Paraná

20ª Jornada

Leci Brandão: “A juventude não foi contaminada pelo processo ruim que a gente passou"

A cantora e compositora subiu ao palco da Jornada de Agroecologia na última quinta-feira (23)

Curitiba (PR) |
Leci Brandão fez show gratuito em Curitiba, na 20ª Jornada de Agroecologia - Foto: Juliana Barbosa

Leci Brandão, com todo o seu percurso no samba, acendeu e emocionou a plateia lotada da 20ª Jornada de Agroecologia, no final da tarde desta quinta-feira (23).

A cantora subiu ao palco vestida com suas cores favoritas, as cores da escola de samba da Mangueira. A cantora, compositora, atriz e Deputada Estadual é a primeira mulher negra e homossexual a integrar a ala de compositores da Estação Primeira da Mangueira, do Rio de Janeiro, a sua cidade natal. Ao gravar seu primeiro compacto, em 1974, ela já trazia na bagagem este pioneirismo.

No palco da Jornada, Leci exaltou educadores e educadoras, o movimento negro do Paraná e a juventude que está valorizando  mulheres negras históricas como referência em seus trabalhos. “Essa juventude não foi contaminada por todo esse processo ruim que a gente passou. E está demonstrando que quer mudança, quer liberdade, dignidade de vida”, afirma.


Leci Brandão fez show gratuito em Curitiba, na 20ª Jornada de Agroecologia / Foto: Dayse Porto

A cantora ressalta que o presente e o futuro estão no movimento popular e que os coletivos estão movimentando as estruturas políticas ao exigir melhores condições para o Brasil. “Os coletivos que estão nas periferias, nas favelas, tem muita gente que vive em lugar que não tem nada porque o poder público não chega e não quer chegar. Existem projetos que chegam na Assembleia Legislativa que vem dessa galera da periferia. Isso pra mim é animador”, exalta.

Nas quase duas horas de show, Leci e banda mantiveram a plateia animada e eufórica. Ela cantou muitas de suas composições e também interpretou músicas icônicas de outros sambistas e músicos. Uma delas, “Identidade”, composição de Jorge Aragão, emocionou o público. A essa hora, já na metade da apresentação, todos e todas a aplaudiam em pé e cantavam juntos em coro:

“Quem cede a vez não quer vitória
Somos herança da memória
Temos a cor da noite
Filhos de todo açoite
Fato real de nossa história”.


Nas quase duas horas de show, Leci e banda mantiveram a plateia animada e eufórica / Foto: Dayse Porto

Já no camarim, Leci contou que tem muito carinho por Curitiba, cidade onde esteve com Cartola (cantor, compositor, poeta e violonista brasileiro) e Dona Zica, sua esposa, nos anos 70, para um show no Teatro Paiol.

“Na época, eu fiquei encantada com o Paiol, eu tenho uma memória muito afetiva com a cidade e fico feliz porque a felicidade tá no povo progressista, todo mundo que lutou para que acabasse essa coisa ruim e toda essa desigualdade e ódio incitada pelo governo que não gostava de gente”, acrescenta a cantora, relembrando os quatro anos de tensão e governo de ódio do presidente anterior do Brasil. E acrescentou: “eu não falo o nome, porque me faz mal”.

Após o show, a cantora recebeu os colegas parlamentares Giorgia Prates, vereadora de Curitiba, e Renato Freitas, deputado estadual, ambos do PT. Ao longo do show, a artista enfatizou a importância da participação das pessoas negras na política e em cargos dos poderes executivo e legislativo. 

Após muitas fotos, selfies e conversas, já perto das 20h, Leci se despediu explicando como se mantém tão ativa aos 79 anos: “Eu não tenho nenhuma receita. Eu sempre procurei ter respeito pelas pessoas. Foi uma palavra que a minha mãe me ensinou, respeitar o outro. Eu tenho como norma de vida respeitar. [...] Sou uma cidadã brasileira”.

Edição: Lia Bianchini