No município de Castro, dois acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) se destacam não apenas por sua produção em cooperativa, mas também por seu compromisso com a agroecologia e a solidariedade. Trata-se dos acampamentos Maria Rosa do Contestado e Padre Roque.
O Maria Rosa teve início em 2015. Já no ano seguinte, as famílias resolveram criar uma cooperativa. “O pessoal já estava produzindo bastante. Então a ideia nossa foi montar a cooperativa, que foi oficializada em 2022, quando a gente ganhou o primeiro edital do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) no estado para fornecer alimentos para 17 escolas públicas”, explica a agricultora Rosane Mainardes.
Atualmente, os dois acampamentos atendem vários projetos, fornecendo alimentos orgânicos para Castro, Carambeí, Sengés, Arapoti e Piraí do Sul. Juntos, abrigam cerca de 100 famílias. No entanto, nem todas têm os documentos necessários para vender seus produtos em projetos institucionais.
O sucesso desses acampamentos está ligado à determinação de seus membros em adotar práticas agrícolas sustentáveis. O primeiro passo foi transformar a área ocupada, que antes era dedicada à pesquisa de pesticidas, em um espaço de agricultura orgânica. “Quando chegamos dentro da nossa área era praticamente só um campo de teste. Hoje é uma agrovila. Quase todos os lotes têm árvores frutíferas e árvores nativas”, destaca Rosane.
Além disso, o compromisso com a preservação do meio ambiente é evidente na expansão das reservas naturais e no cuidado com as nascentes. A área é totalmente orgânica. Dentre os alimentos, é cultivado milho crioulo 100% livre de transgenia. Para garantir a pureza dos orgânicos, os agricultores observam o plantio dos vizinhos e aguardam um intervalo para evitar a polinização cruzada.
Doação de alimentos
A solidariedade é outro objetivo importante. Durante a pandemia, a cooperativa fez a distribuição gratuita de alimentos em Castro. Com esse exemplo, o MST passou a fazer doações em outras cidades do Paraná e do país. No início da pandemia, quase quatro toneladas de produtos foram doadas em Castro, fornecendo alívio a muitas pessoas que enfrentavam dificuldades devido ao fechamento de negócios e à falta de recursos.
“Essa ação não apenas ajudou a comunidade, mas também deu visibilidade positiva ao nosso acampamento de sem-terra, desmistificando estereótipos negativos sobre nós”, ressaltou Rosane.
Além disso, os acampamentos continuam trabalhando em parceria com a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEL) em projetos de economia solidária, vendendo diretamente do produtor para o consumidor.
*Esta matéria faz parte da edição especial Brasil de Fato Paraná - 20ª Jornada de Agroecologia.
Edição: Lia Bianchini