Paraná

LUTA INDÍGENA

Sobrecarregada, com falta de itens básicos, Casa de Passagem Indígena pede apoio

Lideranças criticam Fundação de Ação Social (FAS) e governo do Paraná, cuja atuação é insuficiente neste momento

Curitiba (PR) |
Faltam colchões no final do ano para os indígenas comerciantes que vêm até Curitiba e região - Winícius Rodrigues

Lideranças indígenas responsáveis pela Casa de Passagem e Cultura Indígena (CPCI) apontam que, em meio à lotação deste período de final de ano, não contam com apoio total de órgãos públicos como a Fundação de Ação Social (FAS) e do governo do Paraná.

De acordo com os líderes, de imediato, no que toca as tarefas do município, faltam itens necessários de alimentação, colchões e higiene, devido à lotação. No que se refere ao governo do estado, de acordo com elas, falta comunicação com a Casa e com os municípios de onde vem a população indígena.

A Fundação municipal é responsável pelo aluguel, manutenção do espaço e estrutura de retorno para as pessoas, fazendo o fornecimento de itens de alimentação de acordo com o número de pessoas presentes na casa - número que aumentou muito nesse final de ano.

A Casa normalmente recebe famílias que buscam, em Curitiba, local de repouso e armazenamento para vender o artesanato feito nas suas comunidades. 

Com isso, recebe indígenas, na maioria da etnia caingangue, de diferentes regiões do Paraná e de comunidades, como é o caso de Rio das Cobras e Marrecas. Está aberta a indígenas de todas as etnias e regiões, ressalta Silas Ubirajara Donato De Oliveira, coordenador da Casa de Passagem. Como casa de transição e hospedagem, recebe também artesãos de outros estados.

De um número relativamente baixo de hóspedes, agora a casa alcança 250 pessoas. São 105 crianças e 78 famílias, aponta Jucimar Ribeiro, um dos responsáveis pelo espaço, que atendeu à reportagem do Brasil de Fato Paraná. Com isso, o relato é de falta de cobertores – em um verão curitibano em que ainda não faz calor -, falta de colchões e pessoas dormindo direto no chão.


“Foi uma luta e até hoje há pessoas que não entendem que não há espaço para tutela, mas para a auto-organização de nossos povos”, afirma Mari Kixirrá / Winícius Rodrigues

Campanha de apoio pede itens de higiene, limpeza e colchões

“A FAS liberou apenas 105 colchões. É uma ajuda, mas hoje estamos com cerca de 200 pessoas. Deve ficar lotado essa semana e a outra. O governo do Paraná também não está tendo comunicação com a coordenação da casa e com os municípios”, dimensiona o problema Silas Ubirajara.

Por isso, campanhas da sociedade civil tem pedido doações de alimentos, colchões, itens de higiene, produtos de limpeza, frutas e legumes, cobertas, papel higiênico, entre outros produtos. Basta levar à sede da Casa (Rua Rockfeller, 1177, bairro Rebouças). Organizações como SOS Vila Torres, Redentoristas, Marmitas da Terra e União de Moradores e Trabalhadores (UMT) comprometeram-se com envio de itens.


Organizações como o Marmitas da Terra têm apoiado a luta e trocado solidariedade com as organizações do movimento indígena / Winícius Rodrigues

Repetição a cada ano

Infelizmente, todo o fim de ano, com a vinda de famílias indígenas para a capital, deparam-se com alguma forma de problema. Seja a questão da lotação, como acontecia no início da casa, em 2015, seja a questão de ausência de espaço, como ocorreu em 2022, ou mesmo o atual problema da lotação sem total apoio do poder público.

Resultado de luta popular

A Casa de passagem é resultado da luta realizada no final de 2021 pela reabertura após o fechamento durante a pandemia de covid-19.

Cerca de 60 famílias indígenas, sobretudo mulheres, acamparam no Centro Cívico. A memória hoje é de uma conquista do local, e também da conquista da pauta de autogestão do espaço, sem tutela oficial e respeitando as articulações dos povos indígenas.

“Foi uma luta e até hoje há pessoas que não entendem que não há espaço para tutela, mas para a auto-organização de nossos povos”, afirma Mari Kixirrá, indígena oriunda do povo Jamamadi, do Acre, e integrante da União de Moradores (UMT), parceira da Casa de Passagem.

Em artigo de opinião da vereadora Professora Josete (PT), dados do governo do Paraná apontam que cerca de 13.300 indígenas vivem no estado, pertencentes ao povo cainguangue e guarani na sua maioria, e restam poucas famílias de xetás e xokleng, vivendo em 23 terras indígenas. “Os povos originários desde a chegada dos colonizadores foram exterminados e ou perseguidos, suas terras invadidas e sua cultura desrespeitada”, escreveu, em sua coluna de opinião no site Plural.

Posição da Fundação de Ação Social

Procurada pela reportagem do Brasil de Fato Paraná, via assessoria de imprensa, a direção da FAS trouxe a resposta abaixo sobre as críticas às condições no interior da Capai:

“A Casa de Passagem Indígena funciona em regime de autogestão, ou seja, a Fundação de Ação Social (FAS) fornece o espaço físico e os insumos necessários para que as próprias pessoas indígenas se organizem internamente.

O volume de alimentos, colchões e roupas de cama é entregue de acordo com uma lista nominal que as lideranças da unidade encaminham à FAS semanalmente.  A alimentação fornecida para as pessoas que estão na Casa respeita os hábitos alimentares, a cultura e os costumes da população indígena.

Sobre as reclamações, a Prefeitura de Curitiba informa que mantém diálogo permanente com os movimentos sociais e procura atender as demandas sempre da melhor forma".

 

 

Edição: Ana Carolina Caldas