Há um ano, a Câmara dos Deputados aprovou o impeachment da presidenta eleita Dilma Rousseff (PT) por 367 votos a 137. Com cartazes, bandeiras e até chuva de papel picado, os deputados ignoraram o motivo do julgamento, as supostas pedaladas fiscais, e usaram o momento para exaltar suas famílias e cobrar ética na política. Os discursos foram inflamados em apoio à operação Lava Jato e contra a corrupção. A palavra foi usada 87 vezes por vários deputados, muitos deles denunciados por participação em esquemas ilegais.
Sete em cada dez parlamentares que votaram a favor do golpe viraram alvo de inquérito ou foram citados na planilha de caixa 2 entregue à Lava Jato, de acordo com levantamento do jornal O Globo.
O cientista político e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Ricardo Costa Oliveira entende que os discursos da sessão do impeachment foram uma manipulação ideológica. “Um congresso, comandado por um bandido [Eduardo Cunha], roubou os votos populares de 54 milhões de brasileiros e botou no poder um bloco político extremamente corrupto, comandado por Temer”, avalia Oliveira.
Dos 30 deputados federais paranaenses, 26 votaram a favor. Muitos foram citados em listas de corrupção e delações premiadas, especialmente nas operações Lava Jato e Carne Fraca. Além disso, a maioria integra a base do governo Michel Temer e votou a favor do projeto de lei que libera irrestritamente a terceirização e da Proposta de Emenda à Constituição (PEC 241) que congela os gastos públicos nos próximos 20 anos, ambos considerados ataques frontais aos direitos da população.
Osmar Serraglio
Com uma fita verde e amarela ao redor do pescoço, o então deputado paranaense Osmar Serraglio (PMDB) foi ao microfone votar: "Pelo país sério que todos nós sonhamos e queremos”, declarou antes de votar sim ao golpe.
Atual ministro da Justiça no governo Temer, Serraglio ganhou protagonismo na mídia nacional pelo esquema de corrupção revelado na Operação Carne Fraca. É acusado pela senadora e ex-ministra da Agricultura Kátia Abreu de pressioná-la para manter Daniel Gonçalves Filho na superintendência da Agricultura do Paraná. Gonçalves Filho é apontado pela investigação como chefe do esquema de fraudes na fiscalização de frigoríficos.
Ricardo Barros
Ministro da Saúde no governo Temer, o engenheiro Ricardo Barros (PP) era deputado federal quando votou a favor do golpe. Autor de inúmeras declarações polêmicas e defensor de planos de saúde privados, Barros mostra-se despreparado para o cargo. O ministro chegou a dizer que a maioria dos pacientes que procura atendimento na rede pública “imagina” estar doente.
Além de defender cortes no SUS, Ricardo Barros é investigado por direcionar uma licitação de publicidade da prefeitura de Maringá, em 2011. O ministro também apareceu nos documentos da Odebrecht, apreendidos em 2016, que listam mais de 200 políticos que receberam recursos da empreiteira.
Sérgio Souza
Sorridente e com os braços erguidos, Sérgio Souza (PMDB) votou a favor do golpe “em nome do povo brasileiro”. Junto com Osmar Serraglio, foi acusado de realizar “pressão nunca antes vista” para manter Daniel Gonçalves Filho no comando da Agricultura do Paraná. Também foi citado no despacho judicial que autorizou a Operação Carne Fraca. Isso porque um dos alvos da investigação é Ronaldo Troncha, ex-assessor do deputado.
Dilceu Sperafico
Dilceu Sperafico (PP) foi outro parlamentar mencionado na Operação Carne Fraca. O PP, partido também dos deputados federais paranaenses Nelson Meurer e Ricardo Barros, foi responsável por indicar Gil Bueno de Magalhães para a principal cadeira do Ministério da Agricultura no estado, substituindo Daniel Gonçalves Filho. Magalhães e Gonçalves Filho foram presos preventivamente durante a Operação.
Em 2015, um ano antes de votar favorável à cassação de Dilma Rousseff, Sperafico foi mencionado pelo doleiro Alberto Youssef como um dos 47 políticos suspeitos de participação no esquema de corrupção da Petrobrás.
Edição: Ednubia Ghisi