Paraná

GESTÃO INEFICIENTE

Em Curitiba, há comunidades sem água (e outras com inundações)

“Foi preciso muito balde d´água” protestam moradores da ocupação Dona Cida

Curitiba (PR) |
Ontem (15), finalmente moradores da ocupação Dona Cida voltaram a ter acesso à água depois de doze dias - Giorgia Prates

(A partir de imagens e foto-reportagem de Giorgia Prates e Lian Voigt)

 

Doze dias sem água. Entre chuvas e sol. Entre carregamentos de baldes a partir da solidariedade oferecida pela associação de moradores vizinha. 

Este é o relato dos moradores da ocupação Dona Cida, localizada na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), localizada entre a Cidade Industrial de Curitiba e bairro São Miguel, no complexo de quatro ocupações organizadas entre 2012 e 2015, ao lado do aterro sanitário da empresa Essencis.

Ontem (15), finalmente moradores da ocupação voltaram a ter acesso à água depois de doze dias, de acordo com relatos. Apesar de a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) ter encontrado o foco do problema por parte da empresa pública, três lideranças relatam para a reportagem do Brasil de Fato Paraná que a principal questão foi a falta de canais, retorno e agilidade da empresa.

“A Sanepar arrumou o cavalete e descobrimos o que havia acontecido. Problema no manilhamento e vazamento interno. Mas, antes disso, ficávamos ligando pra Sanepar e nunca vinha resolver. Sorte que tem banheiros comunitários, as pessoas pegavam água na sede (da associação), a partir da solidariedade. Se tivessem resolvido logo, não teríamos tido tantos problemas”, critica Juliana Almendro, liderança da Dona Cida.

Ao dar o depoimento à reportagem, ainda no domingo (10) essas lideranças locais já estavam no auge do desespero e do esgotamento com a lentidão do poder público. "Como mãe e filha da comunidade, não estamos mais levando pra escola porque não temos roupa, uma falta de pouca vergonha”, afirma “Polaca”, moradora da região, que preferiu não se identificar.

Ao fim e ao cabo, como sempre acontece, prevaleceu a solidariedade no bairro. Assim mesmo, os problemas e impactos se acumularam sobre a vida das pessoas. “Estamos há oito dias sem água. Estamos pegando na sede da ocupação 29 de Março para comida e banho. Tem um lixão aqui perto. Não tem como ficar lavando. Temos pessoas acamadas e não tem como puxar água (...) Nunca chega no dia, sempre tem uma desculpa”, afirmou Juliana, no dia 10.

Por sua vez, procurada pela reportagem, a Sanepar, por meio da assessoria de imprensa da companhia, informe que: "uma representante dos moradores entrou em contato com a empresa e que o problema já está resolvido".

Em outras vilas, casas são invadidas pela água

Enquanto a Dona Cida viveu a experiência da falta de acesso à água, neste dezembro, o aumento do índice de chuvas em Curitiba e região fez com que várias comunidades tenham sofrido com as cheias.

Reportagem recente do Brasil de Fato Paraná mostrou que houve registro de casos de inundações no Parolin, Novo Mundo (bolsão Formosa), vila Barigui (Cidade Industrial) e Uberaba.

A responsabilidade, neste caso, é da Secretaria Municipal de Obras. Há sinalização de reunião recente com as comunidades. Assim que tiver essas informações, a reportagem deve divulgar.

Nacionalmente, empresas de água e energia na mira das privatizações:problemas e consequências

Consultorias e empresas ligadas ao mercado financeiro têm apontado a tentativa de privatizar companhias de energia e saneamento nos estados.  Esse cenário se deve ao exemplo do que aconteceu recentemente com a Copel, quando o governo Ratinho Jr, apesar de promessas contrárias na campanha, pulverizou o controle ordinário da companhia de energia, oferecendo ao mercado um patrimônio que deveria ser público.

As estatais de água e energia de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, entre outros, têm sido foco desses analistas. No caso da Sanepar, alguns sites consultados apontam que ainda não veem sinalização de privatização da companhia. No entanto, casos como a ausência de água na Cidade Industrial de Curitiba podem apontar precarização dos serviços justamente como pretexto para a privatização.

A manobra de agentes do mercado é compreensível dentro da ideia de que o governo federal de Lula deve representar um freio nas privatizações levadas a cabo com força no governo Bolsonaro. O governo que se encerra pulverizou ações da Eletrobras, privatizou setores da Petrobras, iniciou privatização da gestão dos portos brasileiros e ameaçou privatizar os Correios, reduzindo, com isso, a capacidade de investimento do Estado.

Edição: Lia Bianchini