Paraná

PROTESTO INDÍGENA

Indígenas Avá-Guarani são feridos em Guaíra (PR) e Ministério dos Povos Indígenas pede atuação da Força Nacional de Segurança Pública

Secretário de Segurança Pública do Paraná, Hudson Leôncio, esteve em Guaíra no dia 11 (quinta) garantindo mediação

Toledo (PR) |
Após os disparos, integrantes da comunidade saíram em busca dos autores - Divulgação

No dia 10 de janeiro (quarta) indivíduos armados atacaram uma aldeia avá-guarani na cidade de Guaíra, na região oeste do Paraná, deixando feridas quatro pessoas, dentre elas a liderança Vicenta Martines, que se encontra internada no Hospital Bom Jesus em Toledo, e o sacerdote da aldeia.

O ataque é um desdobramento de conflito que se arrasta por décadas e teve mais um capítulo aberto recentemente, quando o movimento indígena, em razão da paralisia das autoridades sobre a demarcação, realizaram retomada de terra em espaços contíguos às aldeias Y’hovy e Yvyju Avary, de forma a garantir uma melhor distribuição das famílias no território.

De acordo com o relato de lideranças guarani, o ataque ocorreu no início da noite, quando a aldeia se preparava para uma celebração religiosa. Um grupo de homens armados teriam se atocaiado perto do local da reza e começado a disparar contra as pessoas no início do evento.

Após os disparos, integrantes da comunidade saíram em busca dos autores, e um deles foi capturado, tendo sido mantido preso na aldeia até a chegada da polícia, mesmo em meio aos ânimos exaltados dos locais, pelo fato de que nada estava sendo feito com relação aos feridos na aldeia.

Nota do Partido Socialismo e Liberdade (Psol) do Paraná critica a demora policial em prestar assistência no local. “É igualmente preocupante observar a falta de ação efetiva por parte da Polícia Federal, que se deslocou tardiamente para a área e sem prestar a devida assistência aos indígenas feridos. Exigimos uma resposta imediata e eficaz das autoridades competentes para garantir a segurança das comunidades Avá-Guarani”, afirma a nota estadual do partido.

Relatos das lideranças também informam que, especificamente, no dia do ataque, a polícia teria retirado a ronda e o cordão de segurança que isolava a área da ocupação desde os primeiros conflitos, e que tal fato teria sido aproveitado pelos agressores.

O portal G1 divulgou que o secretário de Segurança Pública do Paraná, Hudson Leôncio, esteve em Guaíra no dia 11 (quinta), onde se reuniu com representantes da prefeitura e das polícias Civil e Militar, segundo ele, "entender a realidade da região", com o intuito, nas palavras do secretário, preservar as vidas tanto dos produtores rurais quanto dos índios que estão nessa situação", afirmou.


Ministério dos Povos Indígenas emite nota

Na tarde de hoje (11), o Ministério dos Povos Indígenas emitiu uma nota condenando os ataques, e informando que foi autorizado o uso da Força Nacional de Segurança Pública para pacificação da região. O pedido havia sido feito no dia 27 de dezembro de 2023, e foi autorizado hoje pelo Ministério da Justiça.

Confira a nota na íntegra:

“Famílias indígenas do povo Avá-Guarani foram alvo de novo ataque na noite de quarta-feira (10), no município de Guaíra, oeste do Paraná. Conforme as denúncias, a ação foi organizada por fazendeiros. Três indígenas foram alvejados e estão hospitalizados.

No dia 21 de dezembro de 2023, os Avá-Guarani da Terra Indígena Tekoha Guasu Guavira, que está em processo de regularização fundiária, realizaram duas ações de retomada nas aldeias Y’hovy e Yvyju Avary. Em seguida, passaram a sofrer graves situações de ameaças e agressões por parte de grupos de não indígenas.

Nos dias 23 e 24 de dezembro, respectivamente, as aldeias Y’hovy e Yvyju Avary foram atacadas com emprego de milícia rural privada. Tão logo foi acionado, o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) realizou interlocuções com as lideranças indígenas, por meio da Comissão Guarani Yvyrupá (CGY), e gestões junto à Polícia Federal (PF), que compareceu ao local. No ataque mais recente, o mesmo protocolo foi seguido pelo MPI, garantindo novamente a presença da PF para fazer cessar a violência.

Considerando a escalada do conflito na região, marcada por recorrente violações de direitos dos Avá-Guarani, no dia 27 de dezembro, o MPI solicitou ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) a atuação da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) na área, medida que acaba de ser autorizada para garantir a segurança dos indígenas”.

 


Cerca de dois mil índios habitam a região de Guaíra e Terra Roxa / Júlio Carignano

Edição: Pedro Carrano