“Na sexta feira, quando tudo aconteceu, Elias, tinha se programado para jogar bola com o Gustavo e o Felipe. Mas o Gustavo chamou para andar no carro novo dele, pra se mostrarem com um carrão,” conta a esposa, que hoje cria sozinha os dois filhos pequenos deixados por Elias. Com a mudança de planos, o jovem de 17 anos colocou perfume e uma boa roupa e se animou para andar no “carrão”, como ele comentou ao sair. Um carro modelo Tucson, que, segundo contam os familiares, era um “pisadeira”, ou seja, carro com prestações pendentes, que iria ser tomado.
Porém, os planos de andar de carrão viraram uma grande tragédia. Dos quatro, apenas um era maior de idade. Eduardo Augusto Damas tinha 21 anos, Elias Leandro Pires Pinto tinha 17 anos, Felipe Bueno de Almeida tinha 16 anos e Gustavo Bueno de Almeida tinha 14 anos. Na sexta, 27 de setembro, os jovens estavam no mesmo carro, no bairro Hauer, quando foram mortos a tiros durante uma perseguição policial.
Policiais, na mesma noite, disseram que os jovens estavam armados. Familiares e moradores negam, veiculam vídeos com os tiros, semelhantes a uma execução, e pedem provas. Moradores dizem que câmeras do local próximo ao ocorrido sumiram. Por mediação do Ministério Público, que recebeu as famílias dos jovens mortos, o caso vem sendo investigado em sigilo. Dois protestos aconteceram no bairro Parolin, organizados pela comunidade em comoção e pedindo por justiça.
“Ele era muito querido por todos, pelos amigos, família, todo mundo. Era alegre e gostava de zoar todo mundo,” conta a irmã de Elias, que diz que a comoção da comunidade deve-se ao fato de os jovens serem queridos por todos. “Não saíram armados. Não tinham arma. O erro foi quererem andar de carrão,” relata.
Em um dos protestos, o pai de Elias mostrou indignação ao afirmar que não existe nenhum tipo de justificativa para o assassinato de uma pessoa. Elias tinha passagem pela polícia por desacato e por furto sem uso de arma. “Nesse momento, ele tendo passagem ou não, não dá direito da polícia vir e executar. Se ele estava fazendo coisa errada, eles [polícia] deveriam parar de alguma maneira, e não matar…prendendo, batendo que fosse, mas não matando”, afirma.
O pai contou ainda que Elias Leandro tinha acabado de tirar sua carteira de trabalho, estava prestes a começar em um emprego novo e havia sido encaminhado pelo Centro de Atenção Psicossocial (Caps) para começar a estudar no Instituto Salesiano de Assistência Social.
Elias gostava de jogar bola e de empinar pipa com os filhos. Elias tinha muitos sonhos. Tinha feito curso de padeiro e pensava em abrir uma padaria. Mas também, conta a irmã, sonhava em servir ao Exército. “Ele dizia: vou acabar os estudos e vou para o Exército.”
E para um futuro mais próximo, Elias pensava em sair do bairro e morar em outro lugar. Tinha medo de continuar ali.
Edição: Lia Bianchini