Da página do MST Paraná
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) celebrou o Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado na quarta-feira (5), com a semeadura aérea de 3,3 toneladas de pinhão. Um helicóptero da Polícia Rodoviária Federal (PRF) foi utilizado para a semeadura, que ocorreu no assentamento Nova Geração, em Guarapuava, região centro-sul do Paraná.
A iniciativa integra a 2ª Jornada da Natureza - Semeando vida para enfrentar a crise ambiental, realizada entre os dias 3 e 7 de junho. A ação fez parte do terceiro dia consecutivo na semana que um helicóptero da PRF sobrevoou áreas de assentamentos e acampamentos da Reforma Agrária para espalhar pelo ar sementes da palmeira juçara e da araucária, árvores da Mata Atlântica ameaçadas de extinção.
“A aeronave está simbolizando a nossa gralha azul que tanto semeou pinhão aqui na região centro-sul do estado do Paraná. A natureza é vida, o ser humano tem que ser para preservar e cuidar dela”, disse Nelson do Santos, morador do assentamento Nova Geração.
Ao todo, serão lançados 12 mil quilos de sementes, além do plantio de mais de 17 mil mudas de árvores, com a criação e ampliação de Sistemas Agroflorestais (SAFs). As atividades no Paraná somam-se a diversas ações que estão sendo realizadas pelo MST em 24 estados do país em defesa da natureza e dos seus povos.
“Acreditamos que é a partir da reforma agrária popular e da agroecologia que a gente vai conseguir enfrentar e superar a crise ambiental”, afirma Bárbara Loureiro, dirigente nacional do MST. A militante relaciona a mobilização com as ações que vêm sendo realizadas em apoio à população atingida pelas enchentes no Rio Grande do Sul. “Nossa solidariedade se faz em luta através do anúncio do plantio de árvores, da semeadura do pinhão, da juçara”.
Apesar de ser a árvore símbolo do Paraná, a araucária está entre as espécies ameaçadas de extinção na Mata Atlântica. Isso é consequência da exploração predatória, por exemplo, pela ação de madeireiras. É o caso do que ocorria na área onde hoje está o Nova Geração e diversas outras comunidades da Reforma Agrária da região, tradicionais faxinalenses e posseiros.
A semeadura do pinhão foi feita nas comunidades da reforma agrária Nova Geração, e está diretamente ligada ao esforço das famílias Sem Terra em fortalecer a cadeia produtiva do pinhão. Elas projetam organizar uma cooperativa cuja proposta seja fortalecer a produção, o beneficiamento e a comercialização da semente.
“Pra nós da Brigada essa ação é muito importante pois potencializa e fortalece nosso projeto de reforma agrária e preservação da Mata Atlântica. Também entendemos que somos parte da natureza e podemos conviver com ela sem perder a qualidade de vida. E com isso também estamos construindo de forma coletiva uma cooperativa para agregar valor à erva-mate, ao pinhão e a frutas nativas”, explicou Eva Franciele dos Santos, da comunidade Encontro das Águas, também de Guarapuava.
Para contribuir no processo, o professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pesquisador da araucária há 39 anos, Flávio Zanette, diz que a árvore precisa ser relevante do ponto de vista econômico para que ela siga existindo. O pesquisador participou da 2ª Jornada da Natureza oferecendo à comunidade uma oficina sobre a produção de mudas de araucária enxertada.
“Essa planta é fundamental para a preservação de todo o sistema vegetal e animal da mata atlântica. Trata-se de uma espécie de muita importância e devemos conservar a espécie, estimulando o plantio, também visando o retorno financeiro”, ressaltou o professor.
Semeadura aérea da palmeira juçara mostrou efetividade
A 2ª Jornada da Natureza começou na segunda-feira (3), na comunidade Dom Tomás Balduíno, em Quedas do Iguaçu, onde ocorreu a semeadura aérea de 4 toneladas de palmeira juçara, espécie também ameaçada de extinção no bioma Mata Atlântica.
A comunidade já havia recebido a primeira edição da ação, em junho de 2023. Cerca de cinco meses após o lançamento das sementes, a efetividade da semeadura foi avaliada por pesquisadores da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) em parceria com a PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica), Ibama e Itaipu Binacional. A equipe confimou a germinação das sementes e o crescimento de várias mudas, algumas, hoje, com mais de 50 centímetros, já ocupam espaço no sub-bosque da floresta onde não existem exemplares adultos da juçara.
Segundo o professor e coordenador do trabalho da UFFS, Julian Pérez-Cassarino, a pesquisa feita no local a partir da semeadura feita de helicóptero mostrou que nasceram entre 10 e 11 mil mudas por hectare. “Se 10% dessas mudas sobreviveram, teríamos, em média, cinco toneladas de polpa por hectare, a um preço de 20 reais, que é o preço que a gente vem trabalhando, dariam 100 mil reais por hectare com a gente enriquecendo a mata, atraindo fauna, permitindo a regeneração de outras espécies”, projeta o professor.
Aliança entre MST e povos indígenas para fortalecer o meio ambiente
Terra Indígena (TI) Rio das Cobras, em Nova Laranjeiras (PR), recebeu a Jornada na terça-feira (4). A atividade teve a presença da ministra dos Povos Originários, Sônia Guajajara, do chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macedo, e da ministra interina do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Fernanda Machiaveli, entre outras autoridades.
Durante a ação, a ministra Sonia Guajajara participou da semeadura aérea de 3 mil quilos de pinhão e juçara, realizada com helicóptero da Polícia Rodoviária Federal. Também houve o início do plantio de dois hectares em Sistema Agroflorestal (SAF) Comunitário, com mudas nativas, erva-mate, araucária e mandioca, e distribuição de 100 kits produtivos, com rama de mandioca, mudas e sementes.
Jornada da Natureza no litoral
A próxima ação da Jornada será nesta sexta-feira (7), na comunidade agroflorestal do MST José Lutzenberger, localizado em parte da Área de Proteção Ambiental (APA) de Guaraqueçaba, litoral do estado. Antes da chegada dessas famílias, a área não era cuidada e não cumpria função social, era um território devastado pela pecuária extensiva de búfalo e por crimes ambientais, como o desvio do leito do Rio Pequeno, que atravessa o território.
A área foi ocupada em 2004, e desde então, a combinação da cultura camponesa e caiçara fortaleceu um intenso trabalho de recuperação ambiental e produção agroecológica. Por conta deste trabalho, em 2017 a comunidade recebeu o prêmio Juliana Santilli de Agrobiodiversidade.
Por meio da cooperativa da comunidade, a Filhos da Terra, a maior parte da produção local serve de alimentação às crianças das escolas estaduais de Guaratuba, Morretes, Antonina e Pontal do Sul, pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). As famílias também participam de feiras na região e comercializam cestas de produtos a moradores locais.
Durante a ação desta sexta-feira, haverá lançamento de sementes de palmeira juçara, com assembleia e almoço comunitário a base de peixe, palmito pupunha e frutas. Também haverá apresentações culturais do grupo de Fandango Caiçara Mandicuera e Boi de Mamão.
Programação:
9h: Café Caiçara e acolhida
9h30: Mística de abertura e Assembleia Popular da 2ª Jornada da Natureza
10h30: Sobrevoo para semeadura de sementes de juçara
11h: Visita ao Sistema Agroflorestal e Agroindústria
13h: Almoço comunitário (trazer pratos e talheres)
14h: Leitura da carta caiçara
Tarde: Apresentações culturais do grupo de Fandango Caiçara Mandicuera e Boi de Mamão
Feira da Reforma Agrária Popular e banho de rio
Edição: Mayala Fernandes