Paraná

Protestos golpistas

Setor de serviços pode ter perdas maiores que as da greve dos caminhoneiros de 2018

Bloqueio de rodovias deve causar forte impacto na economia, num momento de baixo crescimento

Curitiba (PR) |
Durante a noite desta quinta (03), todas as rodovias do Paraná foram liberadas - Foto: Agência Brasil

Everton Luis é gerente de vendas em uma empresa de Joinville (SC) e voltava de Curitiba após reuniões de trabalho na capital paranaense. O que deveria ser uma volta tranquila acabou virando um pesadelo de mais de 30 horas de engarrafamento na estrada, além do prejuízo de ter perdido um evento familiar que ocorreria na quarta-feira (02).

“Fiquei aguardando por muito tempo, sem conseguir nem movimentar o carro, sem contar a situação de virar vítima de pessoas que não têm respeito pelo direito de ir e vir, tampouco pelo direito do voto da maioria”, diz.

A realidade do gerente foi a mesma de milhares de paranaenses, e brasileiros, com mulheres e crianças parados em ônibus e carros, com produtos estragando em caminhões, ao longo da semana, por conta do fechamento das rodovias organizado por grupos bolsonaristas que não aceitam o resultado das urnas. E os prejuízos por conta das manifestações golpistas, que pedem intervenção militar para manter Jair Bolsonaro na Presidência, podem ter forte impacto na economia num momento de baixo crescimento.

De acordo números da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (Abad), o setor pode ter perdas que beiram aos R$ 700 mil a cada dia de estradas bloqueadas. Já de acordo com a Confederação Nacional do Comércio, os prejuízos para área podem ultrapassar os de 2018, na última grande greve de caminhoneiros. A entidade cita, em nota, que a perda diária pode bater quase R$ 2 bilhões.

“O movimento pode ocasionar perdas superiores às registradas por ação similar em 2018, que causou retração de 5,8% no volume de vendas, com perda diária de R$ 1,8 bilhão. O custo total para o varejo, em valores atuais, foi de R$ 18 bilhões, contabilizados ao longo dos dez dias de bloqueios em 2018”, cita a nota.

Leite perdido

No Paraná, por exemplo, produtores de leite podem ter que descartar milhares de litros da bebida. A Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) aponta que o fechamento de cerca de 30 linhas de produção, após dois dias de protestos, poderá provocar o descarte de 500 mil litros de leite.

“O monitoramento da Abia contabiliza, no momento, mais de 30 linhas de produção paradas ou com risco alto de paralisação nas próximas horas, caso a situação persista. Se os bloqueios forem mantidos, a partir de amanhã há risco de descarte de, no mínimo, 500 mil litros de leite por dia pelos principais fornecedores de apenas uma indústria associada – além da perda de milhares de produtos acabados. Isso representaria prejuízos milionários para a economia, impactos na inflação e um desserviço aos esforços empreendidos pela sociedade no combate à insegurança alimentar”, afirma a entidade.

Promessa

Na tarde da quinta-feira (3), o vice-governador do Paraná, Darci Piana, em coletiva de imprensa, afirmou que as rodovias do estado serão totalmente liberadas.

“Temos 4,5 mil policiais trabalhando junto com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) para abrir esses pontos que ainda estão bloqueados. Espero que isso acabe hoje, porque estamos tendo prejuízos, principalmente de alimentos e remédios, que não estão chegando na hora certa”, disse.

Durante a noite desta quinta, todas as rodovias foram liberadas no estado. "O trabalho foi feito de forma responsável, com uso proporcional e progressivo dos meios de coerção. Todos os bloqueios foram liberados sem necessidade do uso da força. A decisão judicial foi absolutamente cumprida no Paraná”, afirmou o secretário da Segurança Pública, Wagner Mesquita.

Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini