Paraná

Violência policial

“Dizia que tinha um policial ameaçando ele de morte”, diz tia de jovem morto no Parolin

Familiares foram ouvidos pelo Gaeco e inquérito policial foi instaurado pela Delegacia de Homicídios

Curitiba |
Familiares e moradores do Parolin fecharam as ruas do bairro em protesto contra a morte de Dalysson - Vanda Moraes

Uma operação policial no bairro Parolin, em Curitiba, comandada pelo Batalhão de Eventos da Polícia Militar terminou com a execução de Dalysson, um adolescente de 17 anos, na sexta (02). A polícia alegou que houve confronto durante a operação. Moradores e familiares, no entanto, relatam que o jovem não reagiu, não portava armas e, inclusive, levantou as mãos para o alto ao ser abordado. Seis policiais participaram da ação.

Além da execução que deixou moradores revoltados, relatos de testemunhas que estavam no local dizem que o corpo do menino ficou por mais de meia hora sem assistência ou socorro. A pedido da Defensoria Pública e de advogados da família da vítima, um inquérito foi instaurado pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e pela Delegacia de Homicídios. Testemunhas e familiares já foram ouvidos.

A tia de Dalysson, Elaine Ferreira, contou ao Brasil de Fato Paraná que estava com o sobrinho minutos antes de sua morte. “Ele estava na minha casa e de lá saiu para casa da mãe, que mora no fundos. Encostou a porta e saiu. Quando deitei na cama, eu já escutei ele gritando, dizendo que 'tinha perdido' mas que não precisava atirar. A minha filha abriu a janela e viu eles dando o tiro nele. A minha filha ainda gritou e eles mandaram ela entrar porque se não iam dar um tiro na cabeça dela também, chamando ela de vagabunda”, relatou.

Ameaças de policiais

Elaine ainda relembra que o jovem vinha expressando preocupação com ameaças que vinha recebendo de policiais. “A gente não sabe de nada ainda [sobre o] porquê atiraram contra ele. Ele teve um problema uns cinco meses atrás com venda de droga, mas já tinha parado com isso. Uns dias antes ele me falou que tinha um policial ameaçando ele de morte. Contou que dizia que quando pegasse ele sozinho, ia matar ele.  Eu até conversei com ele e disse pra ele ir embora daqui”, contou Eliane.

Em depoimento ao Gaeco, a tia de Dalysson contou ter dito que não sabia o motivo pelo qual o policial vinha o ameaçando. "Não sei se ele sabia coisa demais, porque teve até um dia que o policial veio de noite falar com ele”, disse.

Defensoria acompanha o caso

Segundo a defensora Andressa Lima de Menezes, que acompanha o caso pela Defensoria Pública do Paraná, “a Polícia Civil foi oficiada para que assumissem a investigação pelos fatos, pois entendemos não se tratar de suposto crime de natureza militar.”

Em nota, o Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos (NUCIDH) e Núcleo de Política Criminal e Execução Penal (NUPEP) da Defensoria Pública do Estado do Paraná (DPE-PR) informaram, “que acompanham com preocupação a atuação da Polícia Militar do Paraná em uma incursão operacional dentro do bairro Parolin.”  A equipe do NUCIDH esteve no bairro acompanhando os desdobramentos da ação policial e ouvindo os moradores para entender como tudo aconteceu.

O que diz a polícia

Em nota, a assessoria de comunicação da Polícia Militar do Paraná informou que “uma equipe policial realizou tentativa de abordagem a uma pessoa no bairro Parolin, na tarde de sexta feira, 02, em que este se evadiu e acabou por se deparar com outra equipe durante a fuga. Neste momento, sacou uma arma de fogo e realizou disparos contra os policiais. A equipe revidou e acabou por atingir o suspeito. Foi imediatamente acionado socorro médico constatando sua morte. Junto ao corpo foi localizado uma arma de fogo, drogas embaladas prontas para venda, caderno com anotações referentes à venda de drogas e dinheiro em espécie em cédulas trocadas. Após isolar o local para realização das perícias pela Polícia Científica, a população local veio a investir contra os policiais no intuito de invadir o local temporariamente isolado, com arremesso de pedras e outros objetos que vieram a atingir policiais e viaturas envolvidas na ocorrência. Mesmo com a investida contra as equipes, foi possível realizar as perícias necessárias que irão compor o Inquérito Policial Militar pertinente ao caso, este após concluído será remetido ao Ministério Público.”

Sobre as ameaças que o jovem estaria recebendo, a assessoria respondeu que "todos os fatos narrados por familiares e testemunhas, inclusive na Corregedoria da Polícia Militar, farão parte da instrução processual do Inquérito Policial Militar."

Edição: Lia Bianchini