A bicicleta, além de meio de locomoção, tornou-se paixão pelo esporte, que foi adaptado para o cotidiano de jovens moradores da região metropolitana de Curitiba, que carregam com orgulho a estética da cultura periférica.
O evento inclui meninas e crianças de forma igualitária, proporcionando o mesmo destaque e espaço a todos, sem brigas ou acidentes além dos que o esporte pode ocasionar.
Sob forte garoa do início de outono, jovens de diversas regiões da capital se deslocaram até a Praça Abílio de Abreu, no bairro Guabirotuba, para o evento "Parando CWB".
Este encontro reuniu diferentes grupos de ciclistas que utilizam a pista como espaço de manobras. O cenário era de cumplicidade e encorajamento, de crianças a adultos que puderam arriscar manobras e percursos diferentes do habitual. Para além da confraternização, houve troca de conhecimento sobre peças, personalização de bicicletas, dicas de segurança e respeito entre todos.
Espaço de lazer em família
A Praça Abílio de Abreu, antes procurada pelos apaixonados por carrinhos de rolimã, hoje é carinhosamente chamada por Pista do Guabi.
O local recebe pessoas de todas as idades e as rodinhas cedem espaço para as bicicletas. Nos fins de semana, o bairro, composto por casas de alto padrão no entorno da praça, se torna cenário de expressão para um público que se desloca da região metropolitana para trazer vida a Curitiba.
Cassiano Felisberto, 47 anos, morador de Piraquara, compartilhou a experiência de voltar à praça que frequentava para se divertir com o carrinho de rolimã nos anos 80 e hoje retorna com o filho, Ian, de 13 anos, apaixonado pelas manobras como esporte.
"A vida deles é dar 'grau', e ficamos aliviados em saber que eles têm um espaço para praticar e não estão nas canaletas correndo riscos". Cassiano ressalta a importância para a família de ter um local seguro para os jovens praticarem, fortalecerem laços de amizade e terem lazer.
Curitiba é a segunda capital mais perigosa para ciclistas, ficando atrás apenas de Goiânia. Segundo dados do Programa Vida no Trânsito-PR, a capital paranaense registra uma média de 14 mortes por ano.
Dados apresentados pelo Ministério da Saúde em 2021 apontam que a taxa média de mortes de ciclistas é de 0,6 por cada 100 mil habitantes no Brasil.
Organizador do evento, Luiz Derkcz, 22 anos, compartilhou o sentimento de satisfação ao ver o evento acontecer pela segunda vez, o primeiro encontro do Parando Cwb ocorreu em março de 2022, "Gostaria que políticos, moradores e pessoas que não têm uma boa visão da bike viessem ver o que isso aqui é.
Deve ter mais de mil bicicletas aqui e ninguém está na rua fazendo coisa errada", Luiz relatou também que no trajeto para o evento, os jovens sofreram repressão policial com spray de pimenta. "Ninguém estava pegando carona no ônibus, a maioria estava com a camiseta do evento de ciclismo do Condor e mesmo assim passamos por esse tipo de coisa".
Expressão e repressão
No começo de março, um vídeo ganhou destaque nas redes sociais, mostrando um policial agredindo um adolescente de 13 anos que pedalava perto de uma viatura policial que patrulhava o bairro Tatuquara. Esse episódio não é um caso isolado e se junta a uma série de incidentes de violência policial em comunidades periféricas.
Jean Guilherme da Silva, 17 anos, decidiu criar o evento em 2022 após grupos de WhatsApp terem atingido o limite de participantes. Decidiu então criar uma rede social para reunir presencialmente jovens, até mesmo de outros estados. Marcaram presenças, simpatizantes que vieram de Balneário Camboriú, São Paulo e outras regiões. A organização do evento estabeleceu diálogo com o Conselho Estadual de Trânsito do Paraná para que houvesse conscientização sobre deslocamento em grupo por vias públicas e segurança.
Os 250 metros de pista foram ressignificados, um pedaço de asfalto que se torna palco de manifestação para jovens que desde cedo batalham para comprar e personalizar as próprias bicicletas, extensão e representação de suas identidades.
Instagram do evento Parandocwb
Edição: Pedro Carrano