Paraná

TORCIDA FEMININA

Torcedoras do "Trio de Ferro" criticam contratação de Cuca

Em pleno mês de março, criticam escolha do Athletico apesar de protestos da torcida

Curitiba (PR) |
Torcedora reforça crítica à contratação justamente no mês de março - Lucas Figueiredo CBF

Se a rivalidade e as diferenças entre a torcida das três maiores equipes da capital – Coritiba, Athletico e Paraná - pode predominar na hora do campeonato e nos estádios, por outro lado, a luta social e pelos direitos das mulheres pode gerar pontos de união. É fato: cada vez mais ampliam entre as torcidas as presenças de coletivos que pautam temas relevantes, com voz e liderança feminina.

Nos últimos dias, foi polêmica nas redes sociais e no mundo da bola a contratação do técnico Cuca pelo Athletico, no lugar do colombiano Juan Carlos Osorio. O que gerou duro - e até intimidatório - debate nas redes sociais.

Assim mesmo, para a reportagem do BDF PR, torcedoras do Athletico e também do Coxa e Paraná se posicionaram de forma crítica à contratação. Por ser o mês da luta das mulheres, pelo histórico de resistência de outras torcidas, e pelo passado de condenação do atual técnico.

O nome de Cuca está na lista da direção rubro-negra desde junho de 2023, quando deixou o Corinthians, depois de sete dias. Na época, houve forte pressão de parte da torcida por causa da condenação por ato sexual com menor e coação em 1987, quando era jogador do Grêmio, durante excursão à Suíça. A defesa de Cuca alega inocência.

Luta unificada

"Neste mês, tempo em que discutimos os direitos das mulheres e o combate às diferentes formas de violência a que estamos sujeitas, é lamentável que um estuprador esteja à frente de um time, de um esporte tão presente na cultura brasileira. As torcedoras deveriam se unir e lutar contra essa nomeação, boicotando os estádios enquanto ele estiver como técnico do Atlético”, afirma Adriane Silva, pedagoga, professora e sindicalista municipal. Adriane é torcedora do Coritiba.

Torcedoras participam

Já a torcedora Mariana, professora, em que pese ser o seu time de coração, é contrária à contratação de Cuca, reforçando também o peso da contratação justamente no mês de março.

“Justamente no mês das mulheres, tempo de tantas lutas por direitos e lugares, recebemos a notícia da contratação do Cuca como técnico do Athletico. É lamentável. Infelizmente, ele não representa muitas pessoas que torcem pro time, que querem títulos e esperavam um posicionamento diferente da diretoria. Cada vez mais as mulheres têm estado presentes no estádio, torcendo, apoiando o time, contribuindo e fazendo a sua parte. O mínimo que esperávamos era uma postura diferente”, comenta.

Falta de democracia

Já Karine Nuzeka, paranista e integrante da torcida organizada Gralha Marx, funcionária de um sindicato, chama a atenção para um aspecto importante do debate: a consulta à base e ao sentimento da torcida, algo que nem se cogitou:

“Tendo todo histórico que não é de hoje, as manifestações que vem contra o Cuca e, mais recente, o livramento da condenação dele, complicado, ainda mais sem debater com a torcida, sabemos que não tem essa democracia, e até mesmo acredito que se consultasse teriam que ouvir as manifestações contrárias”, afirma.

Entenda o caso

De acordo com o site “Um Dois Esportes”, Cuca foi condenado em 1989, em Berna, na Suíça, na época quando era jogador. Em 1987, em uma excursão do Grêmio pelo país, ele e outros três atletas foram acusados de ato sexual com menor e coação de uma menina de 13 anos que visitava o hotel da delegação.

Os atletas ficaram presos por quase 30 dias e voltaram a o Brasil após depoimentos. Em 1989, em julgamento sem a presença dos jogadores, foram condenados a 15 meses de prisão, além de pagamento de US$ 8 mil. Como não voltaram ao país europeu, não cumpriram pena e seguiram suas vidas.

O processo estava sob sigilo de 110 anos, protegido pela lei de proteção de dados da Suíça.

Mais tarde, a defesa de Cuca pediu a reabertura do caso e um novo julgamento, alegando que o ex-jogador havia sido condenado à revelia. O pedido foi acatado em novembro e o julgamento de 1989 anulado, em 28 de dezembro de 2023.

Deputada critica

Numa semana de embates sobre o caso, a presidente do PT, a paranaense Gleisi Hoffmann, criticou a contratação do técnico, afirmando que “O crime é igualmente grave e chocante: a justiça da Suíça confirmou que havia sêmen do agressor no corpo da vítima! Uma pessoa como Cuca deve pagar por seu crime e jamais ocupar cargos de liderança, como o de treinador de futebol, que serve de inspiração e referência para tantas crianças”, criticou Hoffmann.

Outro lado

A defesa jurídica de Cuca, no entanto, respondeu, da sua parte, o mesmo post de Hoffmann, com um documento com o seguinte trecho: “Pedimos a retirada do post, sob a pena de uma queixa crime por calúnia difamação e injúria, pois Cuca não foi condenado. Afinal, teve seu julgamento anulado pela corte da Suíça, por irregularidades que culminaram num veredito injusto. Afinal, foi julgado à revelia”, argumentam na rede X (antigo Twitter).

 

Edição: Lucas Botelho