o apoio ao governo, que responde positivamente a qualquer sinalização golpista.

"Não tenhamos dúvida de que a maioria dos policiais militares, de todos os estados da federação, gostaria muito de ser convocada pelo presidente da República, pelos comandantes do Exército, pelos comandantes de cada PM para fechar todos os outros poderes e dar plenos poderes a Bolsonaro", afirmou. Apesar da simpatia a ideias golpistas, o sargento pondera: "Necessário dizer que, se as PM fossem usadas para um golpe, inteiras ou partes delas, isso só seria possível com um comando nacional único e mediante autorização do Exército."

Del Colle acredita que dificilmente as forças policiais romperiam com os governadores. "A cultura dos oficiais do Brasil não é de rompimento, apesar de alguns eventos históricos, as polícias militares e o Exército sempre tentam passar uma imagem de cumprimento de leis. Caso o Exército puxasse, aí seria outra coisa." 

Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini