Paraná

LUTA PELA TERRA

Ricardo Arruda (PL) e outros parlamentares apresentam projeto que criminaliza ocupações no Paraná

Previsão é de trâmite na CCJ e de alguma forma está em consonância com projeto federal que criminaliza ocupações

Curitiba (PR) |
Arruda, desde o início do ano, vem combatendo parlamentares ligados a movimentos de moradia, como é o caso de Renato Freitas - Orlando Kissner / Alep

O deputado estadual Ricardo Arruda (PL) fez proposição do Projeto de Lei 184/2023 que tramita na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) e prevê criminalização de ocupantes e pessoas que participem de ocupações por moradia. Os deputados Maria Victória, Ademar Traiano, Marcel Micheletto, Cristina Silvestri, Tiago Amaral também assinam a proposta de Projeto de Lei 186/2023, com teor semelhante.

Segundo o projeto de Arruda, uma das medidas contra ocupantes seria “receber benefícios e auxílios de programas sociais do governo estadual”, bem como participar de concursos públicos nas diferentes esferas do serviço público.

Já a proposta do conjunto de parlamentares, entre eles Ademar Traiano chega a prever prisão e cita o artigo 150 do Código Penal, que prevê “o crime de violação à propriedade a entrada ou permanência clandestina ou astuciosa em casa alheia ou em suas dependências, contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito. Para tal crime já resta consagrada a pena de detenção de uma a três meses ou multa”.

Orientação nacional

Ambos os projetos se encaminham para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e de alguma forma estão em consonância com projeto federal que criminaliza ocupações urbanas e rurais.

No caso nacional, de acordo com o jornalista Altamiro Borges, citando o jornal Estadão, na Câmara federal "foram 336 votos a favor, 120 contra e uma abstenção. De autoria do deputado Marcos Pollon (PL-MS), o projeto foi relatado pelo presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Pedro Lupion (PP-PR). De acordo com ele, a proposta faz parte da pauta anti-invasão da bancada ruralista. Na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), etapa de tramitação anterior à votação no plenário, o texto foi relatado pelo deputado Ricardo Salles (PL-SP), que foi ministro do Meio Ambiente no governo Bolsonaro”, afirma.

Reação


Ocupação muitas vezes é formada por venezuelanos, mulheres e crianças / Pedro Carrano

Movimentos populares, do campo e da cidade, concentrados na campanha Despejo Zero, prometem se mobilizar. Argumentam que o projeto criminaliza e não leva em conta a demanda por moradia, os imóveis ocupados que há décadas não cumprem função social, as condições de vida de famílias migrantes, e a exclusão presente na política de moradia no município e no Paraná.

“Querem aprovar este projeto antes de chegar na sociedade, é preciso resistir e avisar cada pessoa que é uma criminalização das pessoas pobres, dos bairros, e dos movimentos populares”, afirma Bárbara Esteche, militante da Frente de Organização dos Trabalhadores (FORT) e integrante da campanha Despejo Zero.

Déficit

Já Mariana Kauchakje, integrante do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), aponta a desconsideração dos textos sobre o déficit habitacional no Paraná.

“Esses projetos além de interferirem no direito constitucional a livre manifestação e a moradia ainda ignoram o fato de que no Brasil a propriedade urbana ou rural deve cumprir sua função social (...) Importante lembrar que, segundo os dados do último censo, o déficit habitacional no Paraná chega a 500.000 famílias, ainda sim são mais de 812.000 moradias permanentes desocupadas”, comenta.

Edição: Lucas Botelho