A frase “os artistas foram os primeiros a parar e os últimos a voltarem na pandemia” foi repetida inúmeras vezes nos últimos dois anos justamente porque o setor cultural foi um dos mais afetados. Além disso, artistas criticam o governo Bolsonaro pela escassez de políticas culturais e também por retrocessos em direitos conquistados, como o Ministério da Cultura, extinto pela atual gestão.
O Brasil de Fato Paraná ouviu representantes de diferentes segmentos artísticos para saber o que esperam do próximo presidente eleito.
Confira:
Descentralizar o acesso
Elton Luiz Carlos Machado Gonçalves - poeta e ator da periferia de Curitiba
“Faço música e teatro, sou morador da periferia de Curitiba e falo deste lugar. Acho que uma das coisas que a periferia mais carece é de cultura, seja ela como for. O acesso que a gente pode ter, salva vidas. Os artistas da periferia precisam de acesso à cultura, as políticas culturais são centralizadas. Se um político quer que um país tenha de fato um avanço, precisa investir em cultura, que ela está em tudo e dentro de nós. Precisam priorizar artista porque o que tem acontecido é a gente, principalmente jovens, desistir do caminho da arte porque não tem investimento e valorização.”
Reconstrução de políticas públicas
Kátia Drumond - cantora, compositora, atriz, bailarina, coreógrafa, diretora artística
"Tivemos três anos inoperantes em relação à Cultura, com a desconstrução de políticas públicas que havíamos construído ao longo de décadas. Temos o Sistema Nacional e o Plano Nacional aprovados, o Sistema de Audiovisual, a Funarte [Fundação Nacional de Artes], todo esse conjunto de equipamentos que auxiliam a gestão pública e que estão completamente esvaziados ou com pessoas despreparadas. Com um governo Lula, a esperança é que ele foque na restituição do Ministério da Cultura e na aprovação da última fase da PEC 150, que cria o Sistema Nacional de Cultura. Porque sem essa estrutura, seguiremos na fragilidade que está o sistema de governança no setor cultural.”
Cultura gera emprego e renda
Aly Muritiba - cineasta
“A cultura só não morreu porque os artistas são muito resistentes, mas usando uma alegoria médica: eu diria que estamos na UTI. A atual gestão representou a quase morte da cultura. O que esperamos da [próxima] gestão, que espero seja do presidente Lula, é que olhe com olhos muito especiais para esse setor que é muito importante, inclusive sob o ponto de vista econômico. A cultura gera renda, emprego. A primeira medida do Lula, ao assumir em 2023, espero que seja recriar o Ministério da Cultura, logo em seguida garantir, com apoio político do parlamento, a manutenção do Fundo Setorial do Audiovisual e a não extinção da Codecine [Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional].”
Volta imediata do Ministério da Cultura
Octávio Camargo – professor da Escola de Belas Artes, compositor e diretor de teatro
“Primeiramente, o que precisamos de imediato é a volta do Ministério da Cultura. E que haja dotação orçamentária, pelo menos o que está estipulado na PEC 150. Em terceiro, que se leve a sério os fundos estaduais de cultura. É claro que para que isso tenha efetividade precisamos do Sistema Nacional de Cultura operante.
Cultura até os rincões do país
Sylviane Guilherme - pesquisadora de dança, professora e integrante do Coletivo Nacional de Cultura do MST
"Se as políticas culturais já eram insuficientes, depois desses seis anos isso se agravou com redução de recursos, editas em menores quantidades. Imaginem para a produção cultural no campo, isso foi quase extinto. O que a gente espera dos próximos governantes é que políticas sejam retomadas e que tenhamos projetos que sejam permanentes e não pontuais. Que a gente volte a ter Ministério da Cultura, concurso para trabalhadores da cultura e acesso de recursos e políticas que cheguem até os rincões do nosso país."
Edição: Frédi Vasconcelos e Lia Bianchini