Paraná

Violência policial

Era brilhante e cheio de sonhos, relatam professores do jovem morto pela Guarda Municipal

Morte está sendo investigada pela Policia Civil; guardas foram afastados

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O jovem Caio José queria estudar para mudar o mundo - Arquivo pessoal

Caio José Ferreira, 17 anos, morreu no sábado, 25/3, baleado pela Guarda Municipal de Curitiba, no bairro CIC. A morte está sob investigação da Polícia Civil e da Corregedoria da Guarda Municipal. Em nota, a Guarda diz que houve uma patrulha na CIC, após chamado por suspeita de tráfico de drogas. Na versão dos guardas, o adolescente teria tirado do boné uma faca de 25 centímetros após tentar fugir da abordagem e que o agente que disparou teria se sentido ameaçado. A prefeitura de Curitiba informou que as câmeras corporais dos guardas estavam desligadas. 

Versão que é considerada, no mínimo, estranha por quem conhecia o jovem. Além de ser difícil alguém ter uma faca de 25 centímetros num boné, pessoas ouvidas pelo BDF-PR relatam que Caio era uma pessoa calma, atenciosa, estudiosa e querida por colegas e professores. Ele cursava o 3º ano do ensino médio pela manhã, no Colégio Estadual Júlia Wanderley, e à tarde trabalhava como jovem aprendiz numa empresa de telemarketing.  

 

Querido por todos na escola 

O diretor, professor Cristiano André Gonçalves, diz que foi um choque para toda a comunidade. “Era um estudante brilhante, cheio de sonhos, muito comunicativo e querido por todos os professores. Ele esteve conosco desde o sexto ano e estava empolgado com a formatura do ensino médio. A aula, nesta segunda-feira (27) foi toda em homenagem a ele. Recebemos a visita da família, que veio especialmente para acompanhar”, conta. O diretor diz que estão atendendo e acolhendo alunos, abalados emocionalmente. 

Para Maíra Souto, professora de História de Caio do sexto ano até o ensino médio, o sentimento é de muita tristeza. “Estamos arrasados. Ele era um menino muito bom e acho que é unânime essa imagem que fica o quanto ele era educado, gentil e muito grato com todos. Abraçava todo mundo e dizia que gostava de todo mundo. Ele era ‘rapper’, fazia rimas como ninguém, tinha uma crítica muito construtiva, falava muito em justiça, se posicionava sempre de uma maneira respeitosa”, conta. “Eu era sua admiradora. Tiraram parte dos nossos sonhos quando o mataram”, conclui Maíra. 

Segundo o Professor Ricardo José Bois, o jovem tinha sonhos de mudar o mundo. “Falar do Caio é muito fácil, ele era um estudante que eu conheço desde o sexto ano, era amável, tinha muita alegria e energia positiva, um ótimo senso humor, sempre como sorriso no rosto, altamente politizado, sempre atento a questões sociais e políticas, não hesitava em expressá-las de forma clara e respeitosa. Nas últimas conversas, falou da vontade de prestar vestibular para Filosofia, História ou Ciências Políticas. Tinha o sonho de fazer algo que um dia pudesse mudar o mundo e ajudar tornar a sociedade melhor e menos perigosa para a juventude” diz Bois. 

O corpo de Caio foi sepultado no domingo, 26. Em nota, a Guarda Municipal lamentou a morte, disse que o caso é investigado pela Polícia Civil e que a Corregedoria abriu procedimento para apurar a conduta dos agentes, que estão afastados do trabalho operacional. 

 

Edição: Frédi Vasconcelos