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Como construir uma cultura vegetariana?

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a carne não é apenas uma parte da alimentação do brasileiro, mas o prato principal, o lugar de onde se acredita vir o sabor da refeição - Agência Brasil/Arquivo
Animais também sofrem, também são criações desse criador e merecem respeito e cuidado

Esse texto não tem o objetivo de ensinar nenhum vegetariano como ele deve ou não deve defender sua causa, o objetivo é apenas dividir a minha experiência como um vegetariano no Brasil.

Algumas pessoas terão formas mais incisivas de defender sua opção por uma dieta vegetariana, enquanto outros terão uma atitude menos combativa. Não cabe a mim nesse texto dizer quem está certo e quem está errado. Espero que esse texto consiga acolher àqueles que por algum motivo decidiram pelo vegetarianismo e vivem no Brasil.

Quando optei por uma dieta vegetariana, ficou muito mais evidente que alimentação não é uma questão apenas nutricional, e que a carne não é apenas uma parte da alimentação do brasileiro, mas o prato principal, o lugar de onde se acredita vir o sabor da refeição.

É na carne que muitas famílias demonstram a importância e o afeto que possuem por seus amigos, pelos familiares, pela visita. Isso não significa que devemos aceitar esse papel que a carne ocupa, significa, na verdade, que esse é um ponto fundamental que devemos mudar para que o consumo de carne diminua. A alimentação sem carne não é uma alimentação faltante, e a carne não é necessária para uma comida gostosa e feita com carinho.

Outro ponto importante na desconstrução da centralidade da carne nas refeições é trazer um debate acerca da ideia religiosa de que somos uma espécie superior, criada à semelhança de deus, e de que todos os outros seres estariam aqui para nos servir da forma que considerássemos mais interessante. A questão aqui é que essa é simplesmente uma das interpretações dessa cosmologia, e precisamos mudar a construção do ser humano como superior e irresponsável para superior e responsável.

Em vez de pensar que todos os animais estão à nossa disposição para nos utilizarmos como bem entendermos, precisamos trabalhar a ideia de que, dentro dessa visão religiosa, um ser divino não nos deu inteligência para não utilizarmos, e que essa superioridade cognitiva nos obriga a entender que animais também sofrem, também são criações desse criador e merecem respeito e cuidado. Portanto, a relação com a natureza é uma obrigação dessa cosmologia religiosa, e cuidar é respeitar o criador.

*Policial militar aposentado e antifascista. Coluna sobre direitos humanos

**As opiniões expressas nesse texto não representam necessariamente a posição do jornal

 

Edição: Pedro Carrano