Que ao longo dos próximos dias possamos estender toda a nossa devoção ao brincar sem se preocupar
Para certa parcela da sociedade brasileira o carnaval é um empecilho à economia e a civilidade, há quem diga que “O Brasil é bagunça” ou que “Só funciona depois do Carnaval”, mas quantos de nós voltamos aos nossos postos de trabalho ainda na primeira semana de janeiro?
Esse ano – assim como nos anteriores – tivemos polêmicas em varias regiões do Brasil, o prefeito de Campina Grande (PB) Bruno Cunha (União Brasil) tentou decretar o fim do carnaval, não deu certo, foi obrigado a revogar, em São Paulo, Tarcísio (Republicanos) vai mandar PMs a paisana para às ruas causando risco aos foliões, aqui em Curitiba uma frente parlamentar foi necessária para pressionar o poder pública à conceder alvará aos ambulantes. Isso não é de hoje, em 1910 quando o Barão do Rio Branco morreu, o governo de Hermes da Fonseca adiou o carnaval para julho, sabe o que aconteceu? Dois carnavais.
Por isso, em tempo fazemos a provocação, sair por ai a cantar, dançar e festar incomoda tanto porque somos um povo constituído através do trabalho forçado e da negação do ócio? Se a lei da vadiagem imperou por tantos anos nessas terras, não haveria de ser o carnaval sempre a repactuação coletiva do direito à felicidade? E vamos além, o Carnaval gera trabalho e renda, muita renda, afinal somos ou não conhecidos como o país do Samba?
Se o direito de não fazer nada foi concebido apenas ao sinhozinho que brincava no lombo da criança preta feita de cavalo, foi na Cabula, nos jongos, sambas de roda e capoeiras que subvertemos a ordem dada. Se trabalhamos de janeiro a janeiro, que os quatro dias de carnaval sejam de puro ócio e vadiagem sem remorso.
Que ao longo dos próximos dias possamos estender toda a nossa devoção ao brincar sem se preocupar, em ser feliz e se encontrar na rua com a vadiagem de nossos ancestrais que ousaram sambar, capoeirar e assim construíram nossa cultura popular
Edição: Lucas Botelho