Paraná

Violência policial

Policial acusado de assassinar jovem em Curitiba é afastado das funções pela Gaeco

Mãe de Dallyson diz estar sofrendo ameaças de policiais desde a morte do filho

Curitiba (PR) |
Em setembro, operação policial comandada pelo Batalhão de Eventos da Polícia Militar terminou com o assassinato de Dallyson Willian Mariano - Foto: Giorgia Prates

Nove policiais militares foram afastados das ruas suspeitos de envolvimento em ações que resultaram na morte de 12 pessoas em Curitiba e Região Metropolitana, segundo o Ministério Público (MP). O afastamento aconteceu nesta terça (13), a partir de uma ação deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), que investiga mortes de cidadãos em confrontos policiais.

Segundo a instituição, há indícios de que as descrições feitas pelos policiais militares nos boletins de ocorrências de pelo menos quatro casos não condizem com a realidade. Entre os casos, o que diz respeito à morte do adolescente Dallyson Willian Mariano, de 17 anos, morto no bairro Parolin, em 2 de setembro de 2022.

Mãe do menor relata ameaças 

Ao saber do afastamento de um dos policiais pela operação deflagrada nesta semana, Daiane Aparecida Mariano, mãe de Dallyson, disse estar um pouco mais tranquila, porém relata que homens à paisana chegaram a ameaçá-la.

“Sobre as investigações, com essa notícia tivemos uma resposta. Enfim, afastaram o policial que matou o meu filho. Agora, desde a semana passada tem vindo policiais aqui e tentam entrar dentro de casa. Outro apareceu no domingo, na porta, pedindo para eu não procurar mais a Gaeco. Mas isso a gente levou também para quem está investigando. O estranho é que antes da morte do meu filho ninguém vinha aqui toda hora”, conta.

Segundo relato de Daiane, pelos menos três ameaças aconteceram desde que o caso começou a tomar proporções maiores. No dia 21 de outubro, logo após uma manifestação que ocorreu em frente ao Ministério Público do Paraná reunindo familiares de vítimas de violência, policiais que estavam presentes no dia do assassinato do Dallyson tentaram invadir a casa da mãe do jovem.

Recentemente, no dia 4 de dezembro, policiais que supostamente estariam na região para efetuar prisões entraram na casa da mãe de Dalysson e de outros familiares e, na rua, agrediram-na, seu marido e vizinhos. Um dos policiais inclusive dizia: "fui eu quem matou seu filho", em uma tentativa nítida de provocação e intimidação.

De acordo com a Gaeco, enquanto perdurar a medida, os investigados só poderão fazer serviços administrativos e estarão proibidos de exercer trabalho operacional armado ou no setor de inteligência. A operação investiga as mortes de seis pessoas no bairro Cajuru, duas no Caximba, duas no Campo Comprido, uma em Campo Largo e uma no Parolin.

A reportagem do Brasil de Fato Paraná entrou em contato com a Polícia Militar pedindo esclarecimentos sobre a denúncia de Daiane Mariano, mas não obteve retorno.

Relembre o caso Dallyson

No início de setembro, uma operação policial comandada pelo Batalhão de Eventos da Polícia Militar terminou com o assassinato de Dallyson Willian Mariano. Segundo moradores, naquele dia, um grupo de jovens foi abordado em uma das ruas do bairro e apenas a vítima permaneceu no local. As fontes relatam que o jovem não reagiu e, inclusive, levantou as mãos para o alto ao ser abordado. Seis policiais participaram da ação.

Ao Brasil de Fato Paraná, à época, moradores que estavam no local disseram que não houve confronto e que sequer os jovens estavam armados. Segundo o Major Rocha, que chegou ao local após o óbito, quando os policiais faziam o isolamento do corpo, o que ocorreu no bairro foi uma "operação para garantir a segurança da população", mas que a ação seria investigada.  

Testemunhas que estavam no local relataram que o corpo do menino ficou por mais de meia hora sem assistência ou socorro. A pedido da Defensoria Pública e de advogados da família da vítima, um inquérito foi instaurado pelo Gaeco e pela Delegacia de Homicídios.  

Edição: Lia Bianchini