Apoio de Bolsonaro pode nacionalizar eleição municipal
A ida de Carlos Alberto Richa para o PL, apadrinhado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, deve embaralhar a eleição municipal de Curitiba e nacionalizar a disputa. A mudança pode causar estranhamento e choque entre políticos e eleitores, mas tem grande potencial eleitoral, tirando votos de esquerda à direita.
De toda a forma, a notícia cai como uma bomba na capital. A eleição se caminhava para uma disputa de Eduardo Pimentel, vice-prefeito e apadrinhado pelo prefeito Rafael Greca e pelo governador Ratinho Junior, contra as candidaturas de centro-esquerda, do ex-prefeito Luciano Ducci, do deputado estadual Goura e até de uma indicação do PT pendendo para a deputada federal Carol Dartora. Com Richa na parada, votos são tirados de ambos os lados.
O ex-governador não tem nada a perder e o discurso de que a aliança com Bolsonaro mancha sua trajetória e do seu pai, não cola. Beto Richa, após prisões encomendadas, inclusive pela Lava Jato, foi abandonado por Ratinho Junior, por Greca e toda a claque de direita do estado e do município. Então, não tem compromisso com nenhum desses personagens. Mas do que isso, “perseguido” pela Lava Jato, ele cai como uma luva para o bolsonarismo que, na prática, sempre torceu o nariz para a operação.
Do outro lado, Beto Richa deve tirar votos de Luciano Ducci, que despontava com boa avaliação na capital. Ducci foi vice de Beto e teve votos daquele que foi eleito o melhor prefeito por dez vezes. Entre Ducci e Richa, o voto pode migrar para o simpático beach tenista.
E, mais do que disputar a eleição de Curitiba, no PL, Beto Richa terá tempo e dinheiro suficiente para reconstruir sua imagem destruída por diversas prisões em, muitos casos, consideradas arbitrárias. Poderá reunir em torno dele diversos saudosistas dos anos como prefeito e governador. Só terá que tomar cuidado com o próprio novo aliado, Bolsonaro, que tem uma lista gigante de abandonar aliados que não lhe rendam louros ou se destaquem mais do que sua figura.
Richa com Bolsonaro, por fim, podem nacionalizar uma campanha que tendia para discussão de temas locais como transporte público, infraestrutura da cidade, desenvolvimento social, educação e saúde. Isso se Richa tiver que defender Bolsonaro e o levar ao programa eleitoral como padrinho. Ambos se vitimizando, evidentemente. Neste caso, é bom o PT ficar de olho, pois terá que ter uma candidatura comprometida em defender a democracia e o terceiro governo Lula.
A nacionalização da campanha, por outro lado, é tema para outro comentário, em que se incluirá o nome de Rosângela Moro. A ver.
*Manoel Ramires é jornalista
**As opiniões expressas nesse texto não representam necessariamente a posição do jornal Brasil de Fato Paraná
Edição: Pedro Carrano