Leci Brandão, com todo o seu percurso no samba, acendeu e emocionou a plateia lotada da 20ª Jornada de Agroecologia, no final da tarde desta quinta-feira (23).
A cantora subiu ao palco vestida com suas cores favoritas, as cores da escola de samba da Mangueira. A cantora, compositora, atriz e Deputada Estadual é a primeira mulher negra e homossexual a integrar a ala de compositores da Estação Primeira da Mangueira, do Rio de Janeiro, a sua cidade natal. Ao gravar seu primeiro compacto, em 1974, ela já trazia na bagagem este pioneirismo.
No palco da Jornada, Leci exaltou educadores e educadoras, o movimento negro do Paraná e a juventude que está valorizando mulheres negras históricas como referência em seus trabalhos. “Essa juventude não foi contaminada por todo esse processo ruim que a gente passou. E está demonstrando que quer mudança, quer liberdade, dignidade de vida”, afirma.
A cantora ressalta que o presente e o futuro estão no movimento popular e que os coletivos estão movimentando as estruturas políticas ao exigir melhores condições para o Brasil. “Os coletivos que estão nas periferias, nas favelas, tem muita gente que vive em lugar que não tem nada porque o poder público não chega e não quer chegar. Existem projetos que chegam na Assembleia Legislativa que vem dessa galera da periferia. Isso pra mim é animador”, exalta.
Nas quase duas horas de show, Leci e banda mantiveram a plateia animada e eufórica. Ela cantou muitas de suas composições e também interpretou músicas icônicas de outros sambistas e músicos. Uma delas, “Identidade”, composição de Jorge Aragão, emocionou o público. A essa hora, já na metade da apresentação, todos e todas a aplaudiam em pé e cantavam juntos em coro:
“Quem cede a vez não quer vitória
Somos herança da memória
Temos a cor da noite
Filhos de todo açoite
Fato real de nossa história”.
Já no camarim, Leci contou que tem muito carinho por Curitiba, cidade onde esteve com Cartola (cantor, compositor, poeta e violonista brasileiro) e Dona Zica, sua esposa, nos anos 70, para um show no Teatro Paiol.
“Na época, eu fiquei encantada com o Paiol, eu tenho uma memória muito afetiva com a cidade e fico feliz porque a felicidade tá no povo progressista, todo mundo que lutou para que acabasse essa coisa ruim e toda essa desigualdade e ódio incitada pelo governo que não gostava de gente”, acrescenta a cantora, relembrando os quatro anos de tensão e governo de ódio do presidente anterior do Brasil. E acrescentou: “eu não falo o nome, porque me faz mal”.
Após o show, a cantora recebeu os colegas parlamentares Giorgia Prates, vereadora de Curitiba, e Renato Freitas, deputado estadual, ambos do PT. Ao longo do show, a artista enfatizou a importância da participação das pessoas negras na política e em cargos dos poderes executivo e legislativo.
Após muitas fotos, selfies e conversas, já perto das 20h, Leci se despediu explicando como se mantém tão ativa aos 79 anos: “Eu não tenho nenhuma receita. Eu sempre procurei ter respeito pelas pessoas. Foi uma palavra que a minha mãe me ensinou, respeitar o outro. Eu tenho como norma de vida respeitar. [...] Sou uma cidadã brasileira”.
Edição: Lia Bianchini