Paraná

GREVE

No Paraná, trabalhadores dos Correios aprovam estado de greve

Funcionários solicitam reajuste salarial, mudanças em plano de saúde e mais vagas em concurso público

Curitiba (PR) |
Nestes 13 anos sem concurso público, o quadro de trabalhadores tem diminuído - Foto: Agência Brasil

Por Portal Verdade

Em assembleia geral realizada no último dia 30 de julho, trabalhadores dos Correios aprovaram por unanimidade estado de greve. Uma nova assembleia foi realizada nesta quarta-feira (7) com a finalidade de decidir sobre a deflagração de greve nacional a partir do dia 8 de agosto.

Entre as reivindicações da categoria está a recomposição salarial. Em reunião extraordinária, a empresa dos Correios anunciou reajuste de 6,05% a partir de janeiro de 2025. Porém, como a data-base dos trabalhadores é agosto de 2024, a proposta foi rejeitada durante a negociação.

“Esse ano a categoria busca uma melhora no quesito financeiro. A gente teve uma baixa no ano de 2021, a gente perdeu uns 30% do nosso rendimento anual, até mais, no governo Bolsonaro. Ano passado a gente conseguiu o retorno de várias causas sociais e esse ano a categoria quer o avanço nas causas econômicas, avanço real”, explica Diego Henrique da Silva, diretor da pasta de Comunicação do Sintcom-PR (Sindicato dos Trabalhadores nos Correios do Paraná).

Ainda, segundo a liderança, os trabalhadores solicitam o retorno do “Correios Saúde”. O plano de saúde dos trabalhadores dos Correios, que até 2013 funcionava como Correios Saúde, está passando por um intenso processo de privatização.

O Correios Saúde, administrado por um dos departamentos da Empresa, funcionava com a coparticipação dos funcionários, limitada entre 10% a 20%, dependendo dos salários. No entanto, a partir de janeiro de 2014, os Correios entregou a gestão à outra empresa, a Postal Saúde. A medida tem sido amplamente criticada pelos funcionários que apontam, entre outras consequências, o alto custo das mensalidades.

“A gente tem um plano de saúde que, até alguns anos atrás era totalmente gratuito para os funcionários, era pago só a coparticipação e de repente se terceiriza esse plano de saúde, cria-se essa outra empresa que é o Postal Saúde e começa a se cobrar muito, além da mensalidade e da coparticipação. A coparticipação em cima do salário bruto, não do salário base, que a gente entende que não faz sentido algum”, assinala.

“A nossa busca é para um aumento real e pela diminuição da coparticipação com o plano de saúde, diminuição também da própria mensalidade do plano de saúde porque muitas pessoas têm deixado o plano, que é um benefício dos funcionários, porque não aguentam pagar”, ele reforça.

Concurso público

Outra pauta da mobilização é a realização de concurso público. O último concurso em âmbito nacional realizado pela estatal foi em 2011, quando mais de 1,1 milhão de pessoas se inscreveram para 9.190 vagas de nível médio e superior.

“A categoria toda está revoltada, com todo o assédio moral, com toda a pressão que a gente tem recebido para estar mantendo índices altos, para estar mantendo a produtividade. Entendemos que a gente já é uma categoria não tão nova, é uma categoria envelhecida. O último concurso público foi há mais de 10 anos”, afirma.

Na quarta-feira, o governo federal publicou edital que visa contratar profissionais das áreas de Medicina e Segurança do Trabalho. Ao todo são ofertadas 33 vagas com salários iniciais de até R$ 6,8 mil.

Já o concurso para o nível operacional de carteiro, que vai preencher 3,2 mil vagas, segue em andamento para contratação da banca organizadora.

Silva salienta que a quantidade de cargos anunciados é insuficiente. De acordo com ele, apenas no Paraná, o déficit estimado é de 3 mil funcionários.

“No Paraná, o sindicato estima que seria necessário mais uns 3 mil contratados para poder suprir a falta de funcionários. O que já entra em desacordo com a própria fala do presidente da empresa, que afirmou que o concurso seria para 3 mil vagas, o que não supriria, mais ou menos supriria as vagas no Paraná, quem dirá no país. Então, é uma situação complicada que a gente também está tentando mudar na mesa de negociação”, observa.

Expectativas

Silva compartilha certa frustação com o andamento das tratativas entre a categoria, o Palácio do Planalto e a direção da estatal. Não tem respeitado o calendário de negociações e não tem respeitado até os próprios representantes na mesa de negociação. Tem atrasado demandas e recentemente fez uma proposta muito ruim. Infelizmente, a empresa tem agido dessa maneira e é uma revolta para os trabalhadores, pois a gente espera que os trabalhadores e os seus representantes sejam tratados com mais dignidade em um governo de esquerda”, avalia.

“Nós como sindicato temos lembrado a categoria sempre da fala do presidente Lula para centrais sindicais. Ele fala que se a gente quiser alguma coisa a gente tem que se fazer ouvir. A gente tem que fazer greve, tem que fazer barulho para ele saber que a gente está precisando. Se não ele vai achar que está tudo bem. Então, se a empresa não negociar de maneira decente, a gente vai fazer barulho, a gente vai parar e a gente vai fazer greve para ele saber que não está tudo bem e mover alguma coisa para resolver”, acrescenta.

Falta funcionários, sobra pressão

Ainda, segundo Silva, nestes 13 anos sem concurso público, o quadro de trabalhadores tem diminuído com as vacâncias, a exemplo das aposentadorias e planos de demissão voluntária. Com força de trabalho reduzida, as contratações terceirizadas e o estabelecimento de metas inatingíveis tem sido cada vez mais frequentes.

“Essa falta de funcionários tem sido suprida através de assédio moral, pressão por parte dos gestores e um trabalho terceirizado também. Infelizmente, a gente tem sofrido muito. Nós, como sindicato, como funcionários, nós somos a favor do concurso público. Esperamos que seja feito concurso público para que as pessoas trabalhem como funcionários e tenham direito como funcionários”, diz.

Além da precarização do trabalho, o profissional destaca as consequências da terceirização na qualidade dos serviços prestados à população.

“Infelizmente, o que a gente vê é que os terceirizados, além de terem seus direitos suprimidos, são pressionados a não obedecer aos manuais. Então, não é incomum, você está andando na cidade e vê um terceirizado jogando uma encomenda por cima do muro ou um terceirizado assinando ele mesmo a própria encomenda. São situações que dificilmente você veria com um carteiro matriculado, um carteiro que trabalha realmente nos Correios”, assinala.

Para ele, a própria lógica de exploração do trabalho leva às situações descritas. “O que a gente tem visto da empresa, principalmente aqui no Paraná, é uma busca por números, índices, quer ser o primeiro índice do país em entrega, não se importando com a qualidade do serviço”, pontua.

* O texto foi publicado originalmente no Portal Verdade, um site de conteúdo jornalístico independente e local de Londrina. O Portal Verdade é parceiro do Brasil de Fato Paraná para publicações e republicações.

Edição: Mayala Fernandes