A notícia do fechamento do Centro de Educação Básica para Jovens e Adultos (CEEBJA) de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, trouxe um sentimento de indignação e revolta para a comunidade escolar. A Secretaria de Educação do Estado do Paraná (Seed-PR) anunciou que a escola encerrará suas atividades a partir de 2025, justificando a medida pela baixa demanda de matrículas e pela não renovação do contrato de locação do imóvel onde a unidade funciona. No entanto, a comunidade escolar considera a decisão uma infelicidade para aqueles que encontraram no CEEBJA uma segunda chance de concluir os estudos.
Felipe Pereira da Cruz, estudante e membro do grêmio estudantil, é um dos quase 500 alunos que serão impactados pela medida. Ele ressalta o papel transformador que o CEEBJA tem em sua vida, oferecendo não apenas uma oportunidade educacional, mas também um ambiente acolhedor e inclusivo.
“O colégio mudou minha perspectiva de vida, me fez enxergar que podemos chegar onde quisermos”, diz o estudante. “É um espaço que acolhe todos, sem julgamentos, independente da idade ou de qualquer outra diferença”.
Felipe acrescenta que o fechamento da instituição representa a perda de uma porta de acesso ao futuro para muitos jovens e adultos que, por diferentes motivos, precisam interromper os estudos e encontraram no CEEBJA um espaço de acolhimento e ressocialização.
A escola de São José dos Pinhais é a única da região que oferece atendimento especializado para alunos com surdo-cegueira, contando com infraestrutura e equipe preparados para atender às necessidades desses estudantes. Além disso, atende um número significativo de jovens que cumpre ou já cumpriram medidas socioeducativas, oferece uma oportunidade de reintegração social e inserção no mercado de trabalho.
A decisão de encerrar as atividades do CEEBJA é vista como mais um capítulo no processo de desmonte da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no estado. Dados do Censo Escolar 2023, divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) pelo pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), revelam uma queda de 75% nas matrículas da modalidade EJA em cinco anos.
Em 2019, o Paraná contava com 125.881 alunos matriculados na EJA, número que caiu para apenas 31.743 em 2023. De acordo com levantamento da APP-Sindicato, desde 2019, o governo estadual encerrou a oferta de EJA ensino médio em 27 escolas e reduziu a EJA ensino fundamental em outras 54 unidades.
Comunidade escolar resiste
A comunidade escolar não está disposta a aceitar o fechamento sem resistência. Em uma tentativa de reverter a decisão, pais, alunos e professores organizaram uma carta ao Ministério Público do Paraná (MP-PR) pedindo providências urgentes. O documento solicita que seja instaurado um procedimento para apurar a legalidade da decisão da Seed, além de requerer a suspensão imediata do processo de fechamento, garantindo a continuidade das aulas em 2025.
Também foi pedido que a Seed apresente uma justificativa detalhada para o encerramento das atividades, demonstrando que a decisão não viola o direito constitucional à educação, e que os alunos serão devidamente atendidos em outras instituições. A comunidade espera ainda que seja concedida uma liminar para assegurar a manutenção do funcionamento do CEEBJA até o julgamento final do caso.
A Seed-PR, em nota oficial, justificou o fechamento do CEEBJA alegando a necessidade de otimizar recursos, diante da baixa procura por matrículas na unidade. A Seed argumentou que a realocação dos alunos para outras escolas com ofertas semelhantes será organizada para garantir que todos sejam atendidos sem prejuízo. “Estamos planejando a transição para que os estudantes possam continuar seus estudos em unidades próximas que oferecem EJA”, afirmou a nota. No entanto, essa explicação não convence a comunidade escolar, que alega falta de diálogo e transparência no processo.
Para Margleyse Adriana dos Santos, secretária executiva da APP-Sindicato, a decisão desconsidera as especificidades da comunidade atendida pela escola. “Infelizmente o governo Ratinho Jr. só pensa nos índices e não na questão dos direitos e aprendizagem. Tanto o EJA quanto o período noturno têm um número grande de evasão escolar e isso impacta no índice do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB)”, afirma.
A mobilização em torno da defesa do CEEBJA tem ganhado força, com manifestações em redes sociais e protestos programados para os próximos dias. Estudantes, pais e professores temem que o fechamento da escola cause um efeito dominó, levando ao fechamento de outras unidades de EJA no estado.
Para Felipe Pereira, que encontrou no CEEBJA um espaço de acolhimento e oportunidade, a luta pelo colégio é, acima de tudo, uma luta pelo direito à educação e à inclusão. “Fechar essa escola é fechar portas para o futuro de muitos que só precisam de uma segunda chance”, concluiu.
Edição: Ana Carolina Caldas