Moradores do Jardim Magnópolis, na cidade de Araucária, região metropolitana de Curitiba, estão apreensivos e assustados. Isso porque recentemente duas famílias foram despejadas da área.
Agora, outras 28 famílias estão na incerteza, em um local onde a memória popular aponta moradia desde os anos 80 e até 70. O pedido de reintegração de posse partiu da Companhia de Iluminação do Paraná (Copel), reivindicando que na área passa uma rede de transmissão de energia.
Um dos maiores problemas se deu, no entanto, na retirada das duas famílias. Os moradores alegam que não houve canais de negociação entre guarda municipal, prefeitura, órgãos públicos e famílias. Além disso, a ação da guarda municipal foi truculenta na ação.
Passado o período de dois anos recentes de pandemia, quando havia indicativo nítido do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação à não realização de despejos forçados no período da pandemia, agora a ameaça de despejo atinge também famílias assentadas há um longo período.
A ameaça de retirada de famílias há tanto tempo instaladas em um mesmo local causa inúmeros problemas. “Tenho meu trabalho de manicure aqui em casa, dois filhos, toda uma vida construída”, enumera a moradora Eliane Sdrait.
Outra liderança local, Dileuza, reforça o vínculo com a comunidade, uma relação que é pessoal e ao mesmo tempo de trabalho. Dileuza afirma que “Nunca esperava que isso ia acontecer, porque aqui era o nosso sonho, um sonho que está indo embora, todo mundo está apreensivo, já gastei só neste ano 4 mil reais na minha banquinha de salgados e bebidas. Tentamos impedir, chorando, o despejo das famílias, mas ali não tinha como. Muito difícil para a gente. Agora, estamos na luta”, aponta.
Dileuza aponta, durante reunião com movimentos sociais, que estão articulando uma associação de moradores, parcerias com mandatos parlamentares progressistas e com a articulação Despejo Zero como forma de fortalecer a organização da comunidade.
Despejo de um sonho
Integrante da direção estadual do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Joabe Oliveira afirma que a articulação Despejo Zero não faz promessas, mas envolve as comunidades a partir de suas demandas, gerando solidariedade entre todas elas. “O despejo não é só da casa, mas de um sonho de vida, por isso estamos juntos e criamos um canal de diálogo importante no Paraná, que é modelo para o país, entre movimentos populares e Comissão de Conflitos Fundiários do Tribunal de Justiça do Paraná”, afirma.
Karina Verhagen, militante do PT local, critica a forma como a gestão de Hissam Hussein Dehaini (Cidadania) trata as comunidades: “Em uma das cidades mais ricas do Paraná, ao invés de investimentos, a prefeitura investe em despejos forçados”, critica.
Outro lado
Em nota, solicitada pela reportagem, sobre a situação das famílias, a resposta da prefeitura de Araucária se deu nos seguintes termos:
"As famílias podem se inscrever ou atualizar o cadastro anualmente na Companhia de Habitação de Araucária para entrar/manter-se na fila dos empreendimentos do município. Os moradores podem obter mais informações pelo telefone 3031-3939"
A reportagem também solicitou à Copel se a companhia tem alguma posição oficial sobre a situação das famílias despejadas, acompanhamento ou alguma forma de apoio. A assessoria de imprensa da companhia ficou de enviar uma nota, mas até o fechamento deste texto não foi enviada ainda.
Edição: Frédi Vasconcelos