Paraná

ESQUERDA NO ESPELHO

Artigo | Fórmulas empoeiradas e retórica vazia

"Mas fiquei profundamente desapontado, eles riram das minhas principais referências teóricas"

Curitiba (PR) |
Ato contra a tentativa de cassação do mandato de Renato Freitas (PT) - Gibran Mendes

Entrei na Universidade no tempo em que o salário mínimo era R$ 240,00, e o Restaurante Universitário era R$1,30. Não tinha bolsa permanência, cotas raciais ou sociais.

Até os mais progressistas dos estudantes saíram às ruas quando foram ameaçados pelas cotas. Lembro hoje que a gestão (2004 ou 2005) do DCE (rachada, faça-se justiça) fez panfletos, passeatas e eventos para demonstrar os motivos pelos quais as cotas (ao menos a 'racial') não deveriam ser implementadas.

Lembro que um dia estava eu curtindo um Rap no Centro Acadêmico de Ciências Sociais, meu curso, e entraram os dois representantes maiores da "esquerda" na salinha. Ouviram um ou outro verso do Facção Central e não tardaram a rir. “Esse é o historiador do grupo”, disse um em tom jocoso, "e esse é o cientista social", retrucou o segundo 'militante' das causas sociais.

Fiquei de cara, mas abri meu sorriso amarelo.

O espaço era deles, afinal eu não tava do lado de lá da ponte, nas margens da BR-116 em Colombo (minha casa na época). Mas fiquei profundamente desapontado, eles riram das minhas principais referências teóricas, riram dos meus primeiros esquemas de compreensão do mundo, sobretudo do MEU mundo. Riram como se não fôssemos nada, riram como se não fosse ter virada.

Abandonei o curso no segundo ano para trabalhar, já que o curso era só diurno, só para quem não precisava ter a tal da CTPS registrada.

Hoje, sempre que vejo o movimento estudantil e suas lideranças, romantizando a pobreza e a fudição, com suas vanguardistas fórmulas empoeiradas, sua retórica vazia de sentimento e cheia de 'radicalismo', lembro daqueles dois manés, e compreendo as razões da 'esquerda' não representar sequer "2%" da vontade popular nos momentos de disputas institucionais, e menos que isso na realidade cotidiana de quem tá jogado no centro da exclusão.

Como diz o Mano Brown, playboy bom é chinês e australiano...

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Edição: Pedro Carrano