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O jornalismo policial, a "polpaganda" e a desregulação do serviço policial

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se a polícia age de maneira mais regulada, se reduz índices criminais e pune policiais que cometem crimes, o jornalismo policial perde apelo - Giorgia Prates
"A polpaganda não é um elogio às polícias, mas uma forma de desregular o serviço policial"

A televisão no Brasil funciona de forma semelhante ao controle de tráfego aéreo. O Estado cuida dos céus para evitar que dois aviões decidam utilizar a mesma rota ao mesmo tempo e acabem colidindo. De forma semelhante, o Estado brasileiro garante que em determinada frequência somente um canal seja transmitido. O Brasil concede a uma organização o direito de utilizar aquela frequência, com esse direito a organização ganha poder e um meio para divulgar propagandas necessárias para auferir lucro. E o que o Estado brasileiro pede em troca por todo esse benefício? Que os grupos televisivos apresentem conteúdos que colaborem com a cultura e o conhecimento dos cidadãos, e que não divulguem conteúdo falso ou nocivo.

É curioso perceber que o horário em que uma grande parte das crianças está em casa e têm acesso à televisão é usado para noticiários policiais. Programas que se dizem preocupados com os pequenos, mas brigam para ver qual deles consegue chegar mais próximo do limite do proibido em horário nobre sem ser punido por isso. E é principalmente nesses programas que acontece a "Polpaganda".

"Polpaganda" é uma adaptação de um termo que tem ganhado tração nos EUA e que une as palavras policial e propaganda.

O termo indica que os jornais policiais não fazem um apresentar de notícias, avaliando a postura do atendimento das equipes policiais, mas fazem propaganda para a polícia; não somente elogiando o bom atendimento, mas justificando o ruim e culpabilizando a população de bairros periféricos quando a polícia passa dos limites legais. A polpaganda é uma forma fácil de gerar lucro, já que casos violentos acabam por atrair a atenção da população, e o problema está na conexão entre lucro e atenção.

A polpaganda não é um elogio às polícias, mas uma forma de desregular o serviço policial; uma forma de incentivar que os policiais rompam o ordenamento jurídico e ajam de forma violenta e ilegal. A polpaganda acaba com a fiscalização, pois desmoraliza o ordenamento policial interno, desmoraliza o judiciário combativo, pois transforma esses dois em freios contra a “boa polícia”, “a polícia que resolve”, a polícia que executa, que mata.

A polpaganda vende a ideia de que a polícia precisa dessa violência para dar jeito em uma sociedade sem controle, logo, se a polícia age de maneira mais regulada, se reduz índices criminais e pune policiais que cometem crimes, o jornalismo policial perde apelo. A polpaganda só serve ao lucro daqueles que participam desse jornalismo e deveria ser proibido, ainda mais na televisão aberta e em horário comercial onde crianças estão mais vulneráveis a essa armadilha. E para os adultos, em vez de um compilado do puro suco da tragédia, o jornalismo policial deveria ser obrigado a mostrar dados comparativos sempre que quisesse apresentar polpaganda no lugar de jornalismo.

Edição: Pedro Carrano