Paraná

TRANSPORTE E PODER

Terceiro texto da série. A luta popular pela licitação do transporte coletivo

O movimento popular organizou, logo no início do mandato do prefeito nomeado Mauricio Fruet, uma forte pressão

Curitiba (PR) |
O movimento popular continua até hoje, lutando contra o monopólio do transporte coletivo pelas mesmas famílias, tendo a família Gulin como dominante nesse rendoso negócio - Giorgia Prates

O prefeito Jaime Lerner terminou seu mandato biônico em 1981 sem realizar a licitação do transporte coletivo.

Licitação exigida pelas entidades populares no amplo abaixo-assinado com 88 mil assinaturas, o que demonstrou o alto nível de organização do movimento de associações de bairros, organizadas em três entidades gerais: Movimento de Associações de Bairros ( MAB - vinculadas às CEBs) Federação de Bairros (vinculadas ao grupo do advogado Roberto Requião) e União Geral de Bairros ( vinculadas ao grupo do advogado Edésio Passos).

O mais grave é que o prefeito Jaime Lerner, ao arrepio da lei de licitações, simplesmente continuou a "ação entre amigos” dos seus antecessores e prorrogou sem licitação os contratos do transporte coletivo por mais 10 anos, até 1991, beneficiando as mesmas famílias que dominavam a exploração do transporte coletivo de Curitiba, há décadas.

Com a crise da ditadura militar decorrente da profunda crise econômica e a pressão da oposição, dentro da abertura lenta e gradual comandada pelo General Golbery do Couto e Silva, em 1982, são restabelecidas as eleições diretas para governadores nos estados.

No Paraná, foi eleito diretamente pelo povo José ,do Movimento Democrático Brasileiro (MDB). As capitais e áreas de segurança nacional ainda continuavam com interventores. Nessa época de abertura política, forças mais à esquerda criaram o Partido dos Trabalhadores (PT) nascido das lutas dos trabalhadores , das associações  de bairros e das CEBs, que lançaram Edésio Passos a governador pelo PT obtendo 12.000 votos.

Para prefeito de Curitiba foi nomeado Mauricio Fruet (MDB), que assumiu com o compromisso de restabelecer a democracia nas relações com os movimentos sociais organizados.

Roberto Requião permaneceu no PMDB e se elegeu deputado estadual em 1982, com apoio do movimento popular de bairros e da  luta dos transportes, transformando seu gabinete em um espaço de apoio e organização das lutas populares,  tornando-se junto com o PT uma referência dessas lutas, na cidade de Curitiba.

O movimento popular continua até hoje lutando contra o monopólio do transporte coletivo pelas mesmas famílias, tendo a família Gulin como dominante nesse rentável negócio.

O movimento popular organizou, logo no início do mandato do prefeito nomeado Mauricio Fruet, uma forte pressão com a organização de uma concentração popular no Ginásio do Tarumã, reunindo 15 mil pessoas, com a presença do governador José Richa e do prefeito Maurício Fruet .

Nessa grande mobilização, foi entregue ao governador e prefeito uma pauta ampla de reivindicações envolvendo saúde, educação, creches, regularização fundiária nas ocupações e anulação dos contratos do transporte coletivo, estatização do transporte coletivo, redução das tarifas e controle popular no transporte coletivo.

O prefeito Maurício Fruet não conseguiu enfrentar os empresários do transporte coletivo por ter uma Câmara Municipal com forte influência desses empresários.

Pressionado pelo movimento popular, cria uma Comissão de Verificação de Custos Tarifários, que comprova o super lucro das empresas dado o alto preço das tarifas. A Comissão comprova uma série de irregularidades nos parâmetros que definem os custos da tarifa e propõe o expurgo de determinados itens, que levariam à redução da tarifa em 20%.

Há uma divisão entre os membros da Comissão tendo os representante da prefeitura, vereadores Câmara Municipal de Curitiba (vinculados às empresas) a serem contra, formulando seu próprio relatório. Os representantes do movimento popular formularam um relatório paralelo denunciando o relatório oficial com ampla divulgação.

Esse racha em torno da questão do transporte coletivo e reivindicações populares fortaleceu o movimento popular e facilitou em 1985, quando foram restabelecidas as eleições nas capitais e áreas de segurança nacional, a eleger Roberto Requião (MDB) prefeito de Curitiba, contra Jaime Lerner (PDT) por uma diferença de 13 mil votos, tendo o candidato do PT , Edésio Passos obtido 12.000 votos.

Diante da forte polarização entre Requião e Lerner, um pequeno grupo do PT foi para a candidatura de Requião e passou a pressionar pela renúncia das candidaturas do PT  e apoiar Requião. Não tiveram êxito, pois a base do PT foi contra e defendia se o candidato do PT renunciasse o partido desapareceria em Curitiba e no Paraná.

Foi uma decisão acertada, pois nas eleições de 1988 para prefeito e vereadores de Curitiba, o PT com a candidatura de Claus Germer para prefeito obteve 36.054 votos (6,29%) e uma bancada de três vereadores, elegendo Dr. Rosinha, Ângelo Vanhoni e Silvio Miranda.

Edição: Pedro Carrano