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Em estreia internacional, filme de rapper curitibano é premiado na França

Curta-metragem “Bença” de Mano Cappu levou prêmio 36° Festival Cinélatino em Toulouse

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Em estreia internacional, filme brasileiro “Bença” é premiado na França - Divulgação

 

Baseado em sua história pessoal, o rapper curitibano e cineasta Mano Cappu, escreveu o roteiro e fez a direção do curta-metragem "Bença", que em sua estreia internacional, foi premiado agora em março no 36° Festival Cinélatino, em Toulouse, na França. “Bença” conta a história de um pai e um filho que se encontram na prisão, baseado em fatos reais da vida de Cappu que, em 2011, ficou preso durante 18 meses por um crime que não cometeu e lá encontrou seu pai também preso. Hoje absolvido, escreve sobre sua vivência no cárcere neste e em outros filmes.

O curta-metragem é uma produção de CwBlack, The Youth Company e Beija Flor Filmes. É produzido por Betinho Celanex, Eduardo Lubiazi, Gil Baroni e Yuri Maranhão. No elenco estrelando, Richard Rebelo (Antônio), Cássia Damasceno (Vera) e o Lulo (Rodrigo).

Em entrevista para o Brasil de Fato, Mano Cappu fala sobre a importância do prêmio e a sua atuação no audiovisual também para superar o olhar estereotipado que muitas vezes os filmes trazem sobre a massa carcerária no Brasil.


O curta-metragem brasileiro "Bença", escrito e dirigido por Mano Cappu, fez bonito em sua estreia internacional no 36° Festival Cinélatino, em Toulouse, na França. / Rafael Bertelli

Confira:

BDF: Gostaria que você contasse do que se trata o filme e sua atuação nele?

O “Bença” se trata de uma experiência própria da minha vida, no qual um pai e um filho se encontram dentro da prisão em um dia de visita. Nesse filme foi inspirado nessa vivência no qual eu encontrei meu pai atrás das grades. Eu preso inocentemente e meu pai réu confesso.

Trabalhei como diretor e roteirista do projeto. É um projeto que foi aprovado em 2019 no Edital do Estado do Paraná. E aí teve a pandemia e a partir disso eu fui desenvolvendo o projeto encontrando parceiros e parcerias para viabilizar a idéia. Essa linda película está trazendo outro olhar sobre a massa carcerária brasileira a partir de alguém que esteve preso.

BDF: Qual foi o tempo de duração e os principais obstáculos para concretizar o curta metragem?

O tempo de duração com a produção do filme foi aproximadamente uns seis meses para levantar o filme, entender a ideia porque nós somos três produtoras que se juntaram para realizar o projeto. A CwBlack, na qual eu sou sócio-fundador, juntamente com Betinho Celanex, a Beija Flor Filmes e a The Youth Company. Nós três nos unimos para colocar o filme de pé, para entender quais os problemas nós teríamos.

Um deles foi a questão do cárcere e entrar em uma penitenciária. Depois de um tempo de pandemia do Covid-19, existiam várias questões para poder entrar em um presídio.

Tivemos que montar do zero uma cela. A cela foi feita na garagem de um colega.  Com o material que foi cedido para a gente por Marcos Jorge, que foi o diretor do Estômago 2, que rodava em Curitiba, a gente fechou uma parceria, eles cederam o material para a gente.

Então, o Jonathan Rodrigues, que foi o cenógrafo que montou a cela, juntamente com Camila Kogut, foram essas pessoas que fizeram todo esse trabalho de engenharia da cela para que ela fosse mais verossímil possível.

BDF. Qual a importância deste prêmio para a equipe e também para o tema do cárcere no Brasil?

A importância do prêmio que o Bença ganhou no 36º Festival Cinélatino, em Toulouse, na França, para mim, traz um lugar de que estou no caminho certo, estou lutando, fazendo o certo com o meu audiovisual, com o cinema que eu quero propor sobre a massa carcerária brasileira.

Alguns filmes que eu assisti sobre a massa carcerária brasileira a retratam num olhar estereotipado, um olhar de violência, e quando eu estive preso eu comecei a notar que grande parte desses filmes, estava exagerando, estereotipando esses corpos encarcerados. E, sempre são corpos pretos, então isso colabora para o racismo estrutural, saca?

Eu tive a oportunidade como idealizador, roteirista e diretor de um projeto que eu pude mostrar a massa carcerária a partir de um olhar de quem esteve preso. Para mim, é muito simbólico esse prêmio, sabe? Até me faltam palavras pra dizer o quão grande é isso. Mas acho que principalmente em cumprir este objetivo que é que a massa carcerária precisa ser mostrada com amor.  Um olhar que traga para a sociedade, um olhar de uma nova chance para uma pessoa que saiu da cadeia. Nem todo mundo que está lá quer ser criminoso a vida toda. Muitas pessoas querem uma nova chance.

O meu pai ficou aproximadamente 15 anos preso e a nossa família nunca desistiu dele. Ele desistiu, ele parou com o crime quando eu fiquei preso com ele na mesma cela, quando tiramos cadeia junto. Eu fui a ponte dele. Nós dois nos perdoamos dentro do cárcere. Então eu acredito que o audiovisual, a arte, a música, o cinema, ela pode salvar. Foi o que a arte fez por mim e é por isso que eu quero propagar essa mensagem.

 

 

 

 

Edição: Pedro Carrano