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Coluna

Um verdadeiro debate ou deixando Ducci nas sombras?

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"a discussão em Curitiba é de outra natureza: é entre candidatura própria ou um candidato explicitamente de direita" - Divulgação PT
Ducci se posicionou e votou pela PEC do teto de gastos

O jornal Brasil de Fato Paraná, em sua edição online de 26 de fevereiro, trouxe uma coluna de debate intitulada: “O PT deve ter candidatura própria?”. O assunto era a candidatura própria ou não do partido para concorrer à prefeitura de Curitiba, em outubro deste ano.

O debatedor que defendeu que o PT não tenha candidato próprio – embora no texto ele tenha preferido não dizer isso explicitamente - foi o deputado estadual e presidente do partido no Paraná, Arilson Chiorato.

Num documento encharcado de abstrações, Chiorato fala de uma necessária candidatura não petista de uma frente ampla muito comprometida com as demandas sociais. Essa candidatura seria a “construção de um projeto político alternativo ao bolsonarismo” para “frear o lavajatismo na política e vencer o ratismo no Paraná”. O autor, no entanto, prefere não dizer aos leitores – porque isso certamente estragaria todo o cenário encantatório de seu texto – que o candidato que defende que os petistas apoiem é nada mais, nada menos, que Luciano Ducci.

Luciano Ducci que, enquanto deputado federal, votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff, apoiou Temer e Bolsonaro e recentemente ajudou a derrubar o veto de Lula ao marco temporal que abre as portas para legitimar e aumentar a grilagem de terras indígenas. Isso, sem contar sua atuação em favor das elites econômicas enquanto foi prefeito de Curitiba.

No que diz respeito a frear o lavajatismo com Ducci, lamento ter que relembrar ao deputado Arilson um trecho do próprio Brasil de Fato, edição de 17 de janeiro deste ano:

“PT e Ducci estiveram em lados opostos também em outro momento chave da história recente do Brasil: a Operação Lava Jato, que levou à prisão de Lula e à consequente eleição de Jair Bolsonaro à presidência da República (...) Ducci chamou a operação de ‘maior transformação moral da história do Brasil’ e ‘orgulho de todos os brasileiros’. O deputado também enalteceu o então juiz Sergio Moro, que hoje sabe-se ter atuado de forma parcial e persecutória ao longo da Operação:

‘A cidade [Curitiba] é diariamente lembrada por ser a sede da Operação Lava Jato e onde mora o Juiz Federal Sergio Moro. [...] É em Curitiba que a política está sendo passada a limpo. E é de Curitiba que os brasileiros estão resgatando a esperança de um futuro melhor para o nosso País’, enalteceu o deputado´”.

Ducci ainda se posicionou e votou pela PEC do teto de gastos que permitiu a Temer e Bolsonaro imprimirem uma forte política de desmonte dos serviços públicos, inclusive durante a pandemia do COVID. Bondoso, deu aos ruralistas uma lei que alarga o direito dos latifundiários ao porte de armas para além das sedes das fazendas. E quanto a estar implicado com o governo Ratinho, não é novidade sequer para as capivaras do parque Barigui.

Por outro lado, coube à deputada federal Dartora e ao advogado Matteus Henrique defenderem em comum a candidatura própria.    

Esse texto de Dartora e Matteus elenca uma série de verdadeiros e importantes motivos políticos para que o PT tenha uma candidatura própria em outubro de 2024. Contudo, omite-se de entrar naquilo que é o fundo do debate: o oposto da candidatura própria é o apoio à candidatura de Luciano Ducci. Neste sentido, ele colabora com a jogada de Arilson e seu documento, que é o de não explicar que a verdadeira discussão não é candidatura própria do PT ou não, e sim entre uma candidatura própria do PT ou engajar-se na campanha de Ducci. O que Arilson faz é uma jogada de prestidigitador (de mágico) que mostra o ramalhete de flores ou o coelho bonito, mas, desvia o olhar do público da cartola, de onde supostamente brotaram as lindezas que aparecem em suas mãos. 

Seria legítimo o PT discutir apoiar a candidatura de outro partido na órbita dos trabalhadores e dos oprimidos (PSOL, PCdoB, Unidade Popular, etc). Assim como seria legitimo esses partidos colocarem-se a questão de apoiar um candidato do PT. Por exemplo, acaba de chegar a notícia de que o PSOL resolveu apoiar Maria do Rosário, do PT, para encabeçar a chapa à prefeitura de Porto Alegre.

Porém, repito, a discussão em Curitiba é de outra natureza: é entre candidatura própria ou um candidato explicitamente de direita. Em minha opinião, o texto de Dartora e Matteus não vai ao ponto, esquiva-se do combate direto e reto contra Ducci e deixa muitos dos seus leitores sem enxergar o tamanho do abismo por detrás de uma eventual decisão de o PT em não ter candidatura na disputa para a prefeitura.

A meu ver, essa fragilidade do texto estriba-se no fato de que Dartora e Matteus não quererem (ou hesitarem) queimar as pontes a fim de deixar aberta a possibilidade de um eventual apoio futuro a Ducci, seja no primeiro turno (se assim decidir a maioria do Diretório Municipal) ou no segundo turno, no caso do PT ficar pelo caminho. Esse etapismo na posição de Dartora e Matteus cria uma assepsia no debate, deixa Ducci escondido nas sombras, o que dá a Arilson a oportunidade de fazer parecer que seu truque simplista é uma boa mágica.

*Anísio Garcez Homem é militante do PT, escritor e autor do livro LRF - uma lei antissocial

**As opiniões expressas nesse texto não representam necessariamente a posição do jornal Brasil de Fato Paraná

Edição: Pedro Carrano