Paraná

VIGÍLIA PERMANENTE

“Vamos permanecer aqui até que a empresa sente para negociar”: Famílias da ocupação Tiradentes II

Desde dia 28, moradores de ocupação se mantêm em vigília permanente

Curitiba (PR) |
Organizações apoio e movimentos sociais têm se revezado na manutenção da vigília - Pedro Carrano

Desde o dia 28 de setembro (quinta), cerca de 64 famílias da ocupação Tiradentes II se revezam no acampamento montado diante do aterro sanitário da empresa Essencis, que recebe lixo industrial e hospitalar, em região sensível para o meio ambiente.

O objetivo da chamada vigília permanente, puxada pelo Movimento Popular por Moradia (MPM) é ficar ali até a Essencis voltar para a mesa de negociação.

Uma das vozes locais, a liderança conhecida como Gaúcho, aponta que o acampamento busca estrutura e se desenvolve a cada dia, em que pesem as dificuldades financeiras. “Estamos ativos, precisando de algumas coisas. A maioria do pessoal trabalha durante o dia. E, para ter atividade, precisa estar aqui. Então, há um grande aperto financeiro”, aponta.

Em treze dias de denúncia diante dos portões do grupo Solví, foram instalados banheiros, luz, cozinha comunitária e acesso à água. No dia 12 de outubro, está prevista atividade de Dia das Crianças com apoio de organizações e movimentos sociais parceiros.

“Vamos permanecer aqui até que a empresa sente para negociar. Até que traga alguma coisa favorável para a comunidade. Caso contrário, é uma vigília permanente. Cada dia, estamos melhorando, dando estrutura melhor para permanecer. Vamos permanecer”, reforça.

A unidade da Essencis no CIC recebe cerca de 200 toneladas de lixo por dia. Na decisão da Justiça o risco sanitário é apontado, assim como a demanda de um plano de realocação das pessoas em caso de reintegração.


A unidade da Essencis no CIC recebe cerca de 200 toneladas de lixo por dia / Pedro Carrano

“Existiam pessoas antes do lixo”

Organizações de apoio têm se revezado na manutenção da vigília, que recebe apoio da campanha Despejo Zero, e também de militantes do Psol, do IDP, MST, MTD, entre outras organizações.

Com abaixo-assinado em mãos pela retirada do aterro sanitário, militantes têm buscado dialogar com a região histórica do chamado bolsão Sabará, que abrange pelo menos três associações de moradores, ativas desde os anos 90. As associações Eldorado e Nova Esperança inclusive têm histórico de conquista de regularização fundiária, via usucapião coletivo, em local de irregularidades da Cohab denunciadas nos anos 2010.

Ao lado de entidades da sociedade civil, na figura da Irmã Anete Giordani, a ideia é mostrar que a região como um todo é residencial e enfrenta problemas com o cheiro e presença do aterro.

“O abaixo-assinado ajuda a mostrar que ali não é uma zona industrial, mas uma zona residencial. A luta do povo é contra o lixão, que não deveria estar ali. A empresa alega que as pessoas da Tiradentes II ocuparam sabendo que já existia o lixão, mas existiam pessoas antes do lixo. É preciso unificar a luta do Sabará, que sempre foi um espaço de luta popular”, explica João Pedro Ambrosi, militante do Psol e integrante da União de Moradores e Trabalhadores (UMT).

Entenda o contexto dessa luta:

https://www.brasildefatopr.com.br/2023/03/21/ocupacao-tiradentes-2-uma-ultima-fronteira-entre-a-vida-o-lixo-e-o-lucro

https://www.brasildefatopr.com.br/2023/03/27/por-despejo-zero-organizacoes-montam-acampamento-solidario-na-ocupacao-tiradentes-2

https://www.brasildefatopr.com.br/2023/09/26/ocupacao-tiradentes-2-enfrenta-novo-risco-de-reintegracao-de-posse

https://www.brasildefatopr.com.br/2023/05/16/audiencia-publica-questiona-aterro-sanitario-da-essencis-e-defende-direito-de-area-tiradentes-2

https://www.brasildefatopr.com.br/2023/09/28/agora-i-familias-da-area-tiradentes-2-ocupam-entrada-de-aterro-da-essencis-na-cidade-industrial

Edição: Lia Bianchini