TORCIDA FEMININA

Torcedoras dos três maiores times de futebol do Paraná criticam contratação de Cuca pelo Athletico

Torcida do 'trio de ferro' paranaense apontam contratação como especialmente desrespeitosa por ocorrer no mês da mulher

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Técnico Cuca gesticula durante partida de futebol do Athletico em 2021 - Douglas Magno/AFP

Se a rivalidade e as diferenças entre a torcida das três maiores equipes da capital — Coritiba, Athletico e Paraná — pode predominar na hora do campeonato e nos estádios, a luta social e pelos direitos das mulheres gera pontos de união. Cada vez mais ampliam entre as torcidas as presenças de coletivos que pautam temas relevantes, com voz e liderança feminina.

Nos últimos dias, a contratação do técnico Cuca pelo Athletico no lugar do colombiano Juan Carlos Osorio gerou duro debate nas redes sociais. Para a reportagem do Brasil De Fato Paraná, torcedoras dos três times posicionaram-se de forma crítica à contratação, pelo passado de condenação do atual técnico, por ser o mês da luta das mulheres e pelo histórico de resistência de outras torcidas.

O nome de Cuca está na lista da direção rubro-negra desde junho de 2023, quando deixou o Corinthians depois de sete dias. Na época, houve forte pressão de parte da torcida por causa da condenação por coação e ato sexual com menor em 1987, quando era jogador do Grêmio, durante excursão à Suíça. A defesa de Cuca alega inocência.

Luta unificada

"Neste mês, tempo em que discutimos os direitos das mulheres e o combate às diferentes formas de violência a que estamos sujeitas, é lamentável que um estuprador esteja à frente de um time, de um esporte tão presente na cultura brasileira. As torcedoras deveriam se unir e lutar contra essa nomeação, boicotando os estádios enquanto ele estiver como técnico do Atlético", afirma Adriane Silva, pedagoga, professora e sindicalista municipal. Ela é torcedora do Coritiba.

Torcedoras participam

Já a professora e torcedora Mariana, em que pese ser o seu time de coração, é contrária à contratação de Cuca, reforçando também o peso da contratação justamente no mês de março.

"É lamentável. Infelizmente, ele não representa muitas pessoas que torcem pro time, que querem títulos e esperavam um posicionamento diferente da diretoria. Cada vez mais as mulheres têm estado presentes no estádio, torcendo, apoiando, contribuindo, fazendo a sua parte. O mínimo que esperávamos era uma postura diferente”, comenta.

Falta de democracia

Já Karine Nuzeka, paranista, funcionária de sindicato e integrante da torcida organizada Gralha Marx, chama atenção para um aspecto importante do debate: a consulta à base e ao sentimento da torcida, algo que nem se cogitou.

"Tendo todo histórico que não é de hoje, as manifestações que vem contra o Cuca e, mais recente, o livramento da condenação dele, complicado, ainda mais sem debater com a torcida", afirma. "Acredito que se consultasse teriam que ouvir as manifestações contrárias."

Entenda o caso

De acordo com o site Um Dois Esportes, Cuca foi condenado em 1989, em Berna, na Suíça. Como jogador do Grêmio em uma excursão pelo país em 1987, ele e outros três atletas foram acusados de ato sexual com menor e coação de uma menina de 13 anos, que visitava o hotel da delegação.

Os atletas ficaram presos por quase 30 dias e voltaram ao Brasil após prestar depoimentos. Em 1989, em julgamento sem a presença dos jogadores, os envolvidos foram condenados a 15 meses de prisão, além de pagamento de US$ 8 mil. Como não voltaram ao país europeu, não cumpriram pena e seguiram suas vidas.

O processo estava sob sigilo de 110 anos, protegido pela lei de proteção de dados da Suíça.

Mais tarde, a defesa de Cuca pediu a reabertura do caso e um novo julgamento, alegando que o ex-jogador foi condenado à revelia. O pedido foi acatado em novembro e o julgamento de 1989 foi anulado em 28 de dezembro de 2023.

Deputada critica

Numa semana de embates sobre o caso, a presidente do PT, a paranaense Gleisi Hoffmann, criticou a contratação do técnico, afirmando que "o crime é igualmente grave e chocante: a justiça da Suíça confirmou que havia sêmen do agressor no corpo da vítima! Uma pessoa como Cuca deve pagar por seu crime e jamais ocupar cargos de liderança, como o de treinador de futebol, que serve de inspiração e referência para tantas crianças", criticou Hoffmann.

A defesa jurídica de Cuca, no entanto, respondeu, da sua parte, o mesmo post de Hoffmann, com um documento com o seguinte trecho: "Pedimos a retirada do post, sob a pena de uma queixa crime por calúnia difamação e injúria, pois Cuca não foi condenado. Afinal, teve seu julgamento anulado pela corte da Suíça, por irregularidades que culminaram num veredito injusto. Afinal, foi julgado à revelia", argumentam na rede X (antigo Twitter).

Fonte: BdF Paraná

Edição: Lucas Botelho