Às vésperas das eleições municipais de 2024, o cenário eleitoral em Curitiba está prestes a se tornar ainda mais acirrado. A expectativa pela divulgação de novas pesquisas promete agitar o cenário político da capital paranaense, com mudanças drásticas nas estratégias dos candidatos e no humor dos eleitores. Segundo o professor Emerson Cervi, do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR), “a campanha em Curitiba poderá pegar fogo na segunda quinzena de setembro”, com os candidatos intensificando as ações na reta final e tentando captar o grande número de eleitores indecisos.
Metodologia
As pesquisas recentes mostram um quadro fragmentado e sujeito a rápidas mudanças. A sondagem contratada pela 100% Cidades Participações LTDA colocou Eduardo Pimentel (PSD) na liderança com 31,3% das intenções de voto, seguido por Luciano Ducci (PSB) com 12,84%, enquanto Ney Leprevost (União) e Roberto Requião (Mobiliza) aparecem tecnicamente empatados com 10,6%. Já o levantamento da Quaest, realizado entre 24 e 26 de agosto, apresentou um cenário diferente, com Pimentel com 19%, seguido de Requião e Ducci, ambos com 18%, e Leprevost com 14%.
Segundo Cervi, as discrepâncias entre as pesquisas refletem metodologias diferentes e os perfis sociais das amostras. “As pesquisas eleitorais são instantâneos do pensamento do eleitor em um dado momento e não previsões futuras”, explica Cervi. Para ele, as diferenças ocorrem por conta de metodologias distintas e o momento da coleta dos dados, que pode captar cenários políticos variados.
Essa percepção é reforçada pelos altos índices de indecisão entre os eleitores. Segundo Felipe Nunes, diretor do Instituto Quaest, Curitiba é uma das capitais mais competitivas do país nas eleições de 2024, com 81% dos eleitores afirmando estar indecisos na pesquisa espontânea. “A grande maioria dos eleitores de Curitiba diz que ainda não decidiu voto”, destacou Nunes ao portal G1. Além disso, quase 70% dos eleitores que já têm um candidato afirmam que podem mudar de opinião até o dia da eleição, tornando o pleito altamente volátil.
Impacto
Além da indecisão, os índices de rejeição moldam a campanha de 2024. Requião lidera em rejeição com 31,92%, um obstáculo que limita seu crescimento. Cervi aponta que Requião, que não tem horário eleitoral gratuito, enfrenta desafios para se manter competitivo. “Essas pesquisas que mostraram ele empatado em primeiro lugar ocorreram antes do início do horário eleitoral. Depois do início, não tivemos mais pesquisas publicadas, mas é possível que o Requião caia devido à baixa visibilidade,” avaliou Cervi.
Já o candidato de Greca e Ratinho Jr, Eduardo Pimentel lidera nas intenções de voto, mas enfrenta desafios próprios. Cervi observa que “Pimentel precisa vencer a barreira de ser o novato, pois ele é o único dos principais candidatos que não disputou eleição majoritária antes.” Ney Leprevost, tentando se firmar como uma alternativa viável, enfrenta a competição de um eleitorado pulverizado entre os diversos nomes do campo conservador. “Não vemos um cenário como 2020, onde o Greca foi eleito com 60% dos votos no primeiro turno. O cenário para 2024 está muito mais aberto,” analisa Cervi.
Polarização
A ausência de uma clara polarização entre lulistas e bolsonaristas em Curitiba diferencia a capital paranaense de outras grandes cidades, como São Paulo. “Curitiba apresenta o oposto de São Paulo. Não há um candidato que represente o bolsonarismo ou o lulismo de forma clara”, aponta Cervi. Eduardo Pimentel apostou em um bolsonarista ''raiz'' como o deputado federal Paulo Martins (PL-PR), que chegou a participar dos atos da extrema-direita no 7 de Setembro, já Ney, adicionou mais elementos à disputa colocando a esposa do ex-juiz e senador Sergio Moro, a deputada estadual, Rosângela Moro (União-PR). Por fora, ainda a jornalista ex-Gazeta do Povo e Jovem Pan, Cristina Greaml, tenta explorar o racha do lava-jatismo e do bolsonarismo em Curitiba ao tentar atrair eleitores descontentes com uma retórica mais ideológica e radical.
Com a aproximação da segunda quinzena de setembro, a expectativa é de que o cenário eleitoral em Curitiba se intensifique. “A disputa ainda está aberta, e as próximas semanas serão decisivas para os candidatos conseguirem marcar posição também, com a nova rodada de pesquisas eleitorais que devem ser publicadas na próxima semana,”, conclui Cervi.
No campo da esquerda, a candidatura de Requião impacta diretamente Luciano Ducci. “Requião e Ducci dividem o eleitorado que votou em Lula. Se um deles cair, a tendência é que o outro suba”, explica Cervi. Essa dinâmica oferece uma oportunidade para Ducci, que pode capturar eleitores descontentes e aumentar sua base eleitoral, principalmente se Requião perder força ao longo da campanha. Andrea Caldas, correndo por fora, também tenta captar o eleitorado de esquerda, mas enfrenta dificuldades em consolidar uma base significativa diante da fragmentação.
Edição: Ana Carolina Caldas