O escritor Jeferson Tenório chamou de "inaceitável" e "antidemocrática" a determinação do governo Ratinho Junior (PSD) de recolhimento de todos os exemplares de "O avesso da pele" disponíveis em escolas da rede estadual em Curitiba. O ofício expedido pelo Núcleo Regional de Educação de Curitiba (NRE Curitiba) ordena a devolução dos livros até sexta (8).
"São atos violentos e que remotam dias sombrios do regime militar. Inaceitável uma atitude antidemocrática como essa em pleno 2024. Não vamos aceitar qualquer tipo de censura", escreveu Tenório.
Sem detalhes, o ofício do NRE Curitiba afirma que a medida é necessária pois a obra escrita por Tenório passará por "análise pedagógica". Em nota ao Brasil de Fato Paraná, a Secretaria de Estado da Educação (Seed) informou que "está conduzindo uma revisão pedagógica abrangente dos materiais incluídos no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) literário, inclusive da obra O Avesso da Pele."
Na publicação em sua rede social, ilustrada com a circular do NRE Curitiba, Tenório também chamou de inconstitucional a atitude do governo do Paraná. "É importante lembrar que nenhuma autoridade, seja ela diretora, secretário, vereador, deputado, governador ou presidente tem o poder de mandar recolher materiais pedagógicos de uma escola. É uma atitude inconstitucional", disse o escritor. "Não se pode decidir o que os alunos devem ou não ler com uma canetada", complementou.
Ataques contra a obra
Recentemente, tentativas de censura ao livro ganharam repercussão nacional, após uma diretora de escola do Rio Grande do Sul (RS) fazer interpretações equivocadas sobre a obra e publicar na internet um pedido para que os exemplares fossem recolhidos.
Tenório já havia se manifestado sobre o caso no RS, afirmando que as fake news são estratégias de desinformação da extrema-direita, que não se incomoda com o racismo, a violência policial e a morte de pessoas negras.
A análise da obra e inclusão no Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) aconteceu ainda na gestão Bolsonaro. O programa compra e distribui obras didáticas e literárias para as escolas públicas de todo o país. Os livros passam por uma rigorosa avaliação de especialistas e cada escola decide quais os títulos deseja receber.
Edição: Lia Bianchini