Há três dias, a Vigília Lula Livre conta com o reforço da militância da Caravana Semiárido Contra a Fome, que cruza o país em três ônibus para denunciar o crescimento da miséria no Brasil após o golpe de estado que levou Michel Temer (MDB) à Presidência.
Liderada pela Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) e outras entidades ligadas à Frente Brasil Popular, a caravana contribuiu com a mobilização para a resistência da Vigília, além de participar das rodas de conversa e demais atividades culturais e políticas.
Neta quinta-feira (2), aconteceu também a visita da presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, que, após falar com Lula, conversou com os militantes do semiárido sobre as últimas articulações para as eleições deste ano.
Depois de deixar o prédio da superintendência regional da Polícia Federal, Gleisi foi até o terreno revitalizado pela brigada da solidariedade e plantou uma muda de araucária, que chamou de Dorcelina Folador, militante paranaense morta em Novo Mundo, Mato Grosso do Sul, cidade em que era prefeita.
Ela foi assassinada em 1999 a mando do coordenador de sua campanha. Integrante do MST, ela denunciou o que chamou de "máfia" que comandava a cidade. Dorcelina apontava que havia envolvimento desse grupo com o narcotráfico, contrabando de armas e até com o tráfico de crianças para o exterior.
Mulheres do Semiárido
Na parte da manhã de quinta, a roda de conversa foi conduzida por Cristina Nascimento, da ASA. Segundo ela, a pauta da fome é um tema de alerta muito importante, mas não se pode deixar de lado a transformação pela qual a região do semiárido passou.
“Esse semiárido se configura como espaço de luta, de resistência. Mas também de produção de alimentos, em vez de fome; da partilha da água, em vez da concentração da água; que tem a disputa do território, mas que os povos tradicionais também resistem”, ressalta.
Para Cristina, essa apresentação é necessária junto com a representação da caravana, o que ela representa e denuncia: “É muito triste ver o Brasil de novo entrando no mapa da fome, tendo a clareza de que o impacto maior é na vida das mulheres e das crianças. Historicamente foi isso e para nós, hoje, representar o semiárido também é representar a mulher”.
Francisca da Silva Alcântara é benzedeira, agricultora familiar e veio de Piranhas (AL) integrando a caravana. Ela conta que, no ano de 1983, havia 31 crianças doentes em sua comunidade. Trinta morreram e o único sobrevivente foi seu irmão. “Eu ajudei a enterrar todas, que se contaminaram pela água. A gente via o sofrimento de carregar água. Hoje temos acesso a cisternas que garantem nossa água limpa e nossas famílias felizes”, explica.
Representante do banco de sementes de Piranhas, Francisca se diz contente por ver as crianças indo para escola de banho tomado e barriga cheia. “Sou uma defensora da caatinga com muito orgulho”, diz.
Edição: Diego Sartorato