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Educação

Indígena Kaingang é a segunda na história da UEL a receber título de mestre

Damaris Kaninsãnh Felisbino defendeu sua dissertação no Colégio Estadual Indígena Benedito Rokag, em Tamarana

Curitiba (PR) |
Damaris Felisbino (centro) ao lada filha, Manuela, e dos professores da UEL - Arquivo pessoal

Nesta terça (12), Damaris Kaninsãnh Felisbino se tornou a segunda estudante indígena a receber o título de mestre na Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná. Ela defendeu sua dissertação no Colégio Estadual Indígena Benedito Rokag, na Terra Indígena Apucaraninha, em Tamarana.

Em junho do ano passado, o Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Política Social da UEL concedeu o título à estudante indígena Gilza Ferreira de Felipe Pereira, orientanda do professor Wagner Roberto do Amaral, do Departamento de Serviço Social (Cesa).

Com a orientação do professor Marcelo Silveira, do Departamento de Letras, Damaris concluiu sua dissertação de mestrado, que leva o título “Variação diamésica na Língua Kaingang: reflexões a respeito da variação diamésica, a formalidade e a informalidade na língua Kaingang”.

“Essa dissertação mostra a realidade da língua Kaingang porque ela é riquíssima nas variações. Alguns professores que pesquisaram não falam dessas variações específicas do Apucaraninha”, afirma Damaris. "Acho que vai ser muito importante para quem quiser estudar a língua futuramente, tanto os indígenas quanto não indígenas”, complementa a agora mestre em Estudos da Linguagem.

A banca examinadora foi formada pelo seu orientador e pelo professor Wagner Roberto Amaral. Além dos professores da UEL, que são integrantes da Comissão Universidade para os Índios (Cuia), a banca contou com a presença da docente do Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas, da Universidade de Brasília (UNB), Ana Suelly Arruda Câmara Cabral.

O trabalho realizado pela estudante ajuda a fortalecer a língua e a cultura Kaingang, principalmente para a população da Terra Indígena Apucaraninha. “Quem sempre escreveu e pensou a língua indígena foram os linguistas não indígenas. A Damaris representa essa ‘virada’, ou seja, uma indígena Kaingang pensando a língua do seu povo”, diz Ana.

Honrar ensinamentos das antepassadas

Filha de um professor da língua Kaingang do Colégio Estadual Indígena Benedito Rokag, Damaris ingressou na graduação aos 19 anos, em 2012, ao lado da mãe, Jandira Grisãnh Felisbino.

Para a estudante, a conclusão do mestrado representa a superação de parte das dificuldades impostas pelo histórico processo de exclusão socioeconômica da população indígena. No entanto, há, também, um elemento de sua história de vida que a manteve motivada durante o mestrado: o falecimento da mãe e colega de classe na graduação na semana anterior à formatura em Letras pela UEL.

Como forma de homenagear e honrar os ensinamentos de suas antepassadas, Damaris quer continuar atuando na educação e na inclusão de crianças e jovens Kaingangs.

“A maioria da população não indígena não acredita no indígena, até os próprios indígenas, por conta de tudo o que aconteceu no passado, de mostrar o indígena como inferior. O indígena pode, sim. Se tem um sonho é para seguir. Eu falei tudo isso pensando no que a minha mãe dizia”, conta Damaris.

Mãe de Manoela, de 11 anos, a mestranda acredita na educação como ferramenta de transformação social e construção de uma sociedade menos desigual. “Para o futuro dela, eu queria um Paraná com oportunidade para a diversidade, porque hoje em dia é difícil, até para quem está estudando. Queria um futuro em que a aceitassem como ela é, indígena Kaingang, que tem uma cultura diferente, que as pessoas possam respeitá-la”, afirma.

Edição: Lia Bianchini