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Escolha por candidatura própria ou aliança em Curitiba deve se pautar por critérios e compromissos programáticos

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É preciso afastar alguns fantasmas do debate para que ele possa ocorrer de forma mais madura - Câmara Municipal de Curitiba
O mais estratégico parece ser estipular quais as condições necessárias para uma candidatura

Artigo escrito com Welitton Gerolane – advogado popular e membro do Diretório Municipal do PT Curitiba.

 

O diretório municipal do PT de Curitiba vai se reunir no próximo sábado pela manhã para deliberar se o partido terá candidatura própria ou se construirá uma aliança com alguns dos partidos que compõe a base do governo lula, reivindicando a indicação do candidato ou candidata à vice na chapa do deputado federal Luciano Ducci (PSB).

O regimento do encontro aprovado pela executiva nacional do partido, entretanto, estipula que qualquer das decisões apenas terá efetividade se aprovado por dois terços dos membros do diretório municipal presentes na reunião. Se nenhuma das propostas alcançar essa quantidade de votos, um encontro mais amplo deverá ser agendado para que a militância do partido possa decidir o impasse do diretório.

Em que pese a relevância de cada argumento apresentado por ambos os grupos que disputam a decisão, vemos que a discussão tem se superficializado em torno de uma falsa dicotomia. As ideias são apresentadas como se justificassem uma escolha óbvia, o que obviamente não dão conta de fazer, tanto é que ninguém consegue cravar ainda qual será a decisão.

É evidente que, como tudo na política interna do PT, não é apenas a escolha da tática eleitoral municipal que está em jogo. Outras disputas, desde o processo para a escolha da próxima direção municipal até disputas nacionais do PT, acabam por ora por atrapalhar o melhor entendimento coletivo. Entretanto, este artigo pretende deixar de lado esses entraves e dialogar apenas com os argumentos que se contrapõem em relação à escolha da tática eleitoral do PT Curitiba para 2024.

É preciso afastar alguns fantasmas do debate para que ele possa ocorrer de forma mais madura e quem sabe alcançar uma maioria ou talvez até um consenso dos membros do diretório do partido.

O primeiro deles é o de que apenas e puramente a construção de uma frente ampla, indiscriminada, é capaz de enfrentar o Bolsonarismo, afinal de contas o que nos diferencia de todos os outros partidos e do que foi o governo Bolsonaro é, acima de tudo, a firmeza ideológica que o PT carrega desde sua fundação. São mais de 44 anos em defesa da classe trabalhadora e de um projeto nacional desenvolvimentista aliado a uma profunda transferência de renda capaz de diminuir e enfrentar a pobreza e as desigualdades no país. Uma frente ampla com quem não compactua com esses valores pode não apenas deixar de enfrentar o Bolsonarismo como alimentá-lo no submundo da política para que se rearticule.

O segundo, igualmente preocupante, é o de que todo mundo que um dia foi nosso adversário é necessariamente nosso inimigo ou aliado do bolsonarismo. Esse sentimento, se tivesse sido majoritário em 2022, teria tido capacidade de, sozinho, reeleger o Bolsonaro. Afinal de contas sem a presença do Alckmin na frente capitaneada por Lula, a pequena diferença de votos que nos fez vencer poderia ter se esvaído ou quem sabe até se invertido. Não só ele, mas muitas outras lideranças como Simone Tebet, Eduardo Paes, Cid Gomes, Márcio França, FHC e partidos inteiros como o PSB e PROS estiveram conosco, aliados não só a Lula, mas aos pontos fundamentais do nosso programa político.

É cirúrgica a avaliação de que o governo lula mantém apenas em torno de 130 deputados federais aliados ideologicamente ao governo e que os demais precisam ser convencidos ponto a ponto, muitas vezes através de emendas e de abertura de espaços pragmáticos, mas esta constatação não pode desconsiderar que nesses 130 estão inclusos os deputados do PT, PCdoB, PV, Rede, PSOL, PDT e PSB. O PT sozinho elegeu penas 69 deputados federais em 2022.

Desta forma, é razoável afirmar que tanto uma candidatura própria como uma candidatura capitaneada por alguém desses partidos tem capacidade de representar a polarização ideológica entre a frente que o PT constrói nacionalmente e a que se articula em torno de Bolsonaro. Desde que, claro, firmada em torno de compromissos programáticos relevantes para a cidade.

Em outra frente argumentativa vejo companheiros e companheiras defendendo como absoluto o argumento de que apenas com candidatura majoritária própria é que temos condições de aumentar a bancada de vereadores e vereadoras do PT e, confesso, vejo bastante fundamento, mas não é uma regra sem exceções.

O PT em 2012 sem candidatura própria elegeu três vereadores. A Professora Josete fez 9.208 votos e outros dois companheiros se elegeram com votações expressivas. Os primeiros suplentes do PT também tiveram boas votações. Em contraposição, em 2016 com candidatura própria muito ideológica, diminuímos duas cadeiras e reelegemos apenas uma vereadora. Não estamos sustentando que sem candidatura própria se elege mais vereadores, sequer acreditamos nisso, mas é evidente que o principal elemento pra eleger vereadores e vereadoras, além dos ventos da conjuntura, é montar uma boa chapa proporcional. A chapa majoritária pode ou não ajudar, mas não é determinante.

Em um cenário em que as pessoas cada vez mais dominam o sistema de votação e as campanhas chegam em mais e mais pessoas, os votos em legenda não tem variado tanto quanto antes quando se tem ou não candidatura majoritária, mas estar em uma das chapas que polariza o debate político da cidade, independente do partido da cabeça, abre a possibilidade para que os candidatos polarizem. Estar na chapa de quem vai ao segundo turno contra o candidato da direita pode ser mais importante do que o isolamento em uma candidatura que não decole.

Dessa maneira, o mais estratégico para o PT parece ser estipular quais as condições necessárias para ter uma candidatura própria e quais condições para construir uma frente mais ampla.

No caso da candidatura própria, deve ser uma candidatura capaz de aglutinar uma base partidária mais ampla do que apenas a Federação Brasil da Esperança. Precisa ela (a candidatura majoritária) se envolver na articulação da chapa de vereadores e vereadoras, construir com as zonais do partido, com o movimento sindical, e movimentos sociais um plano de governo inovador, programático que reconstrua o planejamento urbano de Curitiba incluindo os trabalhadores e a periferia numa perspectiva de acesso à cidade e de melhora das condições materiais de existência do nosso povo.

Enquanto aliança, deve ser capitaneada por um partido da base mais próxima do governo Lula, com alguém que, embora possa ter estado em trincheiras diferentes da nossa em alguns momentos, pelo menos tenha sido contra as reformas trabalhista e da previdência, mas principalmente que aceite defender no seu programa de governo e eventual gestão as principais políticas do nosso partido, em especial as políticas para as mulheres, negros e negras, a comunidade LGBTQIA+, juventude, as políticas de moradia, de defesa do serviço público municipal.

Além disso, tem de ser alguém que abra espaço para o PT na candidatura a vice e na eventual gestão, afinal de contas ninguém fará por nós e o governo Lula garante espaço aos aliados para que governem junto - esta é a retribuição merecida pelo PT.

Assim sendo, as condições que se mostrarem mais bem construídas é que devem definir a tática eleitoral do PT.

 

*Ana Júlia Ribeiro, deputada estadual (PT - PR), foi uma das lideranças surgidas no processo de ocupação de escolas, em 2016. É advogada

**As opiniões expressas nesse texto não representam necessariamente a posição do jornal Brasil de Fato Paraná

Edição: Pedro Carrano