A Jornada Latinoamericana y Caribeña de Integración de los Pueblos, realizada em Foz do Iguaçu, entra hoje, dia 22 de fevereiro, no seu segundo dia de debates e atividades.
Tem sido um espaço intenso de reflexões, troca de experiências e posicionamento político sobre temas imediatos da conjuntura – como o apoio ao povo Palestino, cubano, entre outros.
Estão presentes movimentos, partidos, centrais sindicais e delegações da Argentina, Paraguai, Colômbia, Panamá, República Dominicana, entre 20 países.
As mesas temáticas, na parte da tarde, deram um panorama de resistências que ocorrem no continente. Uma das experiências pouco conhecidas, e muito intensas, está na divisa entre dois continentes, entre a América do Sul e a América Central, no istmo do Panamá.
Damares Sanches, integrante do Movimiento de Afectados por Represas de América Latina (MAR), contextualizou o momento de resistência no país contra a expansão das mineradoras.
No relato de Sanches, o que iniciou com uma campanha de educação popular sobre o tema da exploração mineral, com poucas pessoas, massificou rapidamente quando foi pautado no congresso do país, em 2022, que aprovava contrato com mineradoras canadenses em um território de 17 mil hectares, por 60 anos. O que desencadeou uma importante luta popular e sindical.
A pauta denunciava também os altos preços dos combustíveis, da cesta básica, exigia melhores salários e redução do custo da tarifa elétrica. O movimento também apresentava a demanda de 6% do Produto Interno Bruto (PIB) destinado para investimentos em educação.
“Defendemos nossos rios, que fluem ao mar, necessitamos de água para sobrevivência, não podemos ficar calados. Eles criam a crise. Para que a gente entregue nossos recursos. Ao lado do Canal do Panamá há pessoas passando sede”, afirmou.
Centralidade no mundo do trabalho
Em uma mesa composta por mulheres, como tem sido marcante em todo o evento, Natalia Lobo, da Marcha Mundial de Mulheres, falou sobre o atual momento de precarização da classe trabalhadora, o que exige da esquerda seguir em suas lutas assumindo o tema do trabalho como central.
Contra a mercantilização do debate ambiental
Já a dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Bárbara Loureiro, fez a crítica à chamada “agenda verde capitalista”, e à lógica da descarbonização que amplia o controle sobre as terras e não supera uma lógica de mercantilização, “o que gera muitos conflitos ambientais”.
“É preciso pensar a superação do modelo capitalista. Modelo que enfrente as novas formas de exploração”, afirma.
Privatização dos alimentos
Na mesma mesa, a argentina Yanina Settembrino aponta uma fase do capitalismo dominada pelas corporações, na qual “O que interessa é reproduzir o capital por meio de commodities” e aponta como o controle das transnacionais sobre os produtos alimentares é responsável na Argentina por uma inflação “baseada em alimentos”, afirma.
“Não é só uma transferência de recursos, porque não controlamos o sistema alimentar de nossos povos.
Integração e diplomacia dos povos
Participou também do espaço a atual diretora-executiva do Instituto de Políticas Públicas em Direitos Humanos do Mercosul, Andressa Caldas, apontando a necessidade de integração, articulação mais forte entre as organizações continentais, lembrando o símbolo da lutadora do povo hondurenha, Berta Cáceres.
Caldas criticou a “lógica de competição que o capitalismo nos impõe. Ideia de diplomacia dos povos, essa diplomacia deve prevalecer nos povos. Mecanismos organizadores de instrumentos que possibilitem o olhar sobre grandes projetos que afetam a vida de nossos povos”, afirmou.
Edição: Lucas Botelho