Paraná

PERFIL POPULAR

Em União da Vitória (PR), Thays Bieberbach quer reeleição à Câmara para seguir com a luta feminista

Atual vereadora já recebeu ameaças, mas segue com medidas contra enchentes, medidas voltadas às mulheres e mobilidade

Curitiba (PR) |
Afirma que ferramentas comuns na capital, caso do espaço audiência pública, eram raras na cidade. E, durante o seu mandato, cumpriram papel importante de conscientização e conquistas - Redes sociais

A atual vereadora Thays Bieberbach, 33 anos, vai chegando ao fim do primeiro mandato em União da Vitória, no sudeste paranaense, cidade com cerca de 60 mil habitantes e cortada pela travessia do rio Iguaçu.

Na mochila, coleciona desde conquistas com medidas concretas voltadas às mulheres e aos estudantes, mas também muitos conflitos, ameaças e tentativas de entraves à sua luta.

E sua luta vem de antes. E vem de um coletivo de mulheres. Desde a universidade, quando se graduou em História, na Unespar, Thays descreve um processo de tomada de consciência a partir de uma situação grave de violência sexual contra ela.

Desde então, apropriou-se da pauta feminista e foi uma das fundadoras do coletivo Mais que Amélias, em 2013. Que, mais tarde, em 2018, se tornaria o Instituto Rosas do Contestado.

“Há onze anos iniciamos o movimento. Algo precisava ser feito, fizemos combate ao assédio moral e sexual. Fui me identificando e me percebendo como militante”, aponta.

Antes disso, Bieberbach havia passado pela militância da juventude do PC do B, até ser destacado pelo seu jovem grupo para ingressar no PT e, consequentemente, nas eleições de 2020.

“Consegui ser eleita como a terceira candidata mais votada da cidade. Eu queria trabalhar com a pauta das mulheres e da juventude”, narra.

Na voz crítica dessa historiadora,  a própria História de uma cidade com 134 anos merece uma avaliação crítica, na medida em somente quatro mulheres foram eleitas “e eu fui a mais jovem, mas nunca tivemos mulheres nem na prefeitura e nem na vice”, expõe.

Pautas da cidade: mobilidade e contra enchentes

O tema da mobilidade urbana é o primeiro assunto levantado quando Thays é questionada pela reportagem sobre os principais problemas e desafios em União da Vitória. Até então, a cidade polo da região era marcada pela ausência de transporte público suficiente para trabalhadores e estudantes, e mesmo condição para ciclovias aos trabalhadores.

“Em União da Vitória a frota era pouca e em poucos horários, o que prejudicava todos os estudantes”, aponta.

Afirma que ferramentas comuns em qualquer capital ou cidade polo, caso do espaço audiência pública, eram raras na cidade. E, durante o seu mandato, cumpriram papel importante de conscientização e conquistas.

“Rendeu frutos a audiência pública (sobre transporte público). Tivemos a compra de nove ônibus novos. Aqui não tem a cultura de audiência. Estava colocando a questão da ciclovia para trabalhadores que usam a bicicleta, já que são pensadas apenas para o ciclista de final de semana, mas não para o trabalhador”, informa.

Outro problema sério é o do nível das enchentes, que tem atingido fortemente a cidade, devido à proximidade do Iguaçu. Porém, Bieberbach aponta que a ausência de políticas públicas, de um plano diretor consistente, acabam impactando as pessoas mais pobres e bairros periféricos e mais próximos ao rio.

Futuro político: é tempo de mais força

Sobre os planos futuros, Thays tentará reeleição como vereadora. Afirma que ainda não se sente pronta para a prefeitura, que pode ganhar mais experiência, embora esse seja um olhar futuro. Tempo, afinal, não falta a essa jovem. 

“Não me sinto pronta ainda, por isso mais um mandato como vereadora. Vou pegar experiência, não me seduzo pelo poder. Hoje estou com mais maturidade (para uma reeleição) vamos fazer, com as mesmas pautas”, aponta.

A vereadora, ao destoar do perfil masculino, branco, conservador e mais velho dos vereadores da região, incluindo também a vizinha Porto União, em Santa Catarina, afirma que, de certa forma, mexeu num vespeiro durante o mandato, o que resultou em “ameaças de morte e ameaças de linchamento, chegaram a bater no meu carro com pedaço de ferro”, afirma, apontando que muitas vezes passou por tudo isso sem sequer contar com uma assessoria jurídica e com estrutura para tamanhos enfrentamentos.

Nesse cenário desfavorável, porém, Thays comenta que teve na primeira dama Rosângela Lula da Silva, a Janja – que é natural de União da Vitória -, um apoio no difícil período de enchentes que a cidade vivenciou.


Thays relata debates internos duros no partido local, mas total identidade com Lula e com Janja, sua conterrânea / Divulgação Mandato

A dor transformada em luta

Ainda na juventude, Thays Bieberbach relata para a reportagem que foi vítima de um estupro. A partir de então, passou a se apoderar do debate feminista e, sobretudo, das medidas necessárias diante da violência contra as mulheres.

“Eu não tinha nenhum conhecimento sobre como denunciar. Algumas amigas questionando ‘será’ que você não bebeu demais? Na época, a gente não sabia nada, não sabia como orientar. Mas consegui transformar a dor em luta”, finaliza, apontando medidas concretas aprovadas na cidade neste sentido: “Conseguimos Delegacia da Mulher, Aplicativo 190, Patrulha da Mulher, eu coloco que as conquistas vieram com a organização coletiva”.

Edição: Mayala Fernandes