Nas movimentações políticas para as eleições municipais de 2024, um nome controverso desponta com possibilidade de apoio de parte do campo progressista para a prefeitura de Curitiba: Luciano Ducci. O atual deputado federal pelo PSB foi prefeito de Curitiba de 2010 a 2012 e vice-prefeito durante 8 anos na gestão Beto Richa.
Por esse breve histórico, percebe-se que o campo político de Ducci é mais alinhado à centro-direita. Seu nome, no entanto, é o mais cotado para receber apoio do PT na corrida à prefeitura da capital paranaense.
Fato curioso para ambos os lados, uma vez que Ducci já foi abertamente antipetista. Em abril de 2016, no contexto das movimentações que levaram ao impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), Ducci chamou a gestão petista de "incompetente e corrupta".
"Nós, Parlamentares, seremos representantes da voz das ruas, que clama pelo fim desta gestão incompetente e corrupta. As pessoas se cansaram de um partido que só pensa em se manter no poder a qualquer custo [...] É o poder a qualquer custo, sem ética, sem respeito e desprovido do espírito republicano", disse o deputado, em discurso no Congresso Nacional.
Em outro discurso de 2016, Ducci parafraseou um famoso lema direitista da política recente, dizendo: "Vivemos todos sob uma mesma bandeira, verde, amarela, azul e branca. A ela nenhuma outra cor deve ousar tentar se sobrepor". A alusão clara era à frase "a nossa bandeira jamais será vermelha", amplamente utilizada por manifestantes pró-impeachment.
Exaltação a Sergio Moro e à Lava-Jato
PT e Ducci estiveram em lados opostos também em outro momento chave da história recente do Brasil: a Operação Lava-Jato, que levou à prisão de Lula e à consequente eleição de Jair Bolsonaro à presidência da República.
Ducci chamou a operação de "maior transformação moral da história do Brasil" e "orgulho de todos os brasileiros". O deputado também enalteceu o então juiz Sergio Moro, que hoje sabe-se ter atuado de forma parcial e persecutória ao longo da Operação.
"A cidade [Curitiba] é diariamente lembrada por ser a sede da Operação Lava-Jato e onde mora o Juiz Federal Sergio Moro. [...] É em Curitiba que a política está sendo passada a limpo. E é de Curitiba que os brasileiros estão resgatando a esperança de um futuro melhor para o nosso País", enalteceu o deputado.
Apoio a projeto da bancada ruralista e PEC de Temer
Para além dos discursos, Ducci também se colocou em lado oposto ao defendido pelo PT em votações no Congresso. Foi o caso da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) encampada pelo governo Michel Temer que limitava os gastos públicos da União por 20 anos, a chamada PEC do Teto dos Gastos. Luciano Ducci votou favorável, enquanto toda a bancada petista votou de forma contrária.
Ducci também foi favorável ao projeto de lei que implantou o conceito estendido da posse de arma de fogo em propriedades rurais. O projeto alterou o Estatuto do Desarmamento, passando a considerar domicílio rural toda a extensão das terras e não mais apenas o interior da sede da propriedade. Defendida pela bancada ruralista como forma de ampliar a posse em propriedades rurais, a proposta foi sancionada pelo então presidente Jair Bolsonaro em 2019.
Marcha com Ratinho Jr. e apadrinhado de Richa
Luciano Ducci lançou-se à carreira política sendo apadrinhado por Beto Richa (ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná pelo PSDB). Foi vice-prefeito de Richa por dois mandatos e assumiu a prefeitura de Curitiba quando o tucano lançou-se ao governo do estado.
O governo de Richa no Paraná foi marcado por escândalos de corrupção — como a operação Quadro Negro, que investigou desvio de verbas de escolas públicas — e repressão violenta contra movimentos populares.
Quando governador, Richa subiu ao palanque de Ducci na campanha pela reeleição à prefeitura, em 2012. O eleito, no entanto, foi o candidato apoiado pelo PT, Gustavo Fruet (PDT), que derrotou também o então candidato Ratinho Junior (à época no PSC, atualmente filiado ao PSD e governador do Paraná).
Ainda em 2012, o trio Ducci, Richa e Ratinho Junior subiu junto ao palco da 10ª edição da Marcha para Jesus em Curitiba. Na ocasião, Ducci afirmou ter uma "relação fraterna de amizade" com Ratinho Junior.
Posicionamento de Ducci atualmente
A reportagem entrou em contato com a assessoria de Luciano Ducci, pedindo um posicionamento atual sobre as questões apontadas no texto. Até o momento, não houve resposta. O espaço continua aberto para manifestação.
Edição: Pedro Carrano