Dona Solange, mãe de Gustavo (14 anos) e de Felipe (16 anos), Franciele, irmã de Elias (17 anos), e Calita, esposa de Elias, que deixou dois filhos de 1 e 2 anos, foram ouvidas em reunião chamada pela Promotoria. Familiares dos jovens mortos em ação policial, na sexta (28), no bairro Hauer, puderam relatar o que, de fato, os jovens estavam fazendo, e pediram por justiça.
O procurador de Justiça e coordenador da área de Direitos Humanos do Ministério Público do Paraná (MP-PR) Olympio de Sá Sotto Maior Neto, disse às famílias que a investigação já está garantida, que o contato com a Polícia Militar e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) já foi feito e todo o acompanhamento e transparência será dada aos familiares. “Estamos aqui fazendo o que é nossa obrigação. É responsabilidade do MP investigar e, identificado crime, seja de que lado for, buscar a punição”, afirmou.
Franciele, num relato emocionado, disse que os jovens eram bons e toda a comunidade sabia quem eles eram. “A comunidade toda do Parolin está envolvida, porque os meninos, além de menores, eram muito bons. Não faziam mal a ninguém. A gente quer que essa investigação seja feita porque sabemos que eles não estavam armados. Eles estavam passeando com o carro”. Franciele contou que o carro era o que chamam de “pisadeiro”, ou seja, era carro comprado sem as prestações pagas e que seria apreendido. “O único erro do meu irmão foi querer andar de carrão na comunidade,” disse Franciele.
Dona Solange, mãe de dois dos jovens mortos, agradeceu o apoio do MP e demais organizações presentes na reunião. “Esse apoio nos conforta, sabe... Porque tem muita gente escrevendo, e até parte da imprensa, que os meninos são bandidos. Só porque são da favela aí já chamam de bandido sem a investigação ter acontecido”.
A advogada Tânia Mandarino, do Coletivo de Advogadas e Advogados pela Democracia, que tem feito a mediação com o MP e outras entidades, disse que os meninos tinham combinado de passear de “carrão” e que não estavam armados. O advogado Rodrigo Motta, representando a Dona Solange, disse que é preciso que, por exemplo, digam se no Instituto Médico Legal (IML) foi feito exame de corpo delito para comprovar que os jovens estavam armados. “Até agora, não temos essa informação dos procedimentos no IML”, informou o advogado.
Dr Olímpio deu a palavra para o Coronel Péricles, comandante da Polícia Militar, que disse que defenderá sobretudo os direitos humanos e que o Gaeco já está recebendo depoimentos dos dois lados. “Não admitirei nenhum cerceamento por parte da Polícia voltado para a comunidade. E já peço que isso seja denunciado, se acontecer. Reitero que estou e estarei ao lado dos direitos humanos, são seres humanos envolvidos”. O Comandante se colocou à disposição para novas reuniões.
Câmeras
Segundo os familiares e também advogado e advogada, há relatos que alguns comerciantes foram procurados para entregar vídeos e também darem acesso às câmeras do bairro. Calita, esposa de um dos jovens, contou durante a reunião que uma câmera sumiu. “Nos contaram que foram policiais que pegaram na mesma noite”. Para a advogada Tania Mandarino, apesar de serem indícios ainda não comprovados, é fato que precisa ser investigado. O Comandante pediu que estes relatos sejam reportados ao Gaeco.
Audiência Pública na comunidade
Sugerida pela Vereadora Professora Josete, representando na reunião a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Curitiba, uma reunião com o MP e todas as organizações e entidades que vem acompanhando será feita no bairro Parolin. “Acho que é importante estarmos lá para, de fato, deixar claro que isso é grave, que a comunidade não está sozinha”, disse a vereadora.
Já para o deputado Tadeu Veneri, presidente da Comissão de Direitos Humanos na Assembleia Legislativa, é preciso que o tratamento para este caso seja modelo para outros. “Temos vários casos que vêm se somando de jovens executados e assassinados em bairros periféricos de Curitiba. Curitiba pode virar o Rio de Janeiro. E, ainda como agravante, ouvimos de parlamentares a defesa de morte a qualquer um,” disse.
Para o deputado Goura, também presente na reunião, “muitas vezes a Polícia não aguarda investigação e sai culpabilizando os moradores destes bairros. Isso aconteceu no episódio da Comunidade 29 de março, na CIC. Logo depois, ficou comprovado que policiais incendiaram a comunidade deixando centenas de famílias sem casas”.
Dr Olímpio acatou a proposta de se realizar a Audiência Pública na comunidade e também de sugerir nova reunião com a Polícia Militar e o Gaeco para tratar também de outros casos de jovens mortos em ação policial. Para Dr Olímpio, a reunião cumpriu seu objetivo, que era dar voz aos dois lados. “Acho que as famílias têm direito perante aos órgãos públicos de manifestar sua dor e receber compromisso de que as medidas legais serão adotadas.”
Estiveram presentes também na reunião Thiago Hoshino, ouvidor geral da Defensoria Pública do Paraná, o Vereador Edson do Parolin e o representante da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Edição: Lia Bianchini