Paraná

MULHERES EM LUTA

Mais de 500 mulheres de áreas de ocupação realizam marcha por direitos, no centro de Curitiba, e conseguem garantias

Ação foi organizada pela articulação Despejo Zero, como parte das mobilizações do Dia Internacional das Mulheres

Curitiba (PR) |
O fortalecimento das políticas públicas para o combate à fome também entrou no centro do debate - Juliana Barbosa

Com informações de Comunicação MST

Mais de 500 mulheres do campo e da cidade realizaram marcha por direitos e por melhores condições de vida, no centro de Curitiba.

A ação foi organizada pela articulação Despejo Zero, como parte das mobilizações do Dia Internacional das Mulheres. Uma audiência pública também foi realizada no Palácio das Araucárias na parte da tarde.

Com cartazes, faixas e gritos de ordem, a mobilização partiu da praça 19 de Dezembro e seguiu até a Praça Nossa Senhora de Salette, no Centro Cívico, com protagonismo de mulheres de ao menos 12 comunidades urbanas e do assentamento Contestado, do MST, na Lapa.

A ação foi organizada pela campanha Despejo Zero Paraná, formada a nível nacional por movimentos populares e entidades sociais que lutam pelo direito à terra, moradia e trabalho, agregando movimentos urbanos, indígena, quilombola, rurais, entre outros.

Desde a concentração do ato, no caminhão de som, as mulheres iam se desafiando, algumas pela primeira vez em um protesto, a subir no caminhão e falar sobre suas comunidades e suas dores e de outras mulheres que estavam representando.

Audiência

Após a marcha, cerca de 100 pessoas participaram de uma audiência pública com representantes do poder público local, estadual e federal.

Na abertura do espaço, depoimentos de algumas mulheres ilustraram a pauta de reivindicações entregue em mãos para cada autoridade presente. Entre as lutas centrais estão o direito à moradia e à terra, o fortalecimento das políticas de combate à fome, o acesso à direitos básicos como energia elétrica de qualidade, e o enfrentamento à violência.

Stéphanie, liderança do Movimento Popular por Moradia (MPM) e da ocupação Tiradentes II, afirmou que “Queremos nossos direitos, o que é para todos, pedimos que se quebre a ação de reintegração de posse, porque lá temos famílias moradoras, mulheres guerreiras”.

Roland Rutyna, superintendente de Diálogos e Interação Social do Paraná (SUDIS), confirmou que nos próximos dois meses não haverá despejos. A notícia animou as lideranças que retornaram às comunidades com a garantia de que até maio, mês da próxima audiência pública, vão poder dar atenção a outras demandas das comunidades. Rutyna ainda apresentou um primeiro resultado do mapeamento de conflitos fundiários feito pela Sudis, com predomínio de conflitos, de acordo com o estudo, em Curitiba, região metropolitana e litoral.

Já o desembargador Fernando Prazeres, presidente da Comissão de Conflitos Fundiários do Tribunal de Justiça do Paraná, aproveitou o espaço para falar sobre o papel da comissão, que realizou no período 400 audiências e 200 visitas técnicas em áreas em todo o Paraná. "Nosso foco é evitar o despejo, estamos em permanente negociação", resumiu o desembargador.


É a união das companheiras do campo na entrega para fortalecer a agricultura familiar e reforma agrária. Por outro lado, as comunidades passam a receber alimentos produzidos por essas comunidades / Juliana Barbosa

Combate à fome

O fortalecimento das políticas públicas para o combate à fome entrou no centro do debate. Sobre as cozinhas, Elessandra Barbosa da Silva, integrante da Frente de Organização dos Trabalhadores (FORT) e uma das lideranças da cozinha comunitária da vila Pantanal, no Alto Boqueirão, afirma que o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) no módulo Cozinhas Solidárias é importante e precisa avançar na infraestrutura e condição de trabalho nas cozinhas. “É muito trabalho, precisamos de remuneração, as mulheres precisam correr atrás também do prato de comida para os seus filhos”, afirma.

Adriana Oliveira, integrante da coordenação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e das Marmitas da Terra, coletivo que preparou as refeições para garantir o almoço de todas as participantes da marcha, acrescenta sobre a pauta: “A gente luta por ampliação das cozinhas que já existem, com equipamentos, e uma nova estruturação das cozinhas que as comunidades têm necessidade de instalar. É a união das companheiras do campo na entrega para fortalecer a agricultura familiar e reforma agrária. Por outro lado, as comunidades passam a receber alimentos produzidos por essas comunidades, alimentos saudáveis, agroecológicos”, explica.

Valmor Luiz Bordin, superintendente da Companhia Nacional de Abastecimento do Paraná (CONAB-PR), ressaltou a importância das cozinhas comunitárias e a vitória do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) direcionado para estes espaços. “O PAA cozinhas está acontecendo em Curitiba e Londrina e é importante que as lideranças femininas observem bem as diretrizes do decreto para poderem acessar o programa”.


“É muito trabalho, precisamos de remuneração, as mulheres precisam correr atrás também do prato de comida para os seus filhos”, afirma. / Juliana Barbosa

Ouvidoria

Sobre Ouvidoria Urbana para mediar os conflitos das ocupações junto ao governo federal, Marcelo Fragoso, da Secretaria Nacional de Diálogos Sociais e Articulação de Políticas Públicas da Secretaria Geral da presidência, garantiu que segue organizando junto aos Ministério das Cidades a criação desse canal de comunicação.

Ele aproveitou a oportunidade para ressaltar os programas sociais lançados por Lula neste mês de março, como o uso de imóveis da União sem uso sejam destinados para moradia.

Também estavam na mesa da audiência, Beatriz Fruet de Moraes, Juíza de Direito do Tribunal de Justiça do Paraná, representante da Corregedoria Nacional de Justiça, o superintendente regional do Incra no Paraná, Nilton Bezerra Guedes, a vereadora Giorgia Prates, Professora Josete e o deputado estadual Renato Freitas.

Organização unitária

A mobilização foi organizada pelo MST, pelo Movimento Popular por Moradia (MPM), pela Frente de Organização dos Trabalhadores (FORT), Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Instituto Democracia Popular (IDP), Movimento dos Trabalhadores por Direitos (MTD), Levante Popular da Juventude e Marmitas da Terra, ao lado de comunidades como Tiradentes II, Nova Esperança, Dona Cida, 29 de Março e Domitila, do MPM; Pontarola, Vila União, Pantanal, do FORT, ao lado das áreas Portelinha, Fortaleza, Guaporé, Independência Popular e Graciosa (Pinhais).

Ações em todo o Paraná nesta sexta-feira

O Dia Internacional das Mulheres, celebrado nesta sexta-feira (8), traz para o mês de março o foco das mobilizações e atividades pelo fim da violência de gênero e pelos direitos femininos.

No Paraná, marchas, formações, audiências e assembleias estão sendo preparadas por mulheres integrantes de movimentos populares, sindicatos e coletivos locais, de todas as regiões do estado.

A Frente Feminista puxa a marcha unificada, com concentração a partir das 15h na Praça Santos Andrade, centro da capital. O lema “Por uma cidade que nos mantenha viva, e um território que nos pertença” reivindica espaços seguros, direitos iguais e oportunidades justas.


Mulheres trabalhadoras falando de suas pautas concretas e de condições de vida / Juliana Barbosa

 

Edição: Pedro Carrano