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Coluna

O ambiente do futebol e a conivência com a cultura machista

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Cuca foi anunciado como técnico do Athletico Paranaense - Reprodução/Rede Furacão
O futebol masculino se mostra ainda um ambiente de conivência com a cultura machista da sociedade

O Athletico confirmou na manhã desta segunda-feira (04) a contratação do técnico Cuca. Ele volta ao trabalho após passagem relâmpago pelo Corinthians. Isso porque a torcida do Timão não aceitou seu vínculo como treinador do time, já que Cuca foi condenado por abuso sexual de uma menor de idade, ocorrido em 1987, na Suíça.

No julgamento na Suíça, Cuca, Henrique e Eduardo foram condenados a 15 meses de prisão, pelos crimes de coação e ato sexual com menor. Em abril de 2023, a diretora do arquivo de Berna, Bárbara Studer, afirmou que o processo provava que havia sêmen de Cuca no corpo da vítima – e que a vítima o havia reconhecido durante a investigação do caso. No recurso para reabrir o caso, essas questões não foram analisadas. A decisão que anulou o caso considerou a falta de representação legal de Cuca durante o julgamento de 1989. O fato é que essa decisão não discutiu o mérito, mas apenas as questões processuais.

A Presidenta do Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras e deputada federal Gleisi Hoffmann fez uma declaração sobre o assunto nas redes sociais, dizendo quão absurdo é receber uma notícia dessa, de um "homem que foi acusado pela Justiça Suíça por manter relações sexuais com uma criança de 13 anos, crime previsto no art. 187 do Código Penal Suíço". É importante destacar que em todos os casos citados a deputada fez pronunciamentos e sempre se posicionou nessas pautas em defesa das vítimas.

A companheira Gleisi é uma grande referência na luta das mulheres e a sua fala me representa muito. O ambiente do futebol masculino se mostra ainda, infelizmente, como um ambiente de conivência com a cultura machista da sociedade. Daniel Alves, Robinho e Cuca são exemplos disso: mesmo com as condenações, ainda existem pessoas que defendem suas reputações e desacreditam as mulheres que se revoltam com estes casos criminosos. Em muitos casos, nenhum jogador vem a publico repudiar tais atos de violência contra as mulheres e muitos ainda convivem de forma amigável com esses homens abusadores.

Lutamos e continuaremos lutando até que nós sejamos livres e os homens também estejam comprometidos com o enfrentamento à violência contra a mulher. Mas, sobretudo, momentaneamente vamos às ruas, no dia 8 de março!

*Giovanna Viola é bacharel em Direito, comunicadora popular, militante do Movimento Feminista e do Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras. Pesquisa sobre a resistência e luta das mulheres no futebol.

**Este é um texto de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Lia Bianchini