A 20ª Jornada de Agroecologia terminou neste domingo (26), após cinco dias de promoção da produção agroecológica e do debate acerca de saídas para a crise ambiental, no Campus Rebouças da UFPR, em Curitiba.
Quem andou pela Feira da Agrobiodiversidade Camponesa e Popular pode ver de perto e levar para casa uma grande diversidade de alimentos saudáveis e itens da economia solidária. A variedade expressa a riqueza da produção agroecológica em todo o Paraná: foram mais de 900 itens in natura e processados, 560 variedades de sementes crioulas. Mais de 5 mil kits de sementes agroecológicas Bionatur foram doadas para as pessoas participantes.
Grãos, tubérculos, hortifruti, erva-mate, café, cerveja artesanal, queijos, iogurte, picolés e sorvetes à base de frutas da Mata Atlântica, fubá e uma lista extensa de produtos coloriam as tendas montadas no pátio da universidade.
A produção é fruto do trabalho de cerca de 120 coletivos, empreendimentos de economia solidária, indígena, cooperativa da reforma agrária e da agricultura familiar, vindos de todas as regiões do estado. Os cinco dias de trabalho envolveram mais de 300 expositores e feirantes. Os sabores da agroecologia também estavam presentes no espaço Culinária da Terra, que serviu mais de 30 variedades de pratos e quitutes.
“A construção da Jornada de Agroecologia tem demonstrado um potencial muito grande de produção de alimentos, com uma diversidade de produtos que aumenta cada ano, produzidos por camponeses e comunidades tradicionais. Esse debate faz em torno de 30 anos que a gente vem construindo e estamos com todas as certezas de que é o caminho certo”, garante o produtor agroecológico Armelindo da Maia, integrante da direção estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da coordenação da Jornada.
A reflexão e as trocas de experiências movimentam centenas de pessoas em mais de 30 conferências, rodas de conversas, seminários e oficinas. Para essas atividades, o evento ocorreu em parceria com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e o Instituto Federal do Paraná (IFPR), que cederam salas para a realização das formações, além da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Leci Brandão, Bia Ferreira, Chico César foram os três artistas nacionais que lotaram a plateia do palco principal da Jornada. Em comum, os três cantores e compositores trazem o apoio à agroecologia, à reforma agrária e às causas sociais e populares. Além deles, a programação cultural contou com mais 20 atrações, entre música e teatro.
A Jornada de Agroecologia é realizada desde 2002, de forma conjunta por cerca de 60 organizações, movimentos sociais e populares, coletivos e instituições de ensino. O objetivo central é fomentar a agroecologia e mostrar ao grande público urbano os frutos e a viabilidade deste modo de produção de alimentos, baseado no equilíbrio ambiental e na qualidade de vida para quem produz e quem consome.
Neste ano, a edição contou com A atividade tem patrocínio Itaipu Binacional, Conselho Nacional Sesi, Fundação Banco do Brasil e Governo Federal, com apoio da Agroecology Fund, Secretaria de Agroecologia e Abastecimento, Incra, Conab, Ministério Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar e Governo Federal.
Por apoio à transição da matriz produtiva
A advogada Tchenna Maso, coordenadora do programa Iguaçu da Terra de Direitos e integrante da coordenação da Jornada de Agroecologia, frisou a importância da realização da edição no final do primeiro ano de governo Lula, para o balanço das políticas públicas, como foi feito nos vários seminários e oficinas que foram realizados ao longo do evento.
“Avançamos muito, em termos de agroecologia, em ter uma Secretaria Nacional de Agroecologia, mas ainda falta o governo avançar com orçamento, crédito rural, com a inclusão das mulheres na agroecologia, e esses foram alguns dos temas que a gente debate aqui”, afirmou.
Outro tema presente ao longo da Jornada é o chamado Pacote do Veneno, projeto de lei que teve regime de urgência aprovado pelo Senado nesta semana. “O Pacote do Veneno é um risco para a produção de alimentos saudáveis e vai na contramão do que o movimento agroecológico propõe”, disse a advogada.
A reivindicação da estruturação de um fundo para transição da matriz produtiva agroecológica foi apresentada a representantes do governo federal e parlamentares no terceiro dia da Jornada, na sexta-feira (24).
Campo e cidade por terra, teto, trabalho e agroecologia
O produtor agroecológico Armelindo da Maia, integrante da direção estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da coordenação da Jornada, avalia que o evento tem se consolidado num movimento de organizações populares do campo e da cidade. “É um espaço que faz esse diálogo com a sociedade e com o governo, sobre a necessidade de a gente mudar o modelo de produção da agricultura brasileira”.
No segundo dia de Jornada, uma audiência reuniu comunidades urbanas e rurais que lutam por moradia e terra, para dialogar com autoridades públicas. A audiência contou com a participação de movimentos sociais do campo, da cidade e movimentos indígenas, além de parlamentares e representantes do governo federal.
Durante a reunião, dezenas de comunidades que enfrentam ameaça de despejo entregaram uma pauta de reivindicações às autoridades presentes. O governo federal se comprometeu a criar a ouvidoria urbana para mediação de conflitos urbanos, uma das demandas centrais da articulação Despejo Zero. O compromisso foi firmado por Kelli Mafort, secretária de Diálogos Sociais e Políticas Públicas do governo.
A ação foi organizada pela campanha Despejo Zero, que reúne movimentos sociais urbanos, do campo e povos indígenas em defesa do direito de ter uma casa para morar e terra para produzir alimentos.
“E nós estamos muito contentes do ponto de vista dos resultados. Nós fizemos aqui uma importante aliança com o povo urbano que luta por moradia, no que estamos chamando de Despejo Zero, exigindo das autoridades a resolução dos problemas da regularização das ocupações urbanas e rurais”, disse.
Carta da 20ª edição
A carta da 20ª edição da Jornada de Agroecologia, lida no sábado (26), apresenta a síntese comum das dezenas de organizações que compõem este movimento em prol da agroecologia.
As organizações denunciam os crimes ambientais cometidos pelo capital, com a conivência de governos: “É preciso recordar a origem da crise climática e a responsabilidade dos países do norte no aquecimento global para entender quem sai favorecido nas soluções globais do mercado de carbono”.
Diante dos anúncios de ameaça global pela crise climática, a Jornada afirma que “a agroecologia precisa entrar como meta prioritária de ação, sendo reconhecido seu papel para assegurar o direito à alimentação adequada”, com políticas públicas e fomento para a transição da matriz de produção para a agroecologia.
Edição: Lia Bianchini